A primeira vez que vi a Cerberus Attack ao vivo, fiquei impressionado. Primeiro porque não imaginava que pudéssemos ter uma banda com tamanha personalidade e fazendo um som autoral em pleno lado Leste da cidade, onde o histórico de bandas cover predominava em bares e casas de “rock” da famigerada região. Segundo porque o som viceral e cheio de energia praticado pela banda alimentava uma cena que se fez surgir e desaparecer como um relâmpago, mas que deixou um rastro de bandas que se formaram para redesenhar um cenário que praticamente inexistira. O tempo passou e muita coisa mudou, mas a Cerberus Attack continua firme e se aperfeiçoando ainda mais dentro do tal underground. Para sabermos mais sobre os os caminhos percorridos e quais serão os próximos passos desse destemido quarteto, falaremos com Jhon França (guitarra e vocal) da Cerberus.
S.I. – Houve um período na Zona Leste,
mais precisamente em São Mateus e proximidades, que existia um movimento muito
intenso voltado para o som pesado. Alguns “festivais” organizados de forma
totalmente independente ajudaram a divulgar muitas bandas que surgiram naquele
período, vide “Carnificina Fest” e “Buchada de Bode”. No entanto a maioria das
bandas que participaram desse movimento já não existem mais. Nos fale um pouco
sobre esse período e sobre o que motivou a Cerberus a permanecer na ativa?
Jhon França - Primeiramente boa tarde, meu amigo Robério
e obrigado pelo convite. Esse período do Carnificina Fest e Buchada de Bode que
rolou aqui na região foi de extrema importância pra cena de música pesada
continuar de fato até hoje, não com a mesma força de antes devido a várias
bandas terem se desfeito porém, com a mesma intensidade. Fizemos muitos bons
amigos nesses festivais os quais conservamos a amizade até hoje, uma boa
observação que podemos fazer dessa época foi que muitas bandas acabaram porém,
muitas outras surgiram mantendo o mesmo ideal e o espirito de coletividade do ``it yourself``. Agora, o que tem motivado o Cerberus a continuar tocando até hoje
sem dúvida nenhuma é essa realidade injusta que fazemos parte, cada vez mais
nos levando pro fundo do poço, tirando nossos bens, implantando leis, colocando
na cabeça de nossas crianças uma cultura porca e sem fundamento. Algo deve ser
feito quanto a isso, talvez se fossemos médicos ou bombeiros salvaríamos mais
vidas, porém, nascemos com o dom da música então vamos tocar! (risos).
S.I. – Depois de algumas mudanças em seu
line up, parece que agora as coisas estão estabilizadas. De qualquer forma, uma
das formações que marcou bastante a Cerberus contava com o Renato Moulin nos
vocais. Qual foi o motivo que os levou a permanecer como quarteto? Vocês
chegaram a fazer testes para encontrar um substituto para o Renato?
Jhon França - Na época em que o Renatinho saiu da banda
eu estava fora também fazia uns dias devido a umas dificuldades que tive na
época, acho que isso deve ter sobrecarregado os caras um pouco, deve ter sido um
choque dois membros saindo ao mesmo tempo. Foi feito alguns testes com
vocalistas e tínhamos um guitarrista que entrou bem rápido chamado Felipe. Na
minha opinião o Cerberus Attack tem uma identidade sonora muito forte e esse
fato impediu um pouco para achar vocalista naquela época (mais ou menos 10
pessoas fizeram teste) e na época em que pedi pra voltar pra banda os caras
aceitaram numa boa (depois é claro de um grande sermão !! hahaha) e meu vocal
encaixou legal na banda até porque o Renatinho é minha grande influência pra
varias coisas da vida desde que eu era um pequeno Padawan do metal (risos).
Então decidimos continuar como quarteto mesmo e todos que fazem parte hoje do
Cerberus estão mais compromissados e dispostos do que nunca.
S.I – “Welcome To Destruction” e o split
com o Cranial Crusher foram duas amostras de que vocês não estavam brincando e
que as pretenções da banda iam além de “tocar por tocar”. Existe previsão para
lançamento de um “full length”?
Jhon França - Existe sim, inclusive estamos gravando, um
full intitulado “From East With Hate” que contará com 7 músicas novas e uma
regravação de um som da nossa demo de 2009. A gravação, mixagem e masterização
foi confiada a nosso brother Denis Gomes guitarrista e vocal do Furia V8 e
quando eu digo “confiada” é confiada mesmo, nada melhor do que alguém que
entenda de som pesado para gravar um disco de som pesado e ele já está a anos
nesse ramo e dessa vez irei apenas fazer parte da produção mesmo. Esse disco
vai marcar uma nova fase nossa porque as 7 músicas inéditas foram feitas com
essa formação atual (no Split ainda contávamos com composições do Renatinho). From
East With Hate está previsto para o meio do ano e estamos em contato com alguns
selos para lançamento em diversas partes do Brasil. As letras estarão mais
pesadas também acompanhando nossa realidade atual abordando coisas mais sérias
e menos fantásticas, estamos com grandes expectativas para esse lançamento!
S.I. – Aparentemente a parceria com a
Genocídio Produções vem se mostrando bastante interessante e, coincidência ou
não, o nome da Cerberus Attack vem sendo mais evidenciado entre as bandas do
underground. Nos fale a respeito dessa parceria e quais os frutos dessa união?
Jhon França - Bom, conhecemos a Lívia em um show que
fomos convidados em São Carlos, ela se mostrou bastante competente e
responsável em relação a organização do festival, logo depois nos ofereceu os
serviços de sua assessoria e aceitamos logo de cara. Ficamos muito felizes com o
resultado que essa parceria está causando e a um tempo atrás contratamos a
Metal Media como assessoria também porque acreditamos na nossa mensagem e
queremos que ela vá cada vez mais longe e liberte cada vez mais pessoas dentro
e fora do Underground.
S.I. – Já faz algum tempo vocês gravaram
um vídeo clip de “From This Prison“. O resultado final ficou muito bom. No
entanto, o YouTube vem fazendo frente a TV e inclusive determinando o
sucesso de muitos artistas pela quantidade de “Likes” e visualizações. Isso
consequentemente engessou a comunicação e interação em torno de qualquer
trabalho, pois através de um “click” o acesso é imediato a informação que
desejar. Como a banda encara essa (não tão) nova realidade em detrimento da
saudosa troca de fitas cassetes “trade tapes”?
Jhon França - Falando por mim, mesmo com todas essas
tecnologias que temos hoje em dia eu sou amante dos discos de vinil, cassetes,
vhs, e também das mídias um pouco mais “novas” (cds e dvds), coleciono até hoje
como você já sabe. Mas hoje em dia infelizmente não existe mais essa saudosa
troca de informações de você ir na casa de um amigo com uma fita “virgem” e
gravar aquele LP importado que ele acabou de comprar juntando dinheiro por um
tempão, porém, aqui em casa ainda fazemos umas seções “antigueiras” onde se
junta todo mundo pra ouvir um LP, tomar uma cerveja e ``tals``. Na minha
opinião o Youtube tem revolucionado o mercado trazendo a informação a um
clique, mas como toda ferramenta, nas mãos erradas faz um estrago tremendo pois
há muita coisa ruim nas redes sociais, não só no youtube mas facebook,
whatsapp, entre outros, Mas também há muita coisa boa na internet e muitas pessoas
bem intencionadas que se propõem a levar informação só depende de nós mesmos
agregar o melhor para o nosso desenvolvimento, hoje é bem mais fácil conhecer
uma banda, é só colocar seu nome no youtube, o que muita gente erra é achar que
isso já é o bastante e o artista trabalhou meses para gravar 10 músicas em um
cd, colocou toda sua ideologia nesse disco é conhecido por causa de uma música.
A letra da ``From This Prison`` é direcionada apenas a Rede de Televisão mesmo
(paga e gratuita), uma rede qual não termos controle nenhum e vive nos
empurrando lixo cultural e uma série de informações duvidosas que nos faz
pensar que o país está falido e precisamos vender nossos recursos para o
exterior a preço de banana. Isso me revolta um pouco.
S.I. – sabemos que viver de musica é algo
praticamente impossível em nosso país. Como os integrantes da Cerberus lidam
com essa realidade, já que todos possuem família constituída e
responsabilidades fora da música?
Jhon França - Nós do Cerberus Attack desde o começo
quando entrei na banda já conversávamos sobre isso e chegamos à conclusão que
hoje em dia realmente aqui no Brasil não dá pra viver de Thrash Metal, por
tanto a intenção sempre foi espalhar nossa mensagem para o maior número de
pessoas possível até um dia quem sabe sermos reconhecidos por alguma gravadora
europeia que queira nos produzir já que lá é o mercado do Thrash, mas por
enquanto iremos seguir com nossos trabalhos do cotidiano, compor cada vez mais
e tentar tocar cada vez em mais lugares.
S.I. – conhecendo um pouco de cada
integrante podemos perceber a enorme variedades de estilos que os influência
individualmente. Podemos perceber desde o Thrash “Old School”, passando pelo
Punk e Hardcore até coisas mais descaradamente Pop. Como é conduzido o processo
de criação na banda, levando em conta essa gama de influências?
Jhon França - Caro amigo, nossas influências vão muito
além disso mesmo (risos), porém, no período em que estamos compondo procuramos
ouvir mais bandas de heavy, thrash, punk e hardcore mesmo para que a parte
musical não perca muito em essência. Já na parte de composição das letras não
paro em meu local de descanso e escrevo. No meu caso são escritas em quanto
estou viajando, pegando um ônibus ou em uma fila qualquer, porque descansando não
sinto verdade no que escrevo, tenho que estar vivendo aquilo, vivendo aquela
revolta e nessas horas sempre estou ouvindo alguma coisa diferente como grupos
de rap, discos de pop dos anos 80, bandas alternativas, em fim. Tudo aquilo que
toca meu coração musicalmente é válido, acho que isso é uma características que
divido com meus companheiros de banda, principalmente com o Maskote. Não existe
barreiras na musica.
S.I. – No próximo dia 19 vocês dividirão o
palco com Blasthrash e Comando Nuclear, duas das mais respeitadas bandas do
cenário Heavy/ Thrash de São Paulo tendo respectivamente em seus currículos a
oportunidade de ter tocado com lendas como Tankard e Possessed. Muito se fala
sobre união no Underground, mas realmente existe essa união entre as bandas?
Jhon França - Cara, entre as bandas acredito que sim,
por conta de uns e outros acabamos separados em pequenos grupos, assim como em
toda comunidade há inimizades, não digo da parte do Cerberus, tentamos nos unir
com a cena do thrash o máximo possível agregando o maior número de bandas e
fazemos sempre bons amigos por onde quer que passemos, inclusive o Diego do
Blasthrash se tornou um grande amigo nosso em um evento em que tocamos juntos e
quando ele nos convidou pra este festival nós ficamos muito gratos pelo
reconhecimento, esperamos dividir palco com essas bandas no futuro também.
S.I. – Jhon, para finalizar, gostaria
muito de agradecer em nome do Salada Itinerante sua colaboração e dizer que
temos imensa satisfação em divulgar qualquer tipo de expressão artística, seja
ela do mainstream ou underground. Mais uma vez obrigado e, por favor deixe suas
considerações finais e qualquer informação que julgar relevante sobre a
Cerberus Attack.
Jhon França - Queria agradecer em nome da banda a você
Robério pela consideração e o convite e espero que esta entrevista ajude o
leitor a entender um pouco mais por trás do som pesado e agressivo do Cerberus
Attack. Gostaria de agradecer também todo mundo que nos apoia e está presente
nos shows desde 2008 e dizer que logo estaremos com disco novo dedicado a todos
que nos ajudaram e um videoclipe também, muito obrigado!
Obrigado pela Citação amigos! Vida longa a vocês!
ResponderExcluirAbraço, Diego!!