Como a maioria das pessoas que eram
jovens entre os anos 80 e 90, eu também era fã da Legião Urbana. Desde a morte
de Renato Russo, até os dias de hoje, ouvir as músicas da banda se tornou algo
involuntário devido à onipresença das canções em todas as mídias, incontáveis
regravações por artistas de diversos estilos diferentes e mais um punhado de
tributos e reuniões da banda. Com essa notoriedade infinita, escrever sobre a
banda brasiliense pode ser, para muitos, “chover no molhado”.
Eu mesmo devo admitir que não ouço os
discos da banda há muito tempo. E faz muito tempo que prefiro ouvir os álbuns
em idiomas diferentes que Russo gravou entre 94 e 96: The Stonewall Celebration Concert, em inglês e Equilíbrio Distante em italiano. O
primeiro eu considero ainda mais importante.
Em 1994 me lembro do trio no programa
Jô Soares Onze e meia. Eles ainda estavam divulgando O Descobrimento do Brasil. Mas o Renato deu uma cópia do CD solo
que estava lançando. Meses depois, uma novela da Globo tinha uma música dele na
trilha sonora. Achei estranho o som. Uma amiga nossa que era a mais fanática
pelo grupo comprou o CD. Peguei emprestado, tentei ouvir e falei: “não dá”.
Aquilo não descia pra quem ouvia Legião, Alice in Chains, Guns n´Roses...
Quase dois anos depois, um grande
amigo insistiu para que eu ouvisse com mais atenção e ainda umas recomendações
de algumas faixas. A partir daí minha opinião começou a mudar.
A grande prioridade do projeto solo de
Renato Russo era homenagear clássicos da canção popular norte americana,
famosas pelos seus compositores como Stephen Sondheim e Irving Berlin. Mas
também há algumas exceções, de artistas mais contemporâneos, como Garth Brooks.No
caso de algumas mais clássicas, o som se resume à voz e piano. É o caso de “If
I loved You”, curta, mas poderosa; “Say It Isn’t So”, voz dramática, piano dramático.
“Paper of Pins” é uma canção
tradicional americana, bobinha, parece infantil. “Close the door lightly when
you go” acredito que seja uma canção Country bem antiga, bem acústica, Renato
chega a forçar um sotaque caipira. “When You Wish Upon a Star” é a famosa
canção do Pinocchio da Dysney. “Miss Celie’s Blues” é um Jazz em que Russo mete
um vozeirão de negro. Uma composição de Quincy Jones e Lionel Richie. “Lets
Face the Music and Dance”, de Irving Berlin é a voz de Russo por cima do
arranjo original da época. Ou reproduziram um som semelhante. Me lembro que o
cantor falou sobre essa música na entrevista para o Jô.
“I Get Along Without You Very Well” é
uma balada acústica com sua voz mais
doce e serena. Parece Legião Urbana, uma das poucas. “Somewhere In my Broken
Heart” é uma balada Country melosa, daquelas que você ouve duas vezes e parece
que ouviu a vida toda. “Cherish” é aquele clássico da Madonna que, então, era
recente. Aqui, completamente acústica. Meu amigo disse “ele matou o pop da
música”. E ele estava elogiando. ”Cathedral Song”, de Tanita Tikaram foi
gravada por ele antes da versão em português da Zélia Duncan explodir no Brasil
inteiro. “And So It Goes” é de Billy Joel, um artista que aprecio muito, mas
não conheço essa canção dele. É bem dramática, com sintetizadores. “Old Friend”
é uma bela canção sobre amizade e os anos que passam muito rápido. “If You See
Him Say Hello” é de Bob Dylan, o artista que está em todos os discos de
regravações. Simplesmente perfeita, com piano e violão, uma das mais
alegres e roqueiras do disco.
“Clothes of Sand”, de Nick Drake,
acrescenta mistério à canção de forma que tinha um formato bem simples. A
cobriram com um arranjo sofisticado, mas ainda assim é curtinha, mas um grande
momento. “The Ballad of the Sad Young Man” é o momento mais gay do disco. Mais uma que parece ter saído de um
musical, deve ser. Uma canção boêmia, ele parece cantar como um bêbado. O piano,
o sintetizador, a voz...simplesmente de arrepiar. “Love is” é uma letra bem simples, repetitiva,
tolinha até. Mas os ricos arranjos que imitam acordeom enriquecem a canção. “If Tomorrow Never Comes”, do Rei do
Country Garth Brooks, é uma balada épica que na época havia se tornado minha
segunda favorita. Com o passar dos anos passei a acha-la um pouco melosa. Mas é
uma grande performance.
“Send In the Clouds” abre o disco. É a
tal canção da novela. Que voz. Ora potente, ora suave. Acompanhada do belíssimo
piano. “Somewhere”, assim como “Send In The
Clouds” é de Stephen Sondheim. Canção do filme “Amor Sublime Amor” que
atravessará gerações. Uma performance magnifica
do Sr. Carlos Trilha no piano e programações. E o que dizer do vocal de Russo
nessa canção? Emoção a flor da pele. Chegamos a “The Heart of the Matter”
da carreira solo de Don Henley, lenda do
Eagles. Não sei se ele ouviu a versão do Renato. Se sim, deveria reconhecer que
essa é superior. Tornou-se uma balada épica arranjada no sintetizador, que vai
crescendo até chegar num clímax intenso. Uma interpretação muito emocionante
que vai da melancolia ao sofrimento, do inconformismo à esperança.
Para aqueles que conhecem o álbum e
não entenderam a ordem que apresentei das canções, estão na minha ordem de
preferencia.
O título do disco se refere a
protestos homossexuais que ocorreram em
Nova Iorque no ano de 1969. Parte dos lucros obtidos foram destinados a
entidades sociais.
Carlos Trilha toca piano e é responsável
pelas programações eletrônicas. Ele acompanhou Russo também em Equilibrio Distante.
(Texto: Francisco oliveira)
Muito bom o texto,estou ouvindo algumas gravações do álbum e adorando.
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