Em meio à festa hedonista da juventude pós- Guerra Fria, em que tudo era prazer, tudo efêmero, tudo consumo, uma banda aparece para desafinar o coro dos contentes. Nada de raves, nada de ecstasys. Nada de sexo, corrente de ouro ou carrões. Armados de protesto e revolta, o Rage Against The Machine apareceria e chegaria ao topo das paradas para mostrar que nem só de cama da Madonna, dos perigos do Michael Jackson e de indivuduais crises existenciais viveria a música dos 90. Nem todos estavam contentes com a situação. Nem todos enxergavam as benesses do
way of life capitalista como o Paraíso na Terra. Havia raiva na parada.
Trazendo na capa a célebre foto de Robert Browne,
com um monge budista ateando fogo ao próprio corpo como forma de protesto ao
governo assassino e paranóico de Ngo Dinh Diem no Vietnã do Sul, o disco de
estréia do RATM , produzido pela própria banda, transborda crítica e subversão
por todos os lados. A banda, formada em Los Angeles a partir de um encontro
entre o novaiorquino, bacharel em ciências políticas e candidato a guitar hero
Tom Morello com o rapper free style de origem xicana Zack de La Rocha, além de
letras totalmente de protesto, apresenta na sua música uma mistura de riffs
pesados à la Black Sabbath, com vocais rappeados, solos rápidos,
experimentalismo de guitarra e uma cozinha (Jim Commerford no baixo e Brad Wilk
na bateria) que ora pende para a dureza heavy metal, ora mergulha no balanço
funk. Da introdução de baixo da abertura “Bombtrack” - o single que traz Che
Guevara na capa - que culmina num refrão explosivo, ao último ruído de
“Freedom”, a banda não deixa a peteca cair e não alivia em nenhum momento para
o sistema. Todas as suas artimanhas são despudoradamente desmascaradas. Sem
gordura, nem embromação, o disco vai direto ao ponto. Une magistralmente o hip
hop com o heavy metal e mostra que enquanto a energia do rock n'roll sobreviver
nem tudo será festa e propaganda. “Killing in the name”, primeiro single
lançado pela banda, logo se transformou num hino e ganhou em cheio o coração
daqueles que sentiam que algo estava errado na festa do pensamento único.
“Ignorance has taken over, we gonna take the power back”(“A ignorância dominou,
nós vamos tomar o poder de volta”), diz De la Rocha em “Take the power back” ,
discurso contra o controle ideológico no sistema educacional americano sob um
magistral trabalho de Morello na guitarra com a banda saindo do chão num rock
de pegada ímpar. Mais um hino. Em “Wake up”, Luther King, Malcolm X e Mohammed
Ali são citados para levantar as consciências contra o racismo
institucionalizado. Em “Bullet in the head”, um dos pontos altos do disco, a
guitarra de Morello começa a demonstrar as inovações – presentes com destaque
também em “Fistful of Steel” - que se seguiriam nos discos posteriores. Em
“Know your enemy”, com introdução , riff e solo de guitarra hipnóticos e os
marcantes slaps de baixo de Commerford (que também aparecem em "Take the
power back") em mais um rock de tirar o fôlego, que conta ainda com a
participação de Stephen Perkins, o incrível baterista do Janes's Addiction, na
percussão e Maynard James Keenan nos vocais (substituindo o Jane's Addiction
Perry Farrell que não pode atender ao convite), as cartas são colocadas na
mesa: Acordo,conformidade,obediê ncia,ignorância,hipocrisia ,brutalidade,
a elite , todos os elementos do sonho americano são os inimigos da banda. A
bomba estava pronta. E seria lançada de dentro do próprio sistema que ela se
propunha a destruir - afinal a banda era contratada da Epic (Sony) - para se
tornar um clássico inconteste do rock mundial.
O conteúdo desafiador do álbum levou a banda a ser proibida de se apresentar em alguns estados norte-americanos, o que só colaborou com a sua popularização entre jovens ansiosos por rebeldia. Depois disso os integrantes da banda ainda se apresentaram nus e em silêncio no Festival Lollapallooza de 93 em protesto contra os órgãos de censura da “Terra da Liberdade” e o RATM se firmou como a banda mais antissistema do sistema, influenciou toda uma geração e estilo e acabou se tornando trilha de filmes e jogos de videogame(!). Se você procura beleza harmônica, metáforas bem elaboradas ou clima de festa e descontração, fuja deste disco. Ele é todo feito de peso e revolta. Ruído e fúria contra a máquina do sistema.
O conteúdo desafiador do álbum levou a banda a ser proibida de se apresentar em alguns estados norte-americanos, o que só colaborou com a sua popularização entre jovens ansiosos por rebeldia. Depois disso os integrantes da banda ainda se apresentaram nus e em silêncio no Festival Lollapallooza de 93 em protesto contra os órgãos de censura da “Terra da Liberdade” e o RATM se firmou como a banda mais antissistema do sistema, influenciou toda uma geração e estilo e acabou se tornando trilha de filmes e jogos de videogame(!). Se você procura beleza harmônica, metáforas bem elaboradas ou clima de festa e descontração, fuja deste disco. Ele é todo feito de peso e revolta. Ruído e fúria contra a máquina do sistema.
(Texto:Leandro L.Rodrigues)
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