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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Janis Joplin - Pearl (1971)







 No dia 4 de outubro de 1970, Janis Joplin não apareceu para as gravações no Sunset Sound Studios em Los Angeles. Preocupado com o atraso além do normal, o produtor Paul Rothchild mandou que alguém fosse ao hotel à procura da cantora que também não atendia aos telefonemas. Chegando lá, encontraram-a morta em seu quarto com a boca sangrando, o nariz quebrado e $4,50 na mão.Causa oficial: overdose de heroína. Lendas e teorias da conspiração à parte, nesse dia a cantora colocaria voz em mais uma canção daquele que seria (e é!) seu melhor disco: o definitivo "Pearl".
Depois de explodir em 1967 no Festival de Monterey e conquistar o mundo à frente da Big Brother & the Holding Company, Janis acabou ficando muito maior que a banda e que o rock costa-oeste que eles faziam. Precisava ir além. Queria ir além. E o disco que estava gravando naquele outubro de 1970 era a realização desse desejo. Com Rothchild (que também era o produtor de The Doors)no comando e uma banda, a Full Tilt Boogie Band, capaz de acompanhar seu talento ("Finally, it's my band"), a cantora finalmente se sentia à vontade com o projeto do álbum, acompanhando de perto a produção. E se a morte acidental impediu que todas as canções fossem gravadas, o 80% que já estava terminado é o suficiente para fazer dele um clássico da música pop.
"Pearl" abre com "Move over", rock composto pela própria Janis, com um bom solo do guitarrista John Till, mostrando já na abertura a integração da banda com o canto rasgado de Janis; "Cry Baby", uma baladaça com a cantora fazendo uso de sua habitual intensidade num vocal arrebatador, traz de volta a atmosfera do Kozmic Blues Band; "Woman left lonely", uma baladona digna das divas do soul/jazz, que lembra muitas das gravadas por Elvis na década de 70, serve como uma pista dos caminhos que sua carreira poderia seguir. "Half moon" mostra mais uma vez a competência da Full Tilt, com destaque para o piano de Richard Bell e a guitarra de Till. Desnecessário falar da interpretação de JJ.;"Buried alive in the blues" encerra o lado A como uma espéice de tributo. Sem a voz da artista - ela a colocaria no fatídico dia - mas com sua presença sentida em cada nota. "My baby" é um blues com vocal rasgado no melhor estilo da cantora texana. "Me and Bobby McGee", canção de Kris Kristoferson, inspirada no filme "La Strada" de Felini,e que traz de volta o clima de Haight-Ashbury, chegou ao primeiro lugar das paradas e se tornou um dos grandes sucessos póstumos da história; "Mercedes Benz", composta por Janis em parceria com o poeta beat Michael McLure e Bob Neuwirth, é o ponto alto do disco. Cantada à capela - um minuto e quarenta e seis segundos de beleza ímpar - e gravada de uma vez (o único take gravado é o que está registrado no disco), a canção, cuja letra é uma prece recheada de ironia ao materialismo ("I'm counting on you, Lord, please don't let me down/Prove that you love me and buy the next round")- apesar que hoje em dia,orações dessa maneira são mais que comuns - foi a última música que a cantora pôs voz no disco - três dias antes de desencarnar - e, postumamente, virou uma de suas marcas registradas. "Trust me", de Bobby Womack, e "Get it while you can" são duas baladas arrasadoras que encerram o disco mostrando a força do canto vísceral de Janis.
"Pearl" foi o disco mais vendido da carreira da cantora e seu álbum melhor resolvido musicalmente. O canto de cisne à altura da discípula de Billie Holiday e Bessie Smith que inspira até hoje o cantar de uma legião de imitadores. A prova inconteste de que, por trás da imagem estereotipada que alimenta o mito, ao mesmo tempo em que deprecia a artista,havia talento. Muito talento.



(Leandro L.Rodrigues)

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