Em outubro do ano 2000, o Radiohead lançava seu quarto
disco, Kid A. Passaram-se pouco mais de três anos desde que lançaram seu álbum
anterior, Ok Computer, que mudou completamente o destino da banda que passou do
risco de ser lembrada eternamente por uma única música (“Creep” de 1993) para
se juntar aos deuses do Olimpo do Rock ao lado de Beatles, Stones, Pink Floyd,
etc.
Então as expectativas para o disco seguinte eram altíssimas.
Claro que todos sabiam que a banda tinha talento de sobra para lançar um grande
álbum e ganhar o mundo novamente. Só não esperavam que seria como se outra
banda estivesse nascendo.
A primeira música, “Everything in its Right Place” começa
com sintetizador , uma voz tocada ao contrario e logo, o vocalista começa a
repetir a primeira palavra “everything” até depois completar o título da canção. Canta calmamente, quase sussurrando e a voz ao contrario vai crescendo
e ele começa a cantar mais alto, quase sem fôlego. O sintetizador vai
encerrando a música, num atmosfera fria que te transporta para a colina da capa
do disco.
Inicia-se a música “Kid A”, bem calmamente, como uma canção
de ninar. Surge um sussurro de algo que se aparenta com a voz de um robô.
Quando a música encontra mais ritmo, aí a voz se apresenta totalmente , é
realmente a voz de um robô, com uns barulhos bem estranhos no fundo. A voz fica
bem estridente e distorcida. O baixo começa a se destacar até um crescente
sintetizador encerrar a canção.
Até aí quem estava esperando distorção de guitarras,
orquestras e emoção estava no mínimo assustado. Resta saber se iria querer
continuar a viagem ou se o choque foi grande demais.
“The National Anthem”, faixa seguinte, poderia dar uma
acalmada em alguém nessa expectativa. Guitarra constante e por baixo vários
efeitos característicos de Prog Rock, vocal normal do Thom Yorke...depois o
choque: entra uma orquestra de metais e, logo começa a tocar de forma
desordenada , com um instrumento mais estridente que o outo.
“How to Dissapear Completely” se inicia com uma espécia de
trilha de filme de desespero (Tipo a que Johny Greenwood faria anos depois para
o filme ``Sangue Negro`` de Paul Thomas Anderson) se sobrepondo a uma bela canção
tocada no violão que vai crescendo. Assim vai a trilha de desespero se misturando com a bela balada e surge o sintetizador duelando com a voz.
“Treefingers” é uma faixa instrumental ambiente, que
praticamente não leva a lugar algum. Talvez dá uma acalmada de tantas sensações
estranhas.
“Optimistic” é a música mais “normal” até aqui, mais
acessível, um rock. Mesmo assim não lembra em nada o Radiohead de outros
álbuns. Mais tribal, mais orgânica. No final tem um trechinho dela mais
dançante, quase Disco. Logo entra a introdução (como se fosse um alarme) da próxima faixa, “In Limbo”. Totalmente um
transe, parece ser de um ritual religioso, psicodélica, lisérgica - Viciante.
“Idioteque” é presença garantida nos shows até hoje. Batida
pesada e marcante, misturada a outros efeitos eletrônicos e verdadeiro
espetáculo vocal com as vozes de Thom se misturando. Aqui fica clara uma enorme
influência da banda: Kraftwerk.
Em “Morning Bell” o
teclado dá o clima gélido e constante, mas o show é da bateria. É uma
faixa bem sombria.
“Motion Picture Soundtrack” é uma faixa que começa muitíssimo
triste. Mas logo entram sons de harpas e efeitos que imitam um coro angelical,
acabando o álbum num clima de esperança. Logo escondida, uma vinheta que dá
a impressão de inciar uma música, mas acaba apenas em distorção.
Kid A foi a tentativa de ser completamente o contrário dos
seus álbuns antecessores. De não ser perfeito, emocionante, as músicas
alcançarem clímax. O objetivo de fazer uma anti música, de ficar bem longe da
perfeição.
Kid A chegou em primeiro lugar nas paradas dos E.U.A. e do
Reino Unido. Foi indicado ao Grammy de melhor álbum do ano. E foi considerado
por vários publicações (incluindo a revista Rolling Stone) como o melhor disco
da década.
(Texto: Francisco Oliveira)
Quando ouvi Kid A pela primeira vez, tive a mesma sensação de quando ouvi Angel Dust do Faith no More, ou seja, que era um suicídio comercial. Mas com o tempo, fui me acostumando e gosto dos dos álbuns até os dias atuais. Parece que os dois grupos fizeram isso de propósito para verem que eles tem a sua autonomia e para não levarem eles tão a sério.
ResponderExcluirA que mais gosto do disco é Idioteque. Sensacional a música.
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