A morte de Lemmy é algo difícil de digerir, pois sua vida e obra são motivo de louvor entre os que escolheram admirar o som pesado que ele defendeu durante toda sua trajetória como um estilo a ser seguido(me incluo entre esses). Ele não era só um personagem, Lemmy realmente era aquilo que levava para os palcos e talvez por isso seja a principal referencia quando falamos de espirito libertário no rock.
Sua figura emblemática e seus inúmeros discos, cheios de clássicos imortais, foram e continuarão sendo fonte de energia para muitos, pois Lemmy nunca se preocupou em “tirar o pé do freio”, e por anos dilacerou tímpanos com sua máquina chamada Motorhead. Seus excessos nunca foram segredo para ninguém e sua vida foi vivida com muita intensidade até o último momento. Mesmo assim, foi dolorido ver o mestre cancelar a apresentação no último Monsters Of Rock em São Paulo por problemas de saúde. Sinal de que algo não andava bem.
Lemmy nos deixa para ser definitivamente canonizado como “Deus”, pois nenhum outro adjetivo seria mais apropriado para definir o ícone da rebeldia, e que no auge de seus setenta anos permanecia representando gerações de jovens revoltados ( com ou sem causa), com sua música altíssima, pesada e ainda relevante. Me utilizo da citação de um colega, onde ele diz que Lemmy estragou sua vida, mas tenho que acrescentar que certamente estragou para melhor - “Lemmy is God”!
O surgimento da gravadora
Cogumelo e a cena mineira de metal dos anos 80 se confundem entre si, e um
certamente não teria o mesmo êxito se não existisse o outro. Pois assim como a
Cogumelo foi importante para as bandas que estavam surgindo naquela época, as
bandas também tinham um enorme potencial a ser explorado e, nesse caso a
expressão´´juntar a fome com a vontade de comer´´ cai como uma luva.
Muito bem vindo, o documentário
``Cogumelo 35 Anos´´ trás para as novas gerações a importância do selo e da cena
formada por bandas que estiveram/estão em seu casting e que ainda fazem muito
barulho na cena mantida com muita persistência diante de todas as dificuldades
vividas durante esses 35 anos de
história.
Com depoimentos de personagens
importantes como a fundadora do selo, Pat Pereira e integrantes de bandas e fãs
que vivenciaram e ainda vivem essa historia, temos uma noção da relevância
adquirida por esse que ainda é referencia entre os selos do cenário conhecido
como underground. Infelizmente integrantes de bandas com Sepultura e Sarcófago
não aparecem com seus relatos, o que certamente enriqueceria ainda mais esse
registro. Enfim, não se pode ter tudo. Mas o saldo é bastante positivo e deve
ser conferido. Que mais registros como esse ``pipoquem´´ por aí!
No último dia 31 de
Outubro o C.E.U. (Centro Educacional Unificado), abriu espaço para um dos
artistas mais relevantes da música popular Brasileira. Falo de Luiz Melodia,
que com sua voz envolvente e cheia de swing, agradou aos que tiveram a
oportunidade de presenciar esse espetáculo. E meus amigos, que apresentação!
Sem banda, mas com Renato Piau e seu violão em punho trouxeram na bagagem
as melhores roupagens para composições que marcaram época. Melodia encorpara o
soul, o pop, o rock, samba e o que mais couber em sua música construindo um
repertório empolgante e muito festejado. Basta ouvir “Holly Estacio” ou
“Fadas”, ponto alto de seu repertório cheio de “pérolas”, e sem dúvida, a
referencia serve para dizer que “Pérola Negra” estava lá, mais bela que nunca e
ainda empolgando aos ávidos por clássicos. “Magrelinha” em igual proporção e um
final apoteótico com uma endiabrada versão de ´´Negro Gato” foram em igual
proporção muito festejadas por todos. Fácil dizer que foi um show
impecável e que ficará na memória dos que testemunharam momento tão singular. O
único ponto negativo, foi exatamente o fato de poucas pessoas terem
presenciando esse raro manifesto de cultura nessa tão corroída periferia cheia
de marcas e com mais incertezas que esperança, uma pena.
O Conceito de sincronicidade de Junj trata das interligações de fatos aparentemente sem ligação, até então interpretados como coincidências. Segundo o psiquiatra suíço, mesmo não existindo uma ligação casual provavelmente haveria entre eles uma relação significativa. Sting chegou em Jung através de Arthur Koestler - cujo o apreço pela obra ja havia servido de inspiração para o titulo do então ultimo álbum do The Police, ``Ghost In The Machine`` - e seu livro ``Raízes da Coincidência``. Inebriado pelos fascinantes escritos parapsicológicos e abalado pelo recente fim de seu casamento, o vocalista se instalou na Jamaica e escreveu as músicas daquele que seria o grande disco da banda: a obra-prima ``Synchronicity``.
Depois de terem dado uma pausa com a banda e partido para trabalhos solos, os integrantes da banda se reuniram para a gravação do álbum no final de 82 no AIR Studios em Montserrat e o clima não estava nada bom. Com os egos exaltados pelo sucesso e o entendimento cada vez mais atropelado pelas vaidades, a banda dificultou bastante o trabalho do produtor Hugh Padgham, que ja havia trabalhado com o grupo no disco anterior, a ponto de cada membro gravar sua parte numa sala separada do estúdio (Stwart Copeland gravou sua bateria na sala de jantar, Sting usou a sala de controle e Andy Summers, o estúdio principal), o que, segundo Padgham, além de reoslver os ``problemas sociais``, traria um resultado melhor na captação do som dos instrumentos.
Com Sting assumindo quase que totalmente o controle da banda, compôs sozinho oito das dez musicas do album, o disco propõe um som diferente do que a banda (e seus imitadores) vinha fazendo até então.
Sintetizadores a todo vapor, sequencia eletrônica de bateria, misturada com um belo trabalho percussivo de Copeland e ``Synchronicity I`` abre junguianamente o álbum em tom de new wave, na sequencia o característico vocal de Sting dá vida a ``Walking In Your Footsteps``, uma bela canção com atmosfera ``World Music´´, bem ao estilo que o cantor seguiria em sua carreira solo, cuja letra descreve uma ra-humana seguindo fielmente as pegadas dos dinossauros rumo a extinção, com mais um belo trabalho de Copeland na bateria (aonde podemos notar a mão do produtor Padgham, num resultado que traz lembranças da inovação obtida em ``In The Air Tonight´´ de Phil Collins).
Baixo em ebulição e ``O My God´´ aparece cheia de balanço, um surpreendente sax tocado por Sting e a inclusão de uma estrofe de ``Every Little Thing She Does is Magic´´, hit do álbum anterior da banda, numa possível referência à teoria de serialidade de Paul Kammer (``Do I have to tell the story of thousand rainy days since we first met, it´s big enouth umbrella but it´s always me that ends up getting wet´´), ``Mother´´, composição de Andy Summers, que assume os vocais, gritos e gargalhadas numa canção cheia de tensão e estranhamento, que parece saida diretamente de ``Discipline``, album lançado dois anos antes pela banda King Crimson (cujo líder Robert Fripp havia gravado naquele mesmo ano um disco em parceria com Summers, ``I Advance Masked``). ``Every Girl i go out with becomes my mother in the end``, diz a letra dessa pequena jóia experimental. Freud explica? ``Miss Gradenko`` de Stwart Copeland traz o clima da banda no inicio de carreira. ``Synchronicity II``encerra o lado A em alto estilo. Sintetizadores, baixo firme, guitarra esperta e bateria precisa aliada a alguns truques de Padgham, um tipico rock de arena dos anos 80 como só o The Police poderia fazer. Sucesso total.
Na letra Junguiana, um homem se vê angustiado com sua rotina de suburbano enquanto a milhas de distância algo assustador emergia de um escuro lago da Escócia, numa clara referência ao monstro do lado Ness.
Mas é quando chega o Lado B que o ótimo disco vira uma obra-prima. Baixo passeando, bateria econômica um riff hipnótico de Summers e ``Every Breath You Take´´ entra em cena cheia de magia. Com uma letra que fala de paranóia e uma possível citação a Orwell (I´ll be watching you´´), esse pop perfeito de Sting, que a escreveu no piano após um sonho, invadiu as paradas de sucesso e para surpresa de seu compositor passou a ser tocada até em casamentos. Foi inclusive na gravação dessa faixa que Sting e Copeland se desentenderam, Copeland não queria fazer uma batida simples e o compositor fazia questão que fosse desse jeito, a ponto das agressões verbais se transformar em luta corporal, o que deixou o produtor Padgham em dúvida se continuaria ou não o trabalho, ocasionando até uma reunião com o empresário da banda para discutir se valia a pena levar o projeto adiante. O projeto foi adiante e ``every Breath You Take´´ se transformou no maior sucesso comercial da banda, entrando para a história da musica popular como um clássico da década de 80. Sem pausa pra respirar e imediatamente após ``Every Breath...´´. surge mais uma obra-prima: ``King Of Pain``. A melodia arrebatadora deSting
começa apenas com um vocal triste e um piano melancólico para depois tomar
força e abrir espaço para a guitarra chorosa de Summers (o guitarrista faz mais
um belo trabalho nesta faixa), a beleza dos vocais de apoio em resposta à letra
e a bateria magistral de Copeland, numa letra recheada de referências
junguianas de sinais e sincronicidade para falar do fim do casamento do cantor.
Consegue ser o destaque de um disco cheio de pérolas. Nota máxima! A música
ainda voltaria para as paradas anos mais tarde numa gravação não menos
brilhante de Alanis Morissette em seu acústico para a MTV. Misturando o
Dr.Fausto e o aprendiz de feiticeiro (ambos de Goethe) e mitologia grega,
"Wrapped around your finger" é outro grande sucesso. Mais uma
obra-prima. Aqui a atmosfera melancólica desse lado do disco, destacada por um
hipnóticopiano tocado por Sting, se mistura com o reggae de branco, que marcou
o início da banda,nos lembrando que o disco foi gravado no Caribe. Mais um
golaço! A envolvente "Tea in Sahara" encerra o disco em clima jazzy
com pitadas de Oriente Médio, nos dando mais uma amostra dos caminhos que Sting
seguiria na sua carreira-solo e contando uma história inspirada num livro de
Paul Bowles, "Sheltering Sky", que se baseia na lenda árabe de três
mulheres (um trio!) que morrem cobertas de areia no deserto esperando o
príncipe retornar para tomar novamente um chá com elas.
"Synchronicity" desbancou "Thriller", de Michael Jackson,
do primeiro lugar, enfileirou hits nas paradas,vendeu milhões e milhões de
cópias, ganhou "Grammys" e colocou o The Police no patamar de maior
banda de rock da época. Porém, na capa do álbum, que teve diferentes versões de
fotos pelo mundo (a mais comum é a que Sting aparece lendo Jung), os
integrantes já aparecem separados. Cada um no seu quadrado. Depois de uma turnê
vitoriosa, a banda, como era de se prever, se desintegraria na sua crise de
egos.
Em meio a maus sentimentos, o The Police criou seu melhor disco e aumentou
consideravelmente seu número de fãs. Numa obra que usa Jung para falar sobre os
vários fins que se faziam presente naquele fim de século, a banda usou sua
música para expressar a angústia dos rompimentos ao mesmo tempo em que
registrava, de maneira brilhante, o seu próprio fim. E não foi coincidência!
Falar de Milton Nascimento é um exercício de reflexão e requer muito empenho na busca por definir sua magnífica contribuição artística para a humanidade. Com o intuito de adentrar ao universo do mineiro de Três Pontas, esse que vos escreve escolheu o disco “Courage” lançado em 1969 e que teve como seu principal “Fiador” o maestro Eumir Deodato, (que na época já desfrutava de grande reconhecimento por seu trabalho como arranjador e mastro), e que ficou marcado por ser lançado como seu primeiro álbum internacional.
O disco possui dez faixas, sendo que sete delas já haviam figurado em seu primeiro trabalho “Travessia”, basta ouvir a faixa título ou “Morro Velho” para comprovar que o que já era bom ficaria muito próximo da perfeição.
Com “Courage”, Milton atingiu patamar jamais alcançado em sua terra natal até então. De quebra se tornou um dos mais belos trabalhos de sua carreira. Herbie Hancock, que na época fazia parte da banda de Miles Davis, pediu para participar do álbum e Eumir cuidou dos arranjos; o resultado desse trabalho é irretocável.
A carga emotiva e a veia contestadora de Bituca se fazem presentes em cada frase/nota do álbum - marca registrada do mestre, que com o passar do tempo se tornou sinônimo de bom gosto.
Milton é reverenciado mundialmente por artistas das mais variadas vertentes. Não por acaso, é referencia até para as próprias referências. Por isso, só posso dizer uma coisa; Ave Milton!
O Brasil é um país riquíssimo em se tratando de personalidades marcantes. Nesse quesito Leila Diniz está entre as que são lembradas por sua ousadia e espírito libertário. Sua passagem curta, mas meteórica por esse planeta foi suficiente para deixar marcas que jamais serão esquecidas por seus contemporâneos e até por aqueles que não viveram seu tempo. Nesse caso, vale registrar que o diretor Luiz Carlos Lacerda prestou uma belo tributo ao “mito” Leila Diniz. O filme que leva o nome da atriz, possui um elenco de respeito e convidados muito especiais, o que comprova a importância dessa grande artista. Louise Cardoso viveu a personagem com uma dignidade impressionante, pois mesmo não tendo muita semelhança com Leila, nos convence de que o que estamos vendo na tela é verdadeiro, ponto para o diretor que optou por retratar “Leila como Leila”, sem apelar para sentimentalismo barato, tão em voga nos dias de hoje.
No final das contas, a fita tem um conteúdo muito honesto, e ninguém melhor que Luiz Carlos Lacerda através da história de sua amiga, para retratar o quão intensa e bem vivida a vida pode ser. Sinceramente não imagino “as musas” de hoje tendo suas vidas lembradas daqui a trinta anos, pois estamos vivendo um imenso vazio de personalidades relevantes. Só temos a lamentar...
A concepção de artista hoje não reflete a realidade, pois o foco nem sempre é direcionado a sua arte propriamente dita. Podemos utilizar como exemplo; Vanusa, que nos últimos tempos ficou marcada pela pela desastrosa execução do hino nacional em um evento onde participou como convidada.
Certamente a grande maioria dos que deram ``ibope´´ a esse episódio não conhecem a obra já produzida por essa seminal interprete.
Desta vez falaremos do clássico disco lançado em 1969 e que, desde de sua belíssima capa, passando pelo ótimo repertório e permeado por uma interpretação inspirada, é um primor artístico. Basta colocar o disco para rodar, e de cara percebemos que estamos diante de algo a frente de seu tempo. ``Meu Depoimento´´ (Fabio - Paulo Imperial) é a abertura ideal para o combinado de bom gosto contido nesse álbum. A lisérgica ``Hey Sol´´ (Dom) ou a descaradamente tropicalista ``Atômico Platônico`` (Jean Pierre - Fernandes), e ainda a raivosa ``Sonny´´(Bob Web) engrossam o caldo musical.
Vamos concordar que não é pouco em se tratando de um disco prestes a completar cinquenta anos de existência e ainda assim, tendo algo a dizer.
Pare de ser cúmplice de tantas baboseiras ``musicais´´ e ouça imediatamente esse clássico!
Comecei
a ter contato com o pré-modernismo através dessa obra. Nela, Lima Barreto
utiliza a ironia e o sarcasmo para denunciar as mazelas das quais o Brasil era
vítima. Com um protagonista para lá de tresloucado e dono de um patriotismo
doentio, Lima Barreto descreve as aventuras e os dessabores do Major Policarpo
Quaresma. Seu patriotismo atinge o ápice da loucura, quando o mesmo propõe que
todos os brasileiros aderissem à língua Tupi, conclusão essa, depois de ter
estudado minuciosamente nossos nativos. A partir daí o título do livro passa a
fazer enorme sentido. Há também, inúmeras personagens interessantes das quais,
Lima Barreto utiliza para descrever a loucura, o egoísmo, o egocentrismo, a
covardia e o amor ao próximo.
O
triste fim de Policarpo Quaresma foi publicado em 1916, mas já havia sido
levado ao público através de folhetins publicados em 1911.
Fica
aqui a dica para quem quer ter contato com o que há de melhor em nossa
literatura.
A Editora
Objetiva idealizou um projeto chamado Plenos Pecado, onde cada um dos sete
escritores selecionados escreveria um romance tratando dos sete pecados
capitais. Coube ao João Ubaldo Ribeiro a missão de escrever um livro sobre a
luxúria. E pasme. Ele foi ao extremo. Tanto é que esse livro foi censurado em
Portugal.
João Ubaldo
Ribeiro narra as aventuras eróticas de uma mulher do alto de seus 68 anos.
Aventuras essas que chocariam até o maior dos promíscuos. Mas a misteriosa
mulher se vê ao fim vítima de um aneurisma cerebral. Detalhe: segundo o
escritor, ela de fato existiu e ainda por cima lhe entregou suas confidencias
através de uma fita gravada. Não sabemos se isso é verdade ou se é um jogo
literário de João Ubaldo.
O livro de
fato é bem pesado para os que se consideram puritanos. Há relatos de incesto
praticado pela confidente e por seu irmão. Nem o tio escapa. Há também sexo
grupal. Em suma, é putaria de cabo a rabo
narrada em ritmo alucinante de forma magistral.
Já faz algum tempo, uma tendência relativamente nova traz outra alternativa para os que, mesmo com talento, não encontram espaço na programação das grandes emissoras de TV. Esses veículos de comunicação normalmente optam por exibir formatos vazios e sem nenhuma personalidade.
Na contramão de formatos engessados, João Gordo, que já passou por emissoras de médio e grande porte como MTV e RECORD, encontra na internet um meio para dar vazão à sua já reconhecida irreverência e também para mostrar que "dá pra fazer" sem depender de grandes recursos e ainda obter resultado com boa qualidade.
A cada semana João Gordo reçebe uma personalidade, que na maioria da vezes esta ligada à música, mas que também não possuem espaço em grandes meios de comunicação (na maioria dos casos, por opção do artista, afim de manter a integridade de seu trabalho), mas que possuem reconhecimento inegável em meío aos canais independentes.
Enquanto cozinha ( uma reçeita obrigatoriamente vegana), Gordo conduz conversas bastante descontraídas com seus convidados onde o tempero principal é a informalidade. Já passaram por sua cozinha Mano Brown, Clemente, Gastão Moreira, entre outros.
A fórmula do programa pode não ser das mais inovadoras, mas os envolvidos dão o sabor neçessario para que o programa não caia em armadilhas tão comuns em programas do gênero.
"Panelaço" vem para saciar a fome dos que fogem do " arroz e feijão". Vida longa ao programa!
O cenário musical brasileiro comporta uma série de enganadores e, a todo momento nos deparamos com aparições medíocres tanto na TV como em apresentações ao vivo. Infelizmente o publico refém desse segmento pasteurizado da musica, insiste em permanecer em um limbo imaginário. Assim como Walter Franco, outros artistas possuidores de obras irretocáveis permanecem desconhecidos para o grande publico. Culpa da mídia, das gravadoras, do governo ou dos próprios artistas? Bom, talvez a resposta esteja em cada um de nós e seja o reflexo de nossas escolhas e pensamentos. O que veremos a seguir dará uma dimensão, talvez subjetiva do que foi a apresentação do inquieto/quieto Walter Franco.
Já na sexta feira, dia anterior a apresentação, os ingressos haviam se esgotado e a expectativa era grande. O que viria a se confirmar no Sábado, pois já havia uma enorme fila dos que aguardavam o inicio do show e dos que ainda nutriam esperança de comprar ingresso.
Em pouco tempo e com o publico ansioso, eis que sobe ao palco Walter Franco e sua banda que ainda conta com Diogo Franco, tocando citara. Aos primeiros acorde de ``Serra do Luar´´ o publico canta cada palavra da letra. Na sequencia Walter dedica ``Vela Aberta´´ ao seu pai, o poeta Cid Franco e mais uma vez todos cantaram com enorme entusiasmo, de um inicio sussurrado e ganhando cada vez mais força, tivemos ``Me Deixe Mudo´´ do seminal ``Ou Não´´(disco da mosca).
A cada musica executada, o entusiasmo ficava mais evidente nos que tiveram o privilegio de testemunhar mais esse ato de resistência. ``Quem Puxa aos Seus Não Degenera´´ foi a deixa para que Diogo Franco fizesse sua apresentação solo, e não decepcionou. Composições consistentes moldam o artista que segue com muito respeito e admiração a obra do pai.
Quando a apresentação estava próxima do fim, Walter prepara o terreno com ``Zen´´do álbum ``Tutano´´ e na sequencia ``Respire fundo´´. Tudo isso para dizer que o bis, como não poderia deixar de ser, seria com a seminal ``Canalha´´ que teve a participação da plateia gritando a plenos pulmões o refrão devastador. Sem mais delongas os que adentraram a Sala Adoniran Barbosa presenciaram uma aula de musica, poesia e acima de tudo; dignidade. Vida longa ao mestre!
O Clash Club foi o local escolhido para sediar o retorno do Violator aos palcos de São Paulo . Depois de uma pausa de mais de um ano, os baluartes do thrash metal brazuca voltaram em grande estilo e contando com convidados muito especiais; Criminal Mosh, TEST, Farcape e D.E.R. que na ocasião comemorava o lançamento do split DVD com o Violator no show registrado em Setembro de 2012 no teatro Mars em São Paulo.
Ja no inicio da tarde haviam muitos afoitos em frente ao Clash carregando as baterias, pois seriam necessárias muitas doses de adrenalina para aguentar o que estava para acontecer.
Depois de alguns ajustes no equipamento o Criminal Mosh deu inicio aos trabalhos e com enorme influencia do Body Count e Suicidal Tendencies, conquistou o publico de cara e naquela alturado campeonato já dava os primeiros sinais de que o ``coro iria comer´´, destaque para ``Violência Explicita´´ e``Homicídio´´.
Na sequencia o duo TEST, que já é um dos maiores representantes do Grindcore nacional, sobe ao palco para mais uma apresentação caótica. Soltando um petardo atrás do outro, em certo momento João Kombi quebra o protocolo e informa ao publico que aquele show seria dedicado à Rodrigo Smile, que faleceu recentemente.
O TEST já não é mais uma promessa, indiscutivelmente conquistou espaço importante dentro do underground nacional.
O que veríamos na sequência ficará marcado em minha memória por muito tempo, pois os cariocas do Farscape tomaram o palco para derrubar qualquer coisa que ainda teimasse em ficar de pé. O que estava bom ficou ainda melhor e com o publico na mão, passou pelo Clash Club como uma linha cortante no pescoço de um motoboy desavisado.
Petardos como ``Assassin´´ e ``Thrash Until You Drop´´e ainda ``Carrasco do Metal´´ cantada em uníssono pelos presentes foi a senha para que muitos pescoços sofressem as consequências do massacre. Apresentação impecável!
O D.E.R. ocupou merecidamente a posição de co-headliner e soltou seu Grind viceral, devastando tímpanos por toda a parte.e ainda comemoraram no palco o aniverário do Thiago, vocal e batalhador da cena, que ficou visivelmente emocionado com a presença de seus familiares na festa. O D.E.R. realizou um show de altíssimo nível e deixou o caminho preparado para o que viria na sequência. Destaque absoluto para a ``maquina´´ Thiago Barata, que massacrou seu instrumento, tando no D,E,R como no TEST. Uma lenda!
Com o Clash já tomado por maníacos ensandecidos e com um pequeno atraso, finalmente o Violator sobe ao palco para mostrar o porque de tanto alvoroço e, já na introdução, os bangers já se digladiavam por toda parte, o que se manteve por toda apresentação.
Os já tradicionais discursos de Poney sobre a união da cena, a movimentação de Cambito e Capaça e a condução de David ``Batera´´foram a tônica do espetáculo e não faltaram ``Atomic Nightmare´´ e ``United For Thrash´´, além da inusitada bronca de Poney nos que insistiam em tirar selfies do palco.
Por fim, os mais extasiados subiram ao palco para fechar a apresentação da banda em grande estilo e mostrar o quanto o Violator é respeitado pelos fãs.
Certamente essa data ficará marcada ´por muito tempo entre os que tiveram o privilégio de presenciar mais essa apresentação de altíssimo nível.
Vale destacar a organização exemplar e a pontualidade de todas as bandas.
Jards Macalé, musico, ator, poeta e tudo que artisticamente for cabível para classificar esse gênio da cultura brasileira é retratado com leveza no documentário ``Jards Macalé: Um Morcego Na Porta Principal´´ (2008) dirigido por Marco Abujamra e João Pimentel.
A difícil tarefa de retratar o homem por trás de Jards tem por fim, canalizar a atenção do espectador para sua personalidade simples mas ao mesmo tempo cheia de labirintos e vias multifacetadas. Com aparições e depoimentos de personalidades importantes na trajetória de Jards, podemos ver o quão significativa é sua obra. Impossível não ir as lagrimas com a performance de um de seus principais parceiros, o já falecido Waly Salomão recitando o poema ``Jet Lagged´´ com a musica ``Vapor Barato´´ sendo magistralmente interpretada ao fundo por Gal Costa. Outros depoimentos, talvez não sejam reveladores, mas possuem peso importantíssimo para evidenciar fragmentos de seu legado.
Quando quiser conhecer ou até mesmo entender o que há de verdadeiramente relevante em nossa cultura, esse documentário é uma boa pedida.