Você Já leu um fanzine ? Você já fez um fanzine?
Se a resposta for não ,tudo bem não se incomode pois muitas pessoas ainda não conhecem o que é um fanzine.
Para quem frequenta ou frequentou shows de punk rock/Hardcore ou Gigs contra-culturais e eventos de poesia marginal provavelmente já conhece e pode certamente ter produzido ou produzir algum fanzine.
Fanzines são publicações independentes feitas de forma artesanal de diversos formatos,alguns abordam historias , poemas, versos e tudo mais que o autor quiser transmitir artisticamente, bastante popularizado durante os anos 80,90 e até hoje dentro do movimento punk, os fanzines funcionavam como uma espécie de correio,informativo e material de expressão máxima da arte produzida por toda uma geração, para falar um pouco sobre a contra cultura do fanzine convidamos uma das mais importantes militantes dos fanzines, Thina Curtis Arte educadora,Mãe,poetisa,escritora que nos conta um pouco de sua trajetória de dedicação aos fanzines a arte e a cultura, além de falar sobre seu coletivo fanzinada que promove o evento fanzinada uma feira totalmente dedicada aos fanzines e publicações independentes, confiram.
1-(Salada Itinerante) Praticamente
sua historia se confunde com a historia do punk rock no ABC paulista
uma vez que você viveu o inicio da cena punk por lá tanto
acompanhando shows gigs quanto publicando editando e lançando
fanzines gostaria que fizesse um paralelo de sua história com a
historia do punk rock no ABC ?
1-(Thina Curtis) Verdade, sempre tive grande
influência não só do estilo musical, mas da atitude punk, a ideia
do faça você mesmo, o de correr atrás e fazer.
Vivenciei de perto a época das
greves, as lutas sociais tudo era muito próximo devido a relação
do meu pai com movimentos de esquerda então cresci com isso já
enraizado.
E fanzines e movimento punk tem uma
conexão muito forte.
Tenho grandes amigos de bandas,
professores, ativistas sociais e culturais, faz parte de mim.
2-(Salada Itinerante ) Como você
consegue conciliar sua vida pessoal uma vez que você é mãe e dona
de casa com os trabalhos de Arte educadora , poetisa e editora de
fanzines e jornais ?
2-(Thina Curtis)Creio que tudo que fazemos com alma,
amor, tudo que é verdadeiro flui.
Da pra conciliar, ser presente, da
pra ser mulher, mãe, poetisa fanzineira rs, da trabalho, mais vale a
pena, creio que não me sentiria feliz se tivesse que abrir mão de
algo que gosto e acredito. Tenho 2 famílias rs, a minha que construí
e a das artes.
3-(salada Itinerante) Atualmente
você vem trabalhando como arte educadora em uma escola no extremo
leste da cidade de São Paulo no Bairro do Jd São Rafael ,
explique-nos um pouco sobre este trabalho ?
3-(Thina Curtis) É gratificante poder fazer algo dentro de uma escola, embora a maré sempre tende a ser contra.
As periferias precisam muito de projetos assim, e de pessoas que acreditem nisso também. Não adianta ter projetos culturais se não houver parceria, apoio.
Eu adoro trabalhar com a molecada, é um trabalho de formiguinha, mas tem suas compensações!
A inclusão de atividades na área de comunicação popular(fanzines, jornais,publicações independentes) é mais um passo significativo no sentido de possibilitar aos jovens novas oportunidades de formação cultural e social.
Estou também em outro projeto de Arte Educação em uma escola na zona norte de SP, junto com a Fabi Menassi(que também é minha parceira nas hqs) e Carlos Rogério Amorim( Central Zine/AfroEscola) tocamos o Projeto Arte Moderna E Contemporânea.
4-(Salada Itinerante ) Você faz
parte do Coletivo Fanzinada , coletivo que realiza diversos eventos
dedicado aos fanzines tanto na cidade de São Paulo quanto fora da
cidade , conte-nos um pouco sobre a historia do Fanzinada e suas
edições . Como funcionam e qual a periodicidade dos eventos que
vocês realizam ?
4-(Thina Curtis)Sim, sou responsável e faz tudo
também rs.
Surgiu mesmo de várias necessidades
ligadas aos fanzines.
Surgiu a princípio para fanzineiros
lançarem/divulgarem seus trabalhos, trocarem ideias, comemorar o dia
internacional do fanzine.
E depois o Dia Nacional do Fanzine
que acabamos de certa forma sendo responsáveis.
A
Fanzinada é uma mistura de várias linguagens artísticas e
culturais. Acabou se tornando um evento de referência no
circuito dos fanzines, por ser um evento envolvente, itinerante
e criativo. É uma ação simbólica pela preservação da memória
dos fanzines no Brasil.
Sempre estamos fazendo exposições
com zines antigos, clássicos, raros e ao mesmo tempo tendo
lançamentos de zines novos. Independente se a pessoa que esta
lançando já é uma veterana ou é o primeiro zine.
Pessoas de todas idades já lançaram
zines conosco!
E assim sigo dando continuidade na
história zineira DIY.
E aí também não temos uma
periodicidade.
Fanzine para mim é mais que uma
paixão é missão mesmo!
5-Salada Itinerante) Recentemente
tivemos a extinção do ministério da cultura , apesar disso os
eventos artísticos e culturais continuam resistindo , tanto na
periferia quanto em todas as imediações da cidade .Qual sua
opinião frente a o fim deste ministério e como você vê os eventos
artísticos e culturais atualmente?
5-(Thina Curtis) Tempos difíceis esses.
Tempos que me fazem pensar na
ditadura.
A arte ela vai resistir sempre isso
é fato, somos guerreiros, espírito livre! Vivemos a Utopia!
Saímos perdendo em relação a
tantas coisas que eram realizadas devido ao Ministério.
Projetos, editais, verbas,
intercâmbios...
Um país que não valoriza sua
cultura é um país que só pode ter o resultado que estamos tendo
agora nesse momento.
Violência,caos, um povo que não
lê, não é politizado, logo não conhecem seus direitos, isso
porque estamos numa suposta democracia.
A cultura ela tem que ser ensinada
desde o ventre.
6-(Salada Itinerante) Recentemente
você participou do 22 º Fest Comix um festival de Hqs já
tradicional , como foi a experiência de realizar uma oficina de
fanzines em um dos mais tradicionais eventos de HQs do Brasil ?
6-(Thina Curtis) Gratificante!
Primeiro tenho que agradecer a
“Gabriela Franco” do Minas Nerds que tem aí um trabalho muito
bacana de empoderamento feminino nas Hqs e Cultura GEEK E Pop, e
levar o fanzine a locais assim sempre é muito bacana, muita gente
ainda hoje em dia e ainda nesses eventos não conhecem fanzine e não
sabem as possibilidades incríveis através dele.
Curti bastante o evento!
7-(Salada Itinerante) O universo dos
quadrinhos e dos fanzines sempre foi composto em sua maioria por
homens , como você analisa a participação feminina no mundo das
artes sequencias e no mundo dos fanzines ?
7-(Thina Curtis) Realmente o universo dos quadrinhos
é bem complicado quando pensamos na participação feminina.
É muito conservador, machista,
embora isso esteja mudando, e para isso muita discussão e muita
luta.
Mais também existe muita mulher que
produz e as pessoas não conhecem, as meninas se sentem inseguras de
participar de eventos que praticamente sempre foi frequentado por
homens.
Isso é incomodo pra mim, porque pra
mim a arte não tem sexo! Ela é única, igualitária.
Homens e mulheres podem ser bons
quadrinistas, roteiristas, ilustradores etc...
Em relação aos fanzines creio que
ele por si só já traz algo mais libertário e não seja tão
restrito quanto os quadrinhos.
Sempre vi bem mais mulheres
produzindo fanzines do que hqs.
Até porque os zines podem ser de
qualquer assunto.
8-(Salada Itinerante) Atualmente
estamos passando por um conturbado momento na historia política
nacional , como você enxerga isso . qual o posicionamento que você
busca ter referente a isso e de que forma você aborda isso tanto nos
fanzines quanto com as crianças que você trabalha ?
8-(Thina Curtis) Que elas leiam, pensem, questionem.
Produzam, criem, não fiquem na inércia ,sendo marionetes sendo manipulados.
Vivemos um fogo cruzado atualmente.
Porem com tanta coisa ruim é hora também de repensar a escola,a política, os conceitos.
A necessidade de revisão do sistema educacional brasileiro é evidente.
9-(Salada Itinerante) Durante um
tempo você trabalhou como arte educadora na fundação casa , como
isso marcou sua carreira e quais as experiências marcantes você
viveu por lá que possam ser citadas ?
9-(Thina Curtis) Deixou marcas, o quanto precisamos
urgente de cuidar de nossos jovens.
O quanto a família faz a diferença.
O quanto o descaso de toda uma
sociedade para nossas periferias estão cada vez mais levando
adolescentes talentosos, sonhadores, crianças ainda para o crime,
para as drogas.
Com certeza o que mais me marcou foi
ter trabalhado na Casa das Mães, lá me vi sem chão,ao mesmo tempo
foi um desafio, ministrava oficinas para mães e bebês.
Foi uma experiencia única que vou
carregar pra sempre em minhas lembranças, sempre me emociono quando
lembro do tempo que passei lá, ali você ve o quanto é importante a
arte, a educação, o quanto coisas simples como um sorriso e um
abraço podem fazer a diferença na vida dessas meninas e bebês.
Através dos fanzines tivemos um
vínculo materno, fraterno, enquanto produzíamos.
creio que a arte tem essa
característica. O olhar para o outro, se colocar no lugar do outro
romper pré-conceitos.
10- (Salada Itinerante ) Quais as
principais dificuldades que impedem os artistas independes de
publicarem hqs e fanzines no Brasil . O que você acha que mais impede
a produção artística independente neste pais?
10-(Thina Curtis) Creio que desde sempre é a grana para bancar o trabalho autoral.
Pq hoje em dia temos muita coisa a favor em questão de divulgação, espaços, mídias.
A falta de verba para fazer os projetos acontecerem acaba sendo o fim dos projetos.
Nas hq's sinto falta da identidade cultural. Parece que as pessoas tem medo de falar sobre o que vive, sobre nossos problemas, sobre nossas riquezas.
Valorizar o que temos a nosso favor e de melhor.
Ainda vivemos em tempos de cultura de massa, só vende hq se for super-herói e gringo.
Nada contra heróis gringos, curto, coleciono e tal, porém sinto falta de representatividade.
Estamos avançando mais ainda em câmera lenta.
11-(Salada Itinerante) Para
finalizarmos deixe um recado a todos que admiram seu trabalho , deixe
uma previa sobre os seus próximos projetos o que esta por vir da
mente desta ruiva militante dos fanzines ?
11(Thina Curtis) Eu agradeço a todos que me seguem,
comentam, me escrevem, me enviam fanzines!
Me incentivam de alguma forma!
Agradeço você Danylo por me ceder esse espaço para falar um pouco dos fanzines.
Bom estou envolvida com várias
coisas ligadas aos zines, quadrinhos, poesias.
Semana que vem dia 07/08 a Fanzinada estará participando mais uma vez do Festival de Inverno de
Paranapiacaba e teremos uma programação muito bacana!
Temos alguns eventos marcados para
esse ano também.
E eu estou sempre por aí em algum
evento, seja prestigiando, seja ministrado oficinas, palestras,
participando de debates.
Em agosto também farei umas
intervenções com Fanzines em parceria da Secretaria da Juventude de
Santo André.
O importante é não parar, é estar
em movimento em ação!
Neozine
Eu
hoje amanheci
Uma
colagem de mim mesma
Um
mosaico de sentimentos
Uma
xerox multiplicada
Do
meu interior
Colada,
reescrita
Um
carimbo na memória
Um
impresso de emoção
Composta
em diversas texturas, cravadas na alma
Em
vários procedimentos e possibilidades
Um
experimento ilustrado
Uma
releitura em vários contextos
Meu
nome é pluralidade
Atemporal
Espalhada
por aí...
Thina
Curtis
Próximo evento do coletivo fanzinada
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