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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fito Paez - Circo Beat (1995)








Depois de lançar aquele que é até hoje o disco mais vendido da história do rock argentino, ``el Amor Después Del Amor`` (1992), Fito Paes resolveu ousar: Voltou para sua Rosário natal e, inspirado nos The Beatles de ``Sgt Peppers Loney Heart Club Band´´ e  ``Magical Mistery Tour´´e sob a produção do Roxy Music Phil Manzanera, gravou um disco autobiográfico, caprichado e bem-sucedido: o clássico “Circo Beat”.
No melhor estilo “commedia dell’arte”, o disco abre com um Fito cicerone, o mesmo que aparece de palhaço na capa, chamando os ouvintes ao seu circo. “El circo más sexy, más alto, más tonto del mundo”. Circo Beat (Beatles?). Aos primeiros acordes da faixa de abertura, os fãs mais antenados já podem perceber que “As de poker”, canção que fazia parte do disco “Novela”, suposta trilha para um curta que Fito tinha intenção de filmar e que nunca chegou a lançar, cuja demo tape é hoje objeto de culto entre colecionadores do rock argentino, está ali apresentada com uma nova roupagem, modificações na letra e novo título: Circo Beat. “Psicodelica star em la mística de los pobres”, anuncia a faixa. O circo chegou. O passado, a cidade natal, a infância, a juventude, os sonhos , a realidade do compositor serão passados a limpo nesse disco filme e isso já pode ser percebido logo nessa primeira faixa que termina com um coral que nos remete a “Simpathy for the Devil”, música responsável por um momento antológico do “Rock n’roll Circus” dos Rolling Stones. Os anos 60 já estão na mesa. O hammond de Fito soa inconfundível para “Mariposa Tecknicolor”, o maior hit do rock argentino nos anos 90, entrar em cena. Um pop rock perfeito, cujo refrão foi entoado por grande parte das torcidas organizadas do país, que traz na sua letra a Rosário da infância de Fito, os apertos dos tempos de ditaduras, citações a acontecimentos trágicos de sua vida, além dos encontros e desencontros da vida de todos nós. Universal de tão pessoal. Nota dez! “Normal 1” vem com citações a Ringo afinando “el tambor de Let it be”, em sua letra nostálgica e cordas inspiradas em “Penny Lane”. “Las tardes del sol, las noches del agua” serve-se do poderoso contrabaixo de Guillermo Vadala (fiel escudeiro de Fito nos seus melhores discos) e a gaita de Toots Thielemans para contar em clima jazzístico em caso real. “Tema de Piluso”, outro hit do disco, é uma bela e emocionada homenagem a Alberto Olmedo, o Capitão Piluso, um dos maiores comediantes argentino, também nascido em Rosário, e morto, poucos anos antes, numa queda do 11° andar, num acontecimento até hoje cercado de lendas e hipóteses. “Nada nos deja más em soledad que la alegria se sí va”, canta o poeta lamentando a partida de um ídolo. “She’s mine” é uma irmã de “Un vestido y un amor” (música de sucesso do bem-sucedido álbum anterior) que traz em destaque a maravilhosa gaita de Toots Thielemans e mais uma bem sacada letra de Paez, que assim como em “Un vestido...”, tem na sua então esposa, a atriz Cecília Roth, sua musa inspiradora, mas usa um refrão em inglês para comprovar que em todo lugar “as chicas” e os apaixonados são iguais. A citação de “Strawberry Fields” traz para o circo do argentino aquele que seria o compacto perfeito de “Sgt Peppers (Strawberry Fields Forever/Penny Lane) , que o produtor George Martin decidiu não incluir no álbum, naquilo que ele considera um dos maiores erros de sua carreira. “El jardin donde vuelan los mares” é um rock mais pesado, que faz lembrar a época de “Ciudad de los pobres coraciones”, com metais e um belo solo do guitarrista uruguaio Gabriel Carámbula, líder da banda “Los Perros Calientes” que acompanhou o músico na sua milionária turnê “La rueda mágica”. “Nadie ditiene al amor em um lugar” é uma balada de clima latino e mais um belo trabalho de Fito e seu contrabaixista. “Si Disney despertasse” , uma bela balada no estilo pop que o músico iria abraçar cada vez mais, usa de poesia e citações (Woody Allen, Kubrick, Walt Disney) para lamentar a substituição dos cinemas de rua de Rosário por shoppings e bingos. “Soy Un Hippie” é um rock bem humorado, que traz´, assim como na maioria das músicas do álbum, a ex-esposa de Fito e cantora de sucesso, Fabiana Cantilo, nos vocais de apoio, e fala, de forma divertida, dos conflitos do músico bicho-grilo com o mundo da fama. “Prefiriria Andar Borracho Em El Subte”. Outro sucesso! Um belo steel de Gringui Herrera e o acordeón de Tweety González, além da bela melodia e o piano elétrico de Fito, fazem de “Dejarlas Partir” outro grande momento de beleza com uma letra cheia de situações a outras músicas da carreira do cantor. “Lo Que El Viento Nuca Se Ilevo” é rock alto astral, que traz Fito assumindo a guitarra, mais uma citação ao Stones sessentista (“I Can’t Get No Satisfaction”) e encerra o disco, o circo, o filme nostálgico do músico na sua cidade natal de maneira positiva e alegre. Ao final da canção, o cicerone da commedia dell’arte reaparece para anunciar que o circo se vai. Mas assim como em “Sgt Peppers” anda não é o fim. “Nadas Del Mundo Real” aparece como uma humilde “A Day In The Life” com orquestra e filosofia para encerrar a viagem com a beleza merecida.
“Circo Beat” foi lançado em edição especial no Brasil, com três de suas músicas, “Mariposa Tecknicolor”, “She’s mine” e “Tema de Piluso” cantadas em português com a participação de Caetano Veloso, Djavan e Herbert Vianna em cada uma delas respectivamente, numa tentativa do cantor de lograr êxito no impenetrável mercado brasileiro (“É difícil você fazer sucesso com um trabalho num país que não ouvir alguém cantando em espanhol que não seja o Julio Iglesias”, disparou o cantor na época). O disco foi lançado com sucesso na Argentina, e embora não tenha obtido o êxito comercial do álbum anterior, continua sendo um dos mais bem sucedidos da sua carreira. Um disco emblemático de um artista genial num de seus melhores momentos.


(Leandro L.Rodrigues)

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