Aos que procuram um ponto de segurança, onde a sustentação é determinada pelas tendências de mercado e suas armadilhas previsíveis - uma triste constatação vem à tona; bandas com ideias superficiais e sem personalidade terão sua existência abreviada, graças a um esquema frequentemente utilizado pelos que pretendem atingir o sucesso e obter reconhecimento a qualquer custo. Pois o que há de mais legítimo em qualquer expressão artística é, sem dúvida nenhuma a personalidade. Para os que fogem desse esquema e procuram trilhar caminhos mais arenosos, a recompensa pode vir á longo prazo e, talvez esteja aí o sentido em trilhar o caminho mais difícil. Como exemplo, podemos citar os paulistanos do O Nó, que já no nome procura incorporar uma estética pouco usual e até vintage para evidenciar sensações artísticas em toda sua plenitude.
Para conhecermos melhor esse, que em minha
opinião é uma ótima opção para os que fogem do óbvio, falaremos com Mateus
Bentivegna responsável pela bateria do grupo.
SI – Nos fale um pouco mais sobre O Nó, dê
mais detalhes ao leitor sobre a trajetória da banda até os dias de hoje.
A gente começou em 2014, mas como um trio, na verdade.
Eu conhecia o Ale, que toca guitarra, e ele conhecia o Rodolfo, baixista, e a
gente meio que só decidiu tocar juntos. O som era bem diferente antes, tinha
até uma pegada que lembra o pós-rock, era bem menos “colorido” e “brilhante”,
eu acho. A gente acabou gravando algumas músicas no celular mesmo, fizemos
alguns shows, mas quando o Matheus entrou pra tocar sintetizador a gente meio
que recomeçou os trabalhos, fizemos músicas novas, mudou bastante o som. Tanto
que a gente nem toca mais essas músicas mais antigas.
SI – O direcionamento musical de vocês é
um ponto bastante interessante a ser observado, pois transpira uma série de
referencias. Quais foram os cuidados para não se tornarem apenas um pastiche
dentre suas influências?
Acho que a partir do momento que você une referências
distintas, e cria algo seu a partir delas, um resultado diferente vai acabar
saindo disso de qualquer forma. Eu acredito que não corremos perigo de virarmos
um pastiche justamente pela grande disparidade de influências e gostos de cada
membro.
SI – O público da banda não é um público
convencional e isso fica muito explícito - pois a música é só mais um
ingrediente em um contexto onde a parte visual e sensorial também predominam.
Isso foi algo que vocês previam quando criaram O NÓ?
Eu pelo menos fico feliz que temos uma quantidade
razoável de seguidores que gostam da gente pelas bizarrices que a gente faz. É
sempre bom saber que as pessoas tão curtindo, e até agora, só recebemos
amorzinho <3 dos internautas hahahah
Acho que desde o começo a gente pensou em fazer um
projeto que não fosse só música, só ter uma banda e gravar umas musiquinhas e
pronto. Minhas bandas favoritas, e muitas grandes bandas e artistas, conciliam
o visual e o sensorial com a música. Os Flaming Lips fazem muito isso, o
gigante ancião Pink Floyd, a própria Beyoncé, até. O grande negócio da música
popular atualmente é o casamento dessas coisas. Casar a capa do seu disco com o
som dentro dele, com o tipo espetáculo que vai ser o seu show, com seus clipes.
Até a roupa que você veste, as postagens nas redes sociais, tudo isso faz parte
do projeto. Isso interessa bastante a nós quatro. Gostamos de pensar n’O Nó
como um projeto maior, que une audiovisual, design, moda, fotografia... Tudo.
SI – A arte do EP também é um ponto a ser
destacado, pois transparece muito bom gosto, Quem foi o responsável pela
concepção da capa qual foi conceito para que se chegasse no resultado final?
A banda toda se reuniu e foi jogando referências
visuais, tanto de outras capas como outros trabalhos gráficos diferentes, e
fomos meio que tirando uma coisa daqui, outra dali. Fomos fazendo vários
testes, cada um apresentou uma coisa, e no fim, o Rodolfo acabou chegando no
resultado final, que é essa brisa espacial e colorida linda.
SI - Recentemente vocês participaram de um
evento para a LEVI´s, inclusive gravando uma musica para a ocasião. O quão
importante são esses eventos para a banda? Quais são os próximos passos nesse
sentido?
Foi na real um concurso da Levi’s, em que escolhiam
oito bandas pra gravar uma música cada uma, num estúdio bancado por eles, e
dessas 8, três iam passar por uma outra fase por meio de votação pra tocar na
Casa Levi’s, que é um pico novo deles. Até ganhamos umas calças hahaha. A gente
foi escolhido pra primeira fase, e gravamos uma música que chama “Vão”, que a
gente já tocava nos shows há um tempo e ainda não tinha gravado. Foi bem legal,
até chamamos um amigo pra adicionar um solo de sax nela, o que acabou mudando
muito a música (pra melhor, claro).
Acabamos nem chegando na outra fase. É preciso se
empenhar bastante nas mídias sociais e meio que ficar martelando sempre pra
pedir votos, e acho que no fim das contas ficamos bem felizes de ganhar uma
gravação maneira de graça e da divulgação no geral.
Acho que qualquer ação ou evento desse tipo ajuda
bastante apresentando bandas independentes pra uma galera que não as conheceria
de outra forma; qualquer incentivo desses já é bacana.
SI - Existem estilos musicas onde se
constituem ``uma cena´´ onde as bandas organizam festivais, trocam materiais e
fazem as coisas acontecer com a filosofia do faça você mesmo. Como isso
funciona para vocês?
O pessoal da música no geral acaba todo mundo se
conhecendo no fim das contas, de tocar junto, de ir nas mesmas festas, curtir
bandas em comum, essas coisas.
Acho que está tudo entrelaçado mesmo, todo mundo se
ajuda e se amplia. A gente já conversou sobre colaborações, tocar junto, com os
caras do Raça, que já lançaram o primeiro LP, com os meninos do Retina e dos
Amanticidas – inclusive gravamos nosso EP com membros de ambas – , Marulho,
Goldenloki... Em suma, é bem isso mesmo. Mesmo que o som de cada um seja
distinto no geral, a gente acaba formando uma cena, por assim dizer, meio que
por ser todo mundo do mesmo lugar e fazer música ao mesmo tempo. Todo mundo no
mesmo barco hahah.
SI - Conheço seu pai há muitos anos e
lembro que ele tinha uma grande coleção de discos. Tanto para você como para os
demais integrantes - houve uma formação ``caseira´´ por intermédio do gosto
pessoal do pai de cada integrante e o quanto disso aparece no processo de
composição?
Olha, pra ser bem sincero, uma boa parcela da coleção
do meu pai acabou virando a minha própria coleção. hahahah.
Não posso falar muito pelos outros da banda, mas acho
que muito do que eu ouço hoje, e ter essa coisa de gostar de estilos
completamente bizarros e diferentes entre si tem a ver com o gosto pessoal de todo
mundo da minha família.
A gente da banda gosta bastante do chamado “dad rock”,
AOR (adult oriented rock), esse rock e pop bregas de AlphaFM que é teoricamente
associado com o gosto mais “maduro” dos nossos pais e mães, mas é muito relativo.
Minha mãe ouvia É o Tchan comigo, enquanto eu ouvia Ratt e Iron Maiden com meu
pai, new age com meus avós... E tudo isso tem influência no som que acabamos
fazendo, de um jeito ou de outro. Acredito que todos nós fomos influenciados de
uma forma ou outra pelo gosto musical dos pais, tanto pra um lado quanto pro
outro.
SI - Para finalizar, gostaria que você
falasse sobre os próximos passos da banda - shows, disco e qualquer informação
que julgar pertinente
Atualmente estamos compondo músicas novas, gravando
algumas também, e pensando em lançar uns singles soltos, e eventualmente juntar
material pra um LP inteiro. Estamos fazendo menos shows por causa disso,
justamente pra focar, maasssssss... Temos um show marcado no CULT Club, lá na
Barra Funda, no dia 8 de Julho. Vamos abrir pro Sala Espacial, e começa às
19h00. Quem quiser ver a gente e curtir, só aparecer lá. Tomamos umas brejas,
conversamos sobre música, sobre a vida hahaha. Acho que é isso! Muito obrigado
;)
(Entrevista: Robério Lima)
(Entrevista: Robério Lima)
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