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domingo, 13 de dezembro de 2015

Police - Synchronicity





O Conceito de sincronicidade de Junj trata das interligações de fatos aparentemente sem ligação, até então interpretados como coincidências. Segundo o psiquiatra suíço, mesmo não existindo uma ligação casual provavelmente haveria entre eles uma relação significativa. Sting chegou em Jung através de Arthur Koestler - cujo o apreço pela obra ja havia servido de inspiração para o titulo do então ultimo álbum do The Police, ``Ghost In The Machine`` - e seu livro ``Raízes da Coincidência``. Inebriado pelos fascinantes escritos parapsicológicos e abalado pelo recente fim de seu casamento, o vocalista se instalou na Jamaica e escreveu as músicas daquele que seria o grande disco da banda: a obra-prima ``Synchronicity``. 
Depois de terem dado uma pausa com a banda e partido para trabalhos solos, os integrantes da banda se reuniram para a gravação do álbum no final de 82 no AIR Studios em Montserrat e o clima não estava nada bom. Com os egos exaltados pelo sucesso e o entendimento cada vez mais atropelado pelas vaidades, a banda dificultou bastante o trabalho do produtor Hugh Padgham, que ja havia trabalhado com o grupo no disco anterior, a ponto de cada membro gravar sua parte numa sala separada do estúdio (Stwart Copeland gravou sua bateria na sala de jantar, Sting usou a sala de controle e Andy Summers, o estúdio principal), o que, segundo Padgham, além de reoslver os ``problemas sociais``, traria um resultado melhor na captação do som dos instrumentos.
Com Sting assumindo quase que totalmente o controle da banda, compôs sozinho oito das dez musicas do album, o disco propõe um som diferente do que a banda (e seus imitadores) vinha fazendo até então.
Sintetizadores a todo vapor, sequencia eletrônica de bateria, misturada com um belo trabalho percussivo de Copeland e ``Synchronicity I`` abre junguianamente o álbum em tom de new wave, na sequencia o característico vocal de Sting dá vida a ``Walking In Your Footsteps``, uma bela canção com atmosfera ``World Music´´, bem ao estilo que o cantor  seguiria em sua carreira solo, cuja letra descreve uma ra-humana seguindo fielmente as pegadas dos dinossauros rumo a extinção, com mais um belo trabalho de Copeland na bateria (aonde podemos notar a mão do produtor Padgham, num resultado que traz lembranças da inovação obtida em ``In The Air Tonight´´ de Phil Collins).
Baixo em ebulição e ``O My God´´ aparece cheia de balanço, um surpreendente sax tocado por Sting e a inclusão de uma estrofe de ``Every Little Thing She Does is Magic´´, hit do álbum anterior da banda, numa possível referência à teoria de serialidade de Paul Kammer (``Do I have to tell the story of thousand rainy days since we first met, it´s big enouth umbrella but it´s always me that ends up getting wet´´), ``Mother´´, composição de Andy Summers, que assume os vocais, gritos e gargalhadas numa canção cheia de tensão e estranhamento, que parece saida diretamente de ``Discipline``, album lançado dois anos antes pela banda King Crimson (cujo líder Robert Fripp havia gravado naquele mesmo ano um disco em parceria com Summers, ``I Advance Masked``). ``Every Girl i go out with becomes my mother in the end``, diz a letra dessa pequena jóia experimental. Freud explica? ``Miss Gradenko`` de Stwart Copeland traz o clima da banda no inicio de carreira. ``Synchronicity II``encerra o lado A em alto estilo. Sintetizadores, baixo firme, guitarra esperta e bateria precisa aliada a alguns truques de Padgham, um tipico rock de arena dos anos 80 como só o The Police poderia fazer. Sucesso total.
Na letra Junguiana, um homem se vê angustiado com sua rotina de suburbano enquanto a milhas de distância algo assustador emergia de um escuro lago da Escócia, numa clara referência ao monstro do lado Ness.
Mas é quando chega o Lado B que o ótimo disco vira uma obra-prima. Baixo passeando, bateria econômica um riff hipnótico de Summers e ``Every Breath You Take´´ entra em cena cheia de magia. Com uma letra que fala de paranóia e uma possível citação a Orwell (I´ll be watching you´´), esse pop perfeito de Sting, que a escreveu no piano após um sonho, invadiu as paradas de sucesso e para surpresa de seu compositor passou a ser tocada até em casamentos. Foi inclusive na gravação dessa faixa que Sting e Copeland se desentenderam, Copeland não queria fazer uma batida simples e o compositor fazia questão que fosse desse jeito, a ponto das agressões verbais se transformar em luta corporal, o que deixou o produtor Padgham em dúvida se continuaria ou não o trabalho, ocasionando até uma reunião com o empresário da banda para discutir se valia a pena levar o projeto adiante. O projeto foi adiante e ``every Breath You Take´´ se transformou no maior sucesso comercial da banda, entrando para a história da musica popular como um clássico da década de 80. Sem pausa pra respirar e imediatamente após ``Every Breath...´´. surge mais uma obra-prima: ``King Of Pain``. A melodia arrebatadora de Sting começa apenas com um vocal triste e um piano melancólico para depois tomar força e abrir espaço para a guitarra chorosa de Summers (o guitarrista faz mais um belo trabalho nesta faixa), a beleza dos vocais de apoio em resposta à letra e a bateria magistral de Copeland, numa letra recheada de referências junguianas de sinais e sincronicidade para falar do fim do casamento do cantor. Consegue ser o destaque de um disco cheio de pérolas. Nota máxima! A música ainda voltaria para as paradas anos mais tarde numa gravação não menos brilhante de Alanis Morissette em seu acústico para a MTV. Misturando o Dr.Fausto e o aprendiz de feiticeiro (ambos de Goethe) e mitologia grega, "Wrapped around your finger" é outro grande sucesso. Mais uma obra-prima. Aqui a atmosfera melancólica desse lado do disco, destacada por um hipnóticopiano tocado por Sting, se mistura com o reggae de branco, que marcou o início da banda,nos lembrando que o disco foi gravado no Caribe. Mais um golaço! A envolvente "Tea in Sahara" encerra o disco em clima jazzy com pitadas de Oriente Médio, nos dando mais uma amostra dos caminhos que Sting seguiria na sua carreira-solo e contando uma história inspirada num livro de Paul Bowles, "Sheltering Sky", que se baseia na lenda árabe de três mulheres (um trio!) que morrem cobertas de areia no deserto esperando o príncipe retornar para tomar novamente um chá com elas.
"Synchronicity" desbancou "Thriller", de Michael Jackson, do primeiro lugar, enfileirou hits nas paradas,vendeu milhões e milhões de cópias, ganhou "Grammys" e colocou o The Police no patamar de maior banda de rock da época. Porém, na capa do álbum, que teve diferentes versões de fotos pelo mundo (a mais comum é a que Sting aparece lendo Jung), os integrantes já aparecem separados. Cada um no seu quadrado. Depois de uma turnê vitoriosa, a banda, como era de se prever, se desintegraria na sua crise de egos.
Em meio a maus sentimentos, o The Police criou seu melhor disco e aumentou consideravelmente seu número de fãs. Numa obra que usa Jung para falar sobre os vários fins que se faziam presente naquele fim de século, a banda usou sua música para expressar a angústia dos rompimentos ao mesmo tempo em que registrava, de maneira brilhante, o seu próprio fim. E não foi coincidência! 



(Texto:Leandro L.Rodrigues)
  

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