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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Renato Russo – The Stonewall Celebration Concert








Como a maioria das pessoas que eram jovens entre os anos 80 e 90, eu também era fã da Legião Urbana. Desde a morte de Renato Russo, até os dias de hoje, ouvir as músicas da banda se tornou algo involuntário devido à onipresença das canções em todas as mídias, incontáveis regravações por artistas de diversos estilos diferentes e mais um punhado de tributos e reuniões da banda. Com essa notoriedade infinita, escrever sobre a banda brasiliense pode ser, para muitos, “chover no molhado”.
Eu mesmo devo admitir que não ouço os discos da banda há muito tempo. E faz muito tempo que prefiro ouvir os álbuns em idiomas diferentes que Russo gravou entre 94 e 96: The Stonewall Celebration Concert, em inglês e Equilíbrio Distante em italiano. O primeiro eu considero ainda mais importante.
Em 1994 me lembro do trio no programa Jô Soares Onze e meia. Eles ainda estavam divulgando O Descobrimento do Brasil. Mas o Renato deu uma cópia do CD solo que estava lançando. Meses depois, uma novela da Globo tinha uma música dele na trilha sonora. Achei estranho o som. Uma amiga nossa que era a mais fanática pelo grupo comprou o CD. Peguei emprestado, tentei ouvir e falei: “não dá”. Aquilo não descia pra quem ouvia Legião, Alice in Chains, Guns n´Roses...
Quase dois anos depois, um grande amigo insistiu para que eu ouvisse com mais atenção e ainda umas recomendações de algumas faixas. A partir daí minha opinião começou a mudar.
A grande prioridade do projeto solo de Renato Russo era homenagear clássicos da canção popular norte americana, famosas pelos seus compositores como Stephen Sondheim e Irving Berlin. Mas também há algumas exceções, de artistas mais contemporâneos, como Garth Brooks.No caso de algumas mais clássicas, o som se resume à voz e piano. É o caso de “If I loved You”, curta, mas poderosa; “Say It Isn’t  So”, voz dramática, piano dramático.
“Paper of Pins” é uma canção tradicional americana, bobinha, parece infantil. “Close the door lightly when you go” acredito que seja uma canção Country bem antiga, bem acústica, Renato chega a forçar um sotaque caipira. “When You Wish Upon a Star” é a famosa canção do Pinocchio da Dysney. “Miss Celie’s Blues” é um Jazz em que Russo mete um vozeirão de negro. Uma composição de Quincy Jones e Lionel Richie. “Lets Face the Music and Dance”, de Irving Berlin é a voz de Russo por cima do arranjo original da época. Ou reproduziram um som semelhante. Me lembro que o cantor falou sobre essa música na entrevista para o Jô.
“I Get Along Without You Very Well” é uma balada acústica  com sua voz mais doce e serena. Parece Legião Urbana, uma das poucas. “Somewhere In my Broken Heart” é uma balada Country melosa, daquelas que você ouve duas vezes e parece que ouviu a vida toda. “Cherish” é aquele clássico da Madonna que, então, era recente. Aqui, completamente acústica. Meu amigo disse “ele matou o pop da música”. E ele estava elogiando. ”Cathedral Song”, de Tanita Tikaram foi gravada por ele antes da versão em português da Zélia Duncan explodir no Brasil inteiro. “And So It Goes” é de Billy Joel, um artista que aprecio muito, mas não conheço essa canção dele. É bem dramática, com sintetizadores. “Old Friend” é uma bela canção sobre amizade e os anos que passam muito rápido. “If You See Him Say Hello” é de Bob Dylan, o artista que está em todos os discos de regravações. Simplesmente perfeita, com piano e violão, uma das mais alegres  e roqueiras do disco.
“Clothes of Sand”, de Nick Drake, acrescenta mistério à canção de forma que tinha um formato bem simples. A cobriram com um arranjo sofisticado, mas ainda assim é curtinha, mas um grande momento. “The Ballad of the Sad Young Man” é o momento mais gay do disco. Mais uma que parece ter saído de um musical, deve ser. Uma canção boêmia, ele parece cantar como um bêbado. O piano, o sintetizador, a voz...simplesmente de arrepiar. “Love is” é uma letra bem simples, repetitiva, tolinha até. Mas os ricos arranjos que imitam acordeom enriquecem a canção.  “If Tomorrow Never Comes”, do Rei do Country Garth Brooks, é uma balada épica que na época havia se tornado minha segunda favorita. Com o passar dos anos passei a acha-la um pouco melosa. Mas é uma grande performance.
“Send In the Clouds” abre o disco. É a tal canção da novela. Que voz. Ora potente, ora suave. Acompanhada do belíssimo piano. “Somewhere”, assim como “Send In The Clouds” é de Stephen Sondheim. Canção do filme “Amor Sublime Amor” que atravessará gerações.  Uma performance magnifica do Sr. Carlos Trilha no piano e programações. E o que dizer do vocal de Russo nessa canção? Emoção a flor da pele. Chegamos a “The Heart of the Matter” da carreira solo de  Don Henley, lenda do Eagles. Não sei se ele ouviu a versão do Renato. Se sim, deveria reconhecer que essa é superior. Tornou-se uma balada épica arranjada no sintetizador, que vai crescendo até chegar num clímax intenso. Uma interpretação muito emocionante que vai da melancolia ao sofrimento, do inconformismo à esperança.
Para aqueles que conhecem o álbum e não entenderam a ordem que apresentei das canções, estão na minha ordem de preferencia.
O título do disco se refere a protestos homossexuais que ocorreram  em Nova Iorque no ano de 1969. Parte dos lucros obtidos foram destinados a entidades sociais.

Carlos Trilha toca piano e é responsável pelas programações eletrônicas. Ele acompanhou Russo também em Equilibrio Distante.


(Texto: Francisco oliveira)

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