Vindo de Exu, uma
cidadezinha do interior de Pernambuco, bem na pontinha do sertão, “o rei do
baião pode ser também considerado o primeiro rei do pop no Brasil. Pop aqui
empregado em seu sentido original: o de popular”. Uma vez que foi o artista que
mais vendeu discos no país, somando cerca de 200 gravados.
Ele desenhava as
próprias roupas e inventava os passos que fazia no palco com os músicos. Foi o
primeiro cantor e músico a fazer uma turnê pelo Brasil. Antes dele, os artistas
não saíam do eixo Rio-SP. Muito embora, ele gostasse mais de fazer shows e
tocar para o público interiorano.Cantava acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo. E com essa bagagem levou a alegria das festas
juninas e dos forrós
pé-de-serra, bem como a pobreza,
as tristezas e as injustiças da nossa árida terra, o sertão nordestino, ao resto do país, numa época em que a maioria das
pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. O primeiro chapéu que o admirável Luiz Gonzaga pôs em sua
cabeça, foi um de cangaceiro, junto com um gibão, já que nas suas músicas o
tema da coragem era recorrente.
Não estarei presente em
Exu, nessa linda comemoração, a qual, foram reunidos os mais singelos
sanfoneiros do Brasil, entre outros grandes nomes da MPB, como a Elba Ramalho e
o Gilberto Gil, para comemorar esse memorável Centenário, mas meu coração
estará xoteando cheio da admiração que sempre tive por esse grande homem que
saiu do seu pé-de-serra onde deixou ficar seu coração, para ganhar o mundo com
sua música e poesia embebida de histórias do nosso sertão nordestino e nos
deixou um legado inenarrável. Este ano, em especial, estou mais orgulhosa do
que nunca da minha pernambucanidade.
Comecei a escrever este
texto, quando me lembrei que ainda não tive a oportunidade de ver o filme “Gonzaga,
de pai pra filho”... Então, sugeri ao meu amigo Nilton uma parceria. Ele que é
de origem cearense e com um amor incondicional pelo Pernambuco, se prontificou.
Temos
bastantes semelhanças, que muito nos ajudam. Nossas diferenças ajudam ainda
mais! Em uma de nossas conversas na www, espontaneamente foi surgindo
uma breve síntese do filme, á qual vou enxertar aqui sem tirar nem pôr. Creio
que o Nilton não fará objeção!
O filme está focado na
relação dele, Gonzagão, com o filho, Gonzaguinha, outro gênio da MPB. O
filme nos revela traços importantes e desconhecidos da vida do Rei do baião,
como o fato de ter abandonado o filho, ter lhe negado amor e carinho, embora
tenha perseguido a ideia de transformá-lo em doutor, dando-lhe estudo no melhor
colégio do Rio de Janeiro.
Porém Gonzaguinha cresceu revoltado pelo
abandono do pai, já que foi criado por um casal de amigos de Gonzagão após a
morte da mãe; fato que transtornou Gonzagão e que, segundo ele “lhe tirou o
chão”.
O convívio entre os
dois foi sempre conturbado, devido à diferença de visão política: Gonzagão ,
apesar de um gênio musical, era extremamente reacionário, enquanto o filho que
cresceu no morro carioca, tinha um espírito revolucionário e inquieto além do
seu engajamento político de esquerda, devido a sua formação cultural, afinal
ele era formado em economia e, portanto, um homem muito culto e de consciência
social e política.
Apesar dessas
diferenças sempre houve uma ligação muito forte entre o pai e o filho, um amor
que não foi abalado pelas diferenças e pelas circunstâncias que os separou. O
filme é focado no reencontro dos dois que proporcionou ao público o retorno
desse gênio a os palcos e uma das mais
belas parcerias musicais da MPB que nos presenteou com clássicos como “pense
n´eu” e “vida de viajante”.
Enfim, diante de um
cenário cultural tão decadente, nada mais relevante do que relembrar esse
grande gênio e sua obra que trouxe para o Brasil toda a riqueza cultural de um
povo sofrido e esquecido pelo resto do país, Luiz Gonzaga incluiu o
Nordeste na cena cultural brasileira e
desde então se tornou influência para várias gerações de artistas de todos os
gêneros musicais. O Brasil pode ter vários reis, mas somente Gonzagão reinará
soberano, que sua obra se mantenha viva por várias centenas de anos e que sua
imagem seja eterna na memória do povo brasileiro.
(Texto: Nadine Kleaim e Nilton
Aquino)
Lindo esse texto Nadine, eu estava lá no centenario e vi de perto o quanto o nosso rei é amado!!! Viva a Luiz e viva a Gonzaguinha seu filho prodigo e amado!!!!! (Kayron Rafael)
ResponderExcluirMuito bom o seu texto, parabéns!
ResponderExcluirUm belo texto em que o foco, as vezes, parece se confundir um pouco com a história dos autores. Viva o legado de Lua!!! Viva o povo nordestino!!! Vivam os estranhos!!!
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