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terça-feira, 17 de maio de 2016

Stevie Wonder - Talking Book (1972)









``Musica é para entreter ,não para fazer pensar´´, esse era o lema de Berry Gordy, dono e idealizador do som da Motown Records. Mas no inicio da década de 70, seu cunhado Marvin Gaye e Stevie Wonder, duas de suas principais estrelas, não estavam mais dispostos a seguir sua fórmula de canções simples, de três minutos no máximo, falando sobre romances pueris. Numa queda de braço com a gravadora, os dois compositores jogaram duro e venceram. Teriam toda liberdade no estúdio para criarem seus discos. Começava assim o período clássico de um dos mais talentosos músicos de todos os tempos.
"Talking book" é o segundo disco da fase clássica de Wonder, e dá sequencia às mudanças de som iniciadas em "Music of my mind" (também de 72). Livre no estúdio e auxiliado pela dupla de produtores Malcolm Cecil e Robert Margouleff, o compositor alargou o alcance de sua música e experimentou ainda mais os sintetizadores. Composto na época de sua separação da esposa e parceira Syreeta Wright e da descoberta de um novo amor, o Lp traz letras confessionais sobre amor e separação, sem esquecer os temas sociais. O clima de reflexão e desnudamento já pode ser sentido na capa, com uma rara foto do artista sem seus usuais óculos escuros vestindo uma túnica.
Sintetizadores em ebulição, congas e linha de baixo acima da média e "You're the sunshine of my life" abre o disco mostrando o poder de fogo do músico. Com alternância de vocais, uma letra pra cima - sobre o romance que iniciava com Gloria Barley (que, inclusive divide os vocais com ele na música) - e uma melodia de primeira, a música logo tornou-se um dos grandes sucessos do artista e ainda lhe rendeu um Grammy. A guitarra de Ray Parker Jr. vem na sequencia com "Maybe your baby", um funk com pitadas de rock, no melhor estilo Sly Stone, falando dos fantasmas do fim do casamento, com SW usando moog e se responsabilizando também pela bateria. Sem dúvida, uma das grandes canções do álbum.Quem conhece essa música, certamente, não se surpreendeu nem um pouco quando Macy Gray decidiu regravar "Talking Book" inteiro em 2012. Está claro que a cantora o escutou e muito. "You and I(We can conquer the world) é uma balada com altas doses de sacarose, a ponto de ter sido regravada até por Barbara Streisand, e um belo trabalho do músico no piano e sintetizador. "Tuesday heartbreak" é um soul arrasa quarteirão que alarga mais os seus caminhos musicais de Stevie e conta ainda com o sax de David Sanborn e mais um belo trabalho de harmonizações vocais . "You've got it bad girl" é uma balada cheia de suíngue com SW atacando nos vocais, bateria, moog e Fender rodes. Pra abrir o lado B, vem o ponto alto do disco: "Supersticion". Com uma inconfundível introdução de bateria e riffs de clavinete - aqui começa a estreita relação de Stevie com o instrumento - a música, feita para ser gravada por Jeff Beck (que se chateou pelo compositor tê-la gravado antes),cuja letra trata da relação das pessoas com as superstições foi direto para o primeiro lugar das paradas e rendeu dois Grammys ao artista. Sua execução perfeita, que ainda conta com trumpete e sax, aproximou os rockeiros do funk e serviu para fundir de vez os dois estilos. "Big brother" tem mais clavinete e a gaita de Wonder numa
letra inspirada no clássico livro "1984" de George Orwell. O tema agora é política: "My name is secluded, we live in a house the size of a matchbox", canta Stevie Wonder chutando de vez o descompromisso da Motown com questões sociais. "Blame it on the sun", composta em parceria com a ex-mulher, busca respostas para o fim do relacionamento com o belo piano de SW e vocais harmonizados colaborando com o clima de angustia. A guitarra do amigo Jeff Beck aparece em "Looking for another pure love", outra feita em parceria com Syreeta Wright. "I believe (When I fall in love it'll be forever)", outro clássico que tem no seu currículo dezenas de regravações, encerra o disco em clima de mágoa e esperança. Apesar de tudo, ele continua acreditando no amor."I'm so glad that i found someone to believe in again". Confessional, ousado, sincero, "Talking book" traz todos os ingredientes de uma obra de arte. "Aqui está minha música. É tudo que eu tenho pra dizer de como me sinto.", definiu o artista.
Menos de um ano depois, Stevie Wonder ainda gravaria o magistral "Innervisions" e seguiria a década de 70 gravando uma obra-prima atrás da outra. Com "Talking book" o mundo começou a perceber que SW, com 22 anos, era muito mais que o menino prodígio que ainda criança encantara o público no início dos anos 60. Era, definitivamente, um gênio!




(Leandro L.Rodrigues)
 

Um comentário:

  1. O artista apresenta a nova mulher e compõe com a ex,isto é que é ser moderno!

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