No dia 03/04,
após um dia de trabalho, saí de casa para assistir aquele que com certeza foi o
maior espetáculo que já vi: o show da
turnê the wall, de Roger Waters; ex- baixista
do Pink Floyd. Após uma verdadeira
odisseia de quase quatro horas para chegar a o estádio do Morumbi, cerca de dez
minutos antes do começo do show, fui surpreendido a cada segundo que se passava
durante as duas horas de show que se seguiram, um espetáculo surpreendente e
grandioso em todos os sentidos .
Na sua segunda apresentação em São Paulo,
Roger Waters presenteou o público que
lotou o estádio do Morumbi com a apresentação teatral do clássico the wall de
1979, um álbum conceitual que aborda questões como a perda do pai, a opressão
de uma mãe super protetora e a humilhação dos professores, tudo isso junto para
expor a face de uma sociedade consumista e opressora que sufoca os valores
individuais. O tema do álbum é centrado no personagem Pink, inspirado no próprio
Roger, que, após a perda do pai na segunda guerra mundial, vê-se oprimido por
uma mãe controladora, além de ser humilhado na escola por professores que o
ridicularizam pela sua criatividade poética, o que vai contra os valores de uma
sociedade centrada nos valores de mercado. Qualquer semelhança com o mundo real
não é mera coincidência.
Nessa segunda montagem dessa espetacular
ópera rock, que foi exibida pela primeira vez
na Alemanha , em 1990, e contou com a participação de diversos artistas
como Scorpions, Van Morrison, Cyndi Lauper, entre outros, Roger trouxe para o
Brasil uma estrutura gigantesca que contava com um palco de 150 metros de
comprimento e 15 metros de altura em
forma de um muro que funcionava como telão no qual eram apresentados imagens em
alta definição que traduziam em imagens o conteúdo temático de cada uma das canções do álbum. A abertura apoteótica do show ficou por conta do clássico in the
flesh? , que também abre o álbum, e daí por diante o público foi cada vez mais
surpreendido por uma banda afinadíssima e no comando um senhor que esbanjou
talento e um carisma atípico para um britânico. É difícil pontuar o momento
alto do show, haja vista que este foi perfeito como um todo, porém, se tivesse
que citar alguns diria que um dos mais emocionantes foi a exibição do clássico
another brick in the wall, com a participação do coral de crianças usando
camisas com a mensagem “ Fear builds walls” (o medo constrói muros),
além de outros como o discurso de Roger, em português claro; apesar do forte
sotaque britânico, no qual ele dedicou o show a Jean Charles de Meneses, morto
em Londres após ser confundido com um terrorista, e sua família e sua busca
pela verdade, e todas as pessoas que são vítimas do terrorismo de Estado.
A trajetória do personagem Pink, desde que entra para um grupo de rock, seu
casamento com uma fã e a separação que o leva a um processo de isolamento
social que é representado
metaforicamente pela construção de um muro, foi inspirada na história do
próprio Roger que, decepcionado com o comportamento de um fã, imaginou-se
construindo um muro ente ele e o plateia. Na apresentação do dia 03/04 cada
momento da trajetória do personagem foi acompanhada por uma performance
magistral de Roger Waters reforçado por um
show de imagens e efeitos visuais
carregados de críticas a tudo que oprime: religião, consumismo, sistemas
políticos, etc. Vale destacar também o
porco voador com frases como “muita fé e
pouca luta”,” povo calado é povo dominado” que muito dizem sobre a
sociedade brasileira.
Em suma posso afirmar que, para um
verdadeiro fã do Pink Floyd, o show foi impecável, algo digno de ficar na
memória como um daqueles momentos que
com certeza marcam a nossa existência e lhe dão algum sentido, o que só é possível
através da arte. Sem dúvida presenciei O
MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA.
(Texto: Nilton Aquino)
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