Um dos nomes mais conhecidos da literatura
nacional, Jorge Amado, tem sido muitas vezes desprezado em alguns meios
acadêmicos por ser considerado um best-seller e por, segundo alguns entusiastas
do modernismo, focar a sua obra na Bahia e ter idealizado um tipo caricato do
baiano. Confesso que por muito tempo estive contaminado por este pensamento,
porém ao entrar em contato com a obra desse grande autor percebi que a sua
criação literária vai muito além das adaptações feitas para a televisão de
alguns de seus romances.
Em capitães da Areia, mais uma obra
recentemente adaptada para o cinema, o autor aborda temas surpreendentemente
atuais, embora o livro tenha sido escrito em 1937. O assunto e as questões
sociais que o livro explora em profundidade são os mesmos da “cidade da Bahia”
e de muitas outras cidades, do Brasil e da América Latina.
Este romance nos comove e faz pensar nas
crianças desvalidas que vivem nas ruas das grandes cidades, abandonadas a sua
própria sorte, quase todas órfãs de pai e mãe, filhos da miséria e do abandono.
Jorge Amado construiu um microcosmo ficcional. Os personagens mais relevantes
são meninos de oito a dezesseis anos que moram num velho trapiche abandonado no
cais de Salvador, a “cidade da Bahia” que eles tanto conhecem em suas andanças
e onde vivem atiradas à marginalidade, roubando e cometendo pequenos delitos
para sobreviver e, quando detidos, são submetidos à humilhação, ao castigo e a
tortura.
Este
grupo de desvalidos, conhecidos na cidade como Os Capitães da Areia, é
visto pela sociedade local com receio e é tratado pelo Estado como um mal o
qual deve ser eliminado. Porém, a
narrativa da vida de cada um dos capitães da areia, todas marcadas pelo
abandono e pela miséria, vai revelando ao leitor que a sociedade que os teme e
os despreza e a mesma que os criou. Apesar de situar suas narrativas sempre no
mesmo espaço geográfico e cultural, no caso a Bahia, Jorge Amado utiliza este
espaço e seus personagens típicos para abordar questões universais.
Os meninos que habitam o velho trapiche
dividem uma mesma realidade e buscam sobreviver a ela de diferentes formas: um
faz uso de sua deficiência física para comover famílias que o ajudam e que
terão seus bens roubados pelo grupo, outro busca conforto na religião, através
da qual busca redenção para seus pecados e que conta com a ajuda de um padre
para seguir a sua vocação. O destino de alguns desses meninos também será
diverso: um entra no cangaço, movido pelo seu desejo de vingança, outro entra
na luta política, enquanto outro, o único letrado do grupo, segue sua vocação
artística e torna-se pintor, retratando em suas obras a realidade da qual fez
parte, Porém a grande maioria deles continua nas ruas a espera de um fim
incerto.
Outro aspecto importante da obra é o lado
humano dos personagens o qual é abordado em profundidade, revelando os desejos
e angústias que são não só daqueles personagens desvalidos, mas de todo ser
humano e que são encarados e vividos de acordo com a realidade de cada um.
Enfim uma obra que merece ser lida e relida na qual encontramos as marcas
literárias que fizeram de Jorge Amado um
dos nomes mais representativos de nossa literatura.
(Texto: Nilton Aquino)
(Texto: Nilton Aquino)
massa .. um pouco de cultura
ResponderExcluiré sempre bem vindo !!