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quinta-feira, 17 de março de 2016

Cerberus Attack - Thrash Metal Dos Bons Diretamente Da Zona Leste De São Paulo.









A primeira vez que vi a Cerberus Attack ao vivo, fiquei impressionado. Primeiro porque não imaginava que pudéssemos ter uma banda com tamanha personalidade e fazendo um som autoral em pleno lado Leste da cidade, onde o histórico de bandas cover predominava em bares e casas de “rock” da famigerada região. Segundo porque o som viceral e cheio de energia praticado pela banda alimentava uma cena que se fez surgir e desaparecer como um relâmpago, mas que deixou um rastro de bandas que se formaram para redesenhar um cenário que praticamente inexistira. O tempo passou e muita coisa mudou, mas a Cerberus Attack continua firme e se aperfeiçoando ainda mais dentro do tal underground. Para sabermos mais sobre os os caminhos percorridos e quais serão os próximos passos desse destemido quarteto, falaremos com Jhon França (guitarra e vocal) da Cerberus.



  S.I. – Houve um período na Zona Leste, mais precisamente em São Mateus e proximidades, que existia um movimento muito intenso voltado para o som pesado. Alguns “festivais” organizados de forma totalmente independente ajudaram a divulgar muitas bandas que surgiram naquele período, vide “Carnificina Fest” e “Buchada de Bode”. No entanto a maioria das bandas que participaram desse movimento já não existem mais. Nos fale um pouco sobre esse período e sobre o que motivou a Cerberus a permanecer na ativa?


Jhon França - Primeiramente boa tarde, meu amigo Robério e obrigado pelo convite. Esse período do Carnificina Fest e Buchada de Bode que rolou aqui na região foi de extrema importância pra cena de música pesada continuar de fato até hoje, não com a mesma força de antes devido a várias bandas terem se desfeito porém, com a mesma intensidade. Fizemos muitos bons amigos nesses festivais os quais conservamos a amizade até hoje, uma boa observação que podemos fazer dessa época foi que muitas bandas acabaram porém, muitas outras surgiram mantendo o mesmo ideal e o espirito de coletividade do ``it yourself``. Agora, o que tem motivado o Cerberus a continuar tocando até hoje sem dúvida nenhuma é essa realidade injusta que fazemos parte, cada vez mais nos levando pro fundo do poço, tirando nossos bens, implantando leis, colocando na cabeça de nossas crianças uma cultura porca e sem fundamento. Algo deve ser feito quanto a isso, talvez se fossemos médicos ou bombeiros salvaríamos mais vidas, porém, nascemos com o dom da música então vamos tocar! (risos).


S.I. – Depois de algumas mudanças em seu line up, parece que agora as coisas estão estabilizadas. De qualquer forma, uma das formações que marcou bastante a Cerberus contava com o Renato Moulin nos vocais. Qual foi o motivo que os levou a permanecer como quarteto? Vocês chegaram a fazer testes para encontrar um substituto para o Renato?

Jhon França - Na época em que o Renatinho saiu da banda eu estava fora também fazia uns dias devido a umas dificuldades que tive na época, acho que isso deve ter sobrecarregado os caras um pouco, deve ter sido um choque dois membros saindo ao mesmo tempo. Foi feito alguns testes com vocalistas e tínhamos um guitarrista que entrou bem rápido chamado Felipe. Na minha opinião o Cerberus Attack tem uma identidade sonora muito forte e esse fato impediu um pouco para achar vocalista naquela época (mais ou menos 10 pessoas fizeram teste) e na época em que pedi pra voltar pra banda os caras aceitaram numa boa (depois é claro de um grande sermão !! hahaha) e meu vocal encaixou legal na banda até porque o Renatinho é minha grande influência pra varias coisas da vida desde que eu era um pequeno Padawan do metal (risos). Então decidimos continuar como quarteto mesmo e todos que fazem parte hoje do Cerberus estão mais compromissados e dispostos do que nunca.     

S.I – “Welcome To Destruction” e o split com o Cranial Crusher foram duas amostras de que vocês não estavam brincando e que as pretenções da banda iam além de “tocar por tocar”. Existe previsão para lançamento de um “full length”?

Jhon França - Existe sim, inclusive estamos gravando, um full intitulado “From East With Hate” que contará com 7 músicas novas e uma regravação de um som da nossa demo de 2009. A gravação, mixagem e masterização foi confiada a nosso brother Denis Gomes guitarrista e vocal do Furia V8 e quando eu digo “confiada” é confiada mesmo, nada melhor do que alguém que entenda de som pesado para gravar um disco de som pesado e ele já está a anos nesse ramo e dessa vez irei apenas fazer parte da produção mesmo. Esse disco vai marcar uma nova fase nossa porque as 7 músicas inéditas foram feitas com essa formação atual (no Split ainda contávamos com composições do Renatinho). From East With Hate está previsto para o meio do ano e estamos em contato com alguns selos para lançamento em diversas partes do Brasil. As letras estarão mais pesadas também acompanhando nossa realidade atual abordando coisas mais sérias e menos fantásticas, estamos com grandes expectativas para esse lançamento!      

S.I. – Aparentemente a parceria com a Genocídio Produções vem se mostrando bastante interessante e, coincidência ou não, o nome da Cerberus Attack vem sendo mais evidenciado entre as bandas do underground. Nos fale a respeito dessa parceria e quais os frutos dessa união?

Jhon França - Bom, conhecemos a Lívia em um show que fomos convidados em São Carlos, ela se mostrou bastante competente e responsável em relação a organização do festival, logo depois nos ofereceu os serviços de sua assessoria e aceitamos logo de cara. Ficamos muito felizes com o resultado que essa parceria está causando e a um tempo atrás contratamos a Metal Media como assessoria também porque acreditamos na nossa mensagem e queremos que ela vá cada vez mais longe e liberte cada vez mais pessoas dentro e fora do Underground.


S.I. – Já faz algum tempo vocês gravaram um vídeo clip de “From This Prison“. O resultado final ficou muito bom. No entanto, o  YouTube vem fazendo frente a TV e inclusive determinando o sucesso de muitos artistas pela quantidade de “Likes” e visualizações. Isso consequentemente engessou a comunicação e interação em torno de qualquer trabalho, pois através de um “click” o acesso é imediato a informação que desejar. Como a banda encara essa (não tão) nova realidade em detrimento da saudosa troca de fitas cassetes “trade tapes”?

Jhon França - Falando por mim, mesmo com todas essas tecnologias que temos hoje em dia eu sou amante dos discos de vinil, cassetes, vhs, e também das mídias um pouco mais “novas” (cds e dvds), coleciono até hoje como você já sabe. Mas hoje em dia infelizmente não existe mais essa saudosa troca de informações de você ir na casa de um amigo com uma fita “virgem” e gravar aquele LP importado que ele acabou de comprar juntando dinheiro por um tempão, porém, aqui em casa ainda fazemos umas seções “antigueiras” onde se junta todo mundo pra ouvir um LP, tomar uma cerveja e ``tals``. Na minha opinião o Youtube tem revolucionado o mercado trazendo a informação a um clique, mas como toda ferramenta, nas mãos erradas faz um estrago tremendo pois há muita coisa ruim nas redes sociais, não só no youtube mas facebook, whatsapp, entre outros, Mas também há muita coisa boa na internet e muitas pessoas bem intencionadas que se propõem a levar informação só depende de nós mesmos agregar o melhor para o nosso desenvolvimento, hoje é bem mais fácil conhecer uma banda, é só colocar seu nome no youtube, o que muita gente erra é achar que isso já é o bastante e o artista trabalhou meses para gravar 10 músicas em um cd, colocou toda sua ideologia nesse disco é conhecido por causa de uma música. A letra da ``From This Prison`` é direcionada apenas a Rede de Televisão mesmo (paga e gratuita), uma rede qual não termos controle nenhum e vive nos empurrando lixo cultural e uma série de informações duvidosas que nos faz pensar que o país está falido e precisamos vender nossos recursos para o exterior a preço de banana. Isso me revolta um pouco.  

S.I. – sabemos que viver de musica é algo praticamente impossível em nosso país. Como os integrantes da Cerberus lidam com essa realidade, já que todos possuem família constituída e responsabilidades fora da música?

Jhon França - Nós do Cerberus Attack desde o começo quando entrei na banda já conversávamos sobre isso e chegamos à conclusão que hoje em dia realmente aqui no Brasil não dá pra viver de Thrash Metal, por tanto a intenção sempre foi espalhar nossa mensagem para o maior número de pessoas possível até um dia quem sabe sermos reconhecidos por alguma gravadora europeia que queira nos produzir já que lá é o mercado do Thrash, mas por enquanto iremos seguir com nossos trabalhos do cotidiano, compor cada vez mais e tentar tocar cada vez em mais lugares.


S.I. – conhecendo um pouco de cada integrante podemos perceber a enorme variedades de estilos que os influência individualmente. Podemos perceber desde o Thrash “Old School”, passando pelo Punk e Hardcore até coisas mais descaradamente Pop. Como é conduzido o processo de criação na banda, levando em conta essa gama de influências?

Jhon França - Caro amigo, nossas influências vão muito além disso mesmo (risos), porém, no período em que estamos compondo procuramos ouvir mais bandas de heavy, thrash, punk e hardcore mesmo para que a parte musical não perca muito em essência. Já na parte de composição das letras não paro em meu local de descanso e escrevo. No meu caso são escritas em quanto estou viajando, pegando um ônibus ou em uma fila qualquer, porque descansando não sinto verdade no que escrevo, tenho que estar vivendo aquilo, vivendo aquela revolta e nessas horas sempre estou ouvindo alguma coisa diferente como grupos de rap, discos de pop dos anos 80, bandas alternativas, em fim. Tudo aquilo que toca meu coração musicalmente é válido, acho que isso é uma características que divido com meus companheiros de banda, principalmente com o Maskote. Não existe barreiras na musica.   


S.I. – No próximo dia 19 vocês dividirão o palco com Blasthrash e Comando Nuclear, duas das mais respeitadas bandas do cenário Heavy/ Thrash de São Paulo tendo respectivamente em seus currículos a oportunidade de ter tocado com lendas como Tankard e Possessed. Muito se fala sobre união no Underground, mas realmente existe essa união entre as bandas?

Jhon França - Cara, entre as bandas acredito que sim, por conta de uns e outros acabamos separados em pequenos grupos, assim como em toda comunidade há inimizades, não digo da parte do Cerberus, tentamos nos unir com a cena do thrash o máximo possível agregando o maior número de bandas e fazemos sempre bons amigos por onde quer que passemos, inclusive o Diego do Blasthrash se tornou um grande amigo nosso em um evento em que tocamos juntos e quando ele nos convidou pra este festival nós ficamos muito gratos pelo reconhecimento, esperamos dividir palco com essas bandas no futuro também.


S.I. – Jhon, para finalizar, gostaria muito de agradecer em nome do Salada Itinerante sua colaboração e dizer que temos imensa satisfação em divulgar qualquer tipo de expressão artística, seja ela do mainstream ou underground. Mais uma vez obrigado e, por favor deixe suas considerações finais e qualquer informação que julgar relevante sobre a Cerberus Attack.

Jhon França - Queria agradecer em nome da banda a você Robério pela consideração e o convite e espero que esta entrevista ajude o leitor a entender um pouco mais por trás do som pesado e agressivo do Cerberus Attack. Gostaria de agradecer também todo mundo que nos apoia e está presente nos shows desde 2008 e dizer que logo estaremos com disco novo dedicado a todos que nos ajudaram e um videoclipe também, muito obrigado!

Get Thrashed Or Die Trying!







(Entrevista: Robério Lima)










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