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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Thina Curtis Arte Educadora,Poetisa, Escritora e Militante Dos Fanzines e Publicações Independentes.





Você Já leu um fanzine ? Você já fez um fanzine? 
Se a resposta for não ,tudo bem não se incomode pois muitas pessoas ainda não conhecem o que é um fanzine.
Para quem frequenta ou frequentou shows de punk rock/Hardcore ou Gigs  contra-culturais e eventos de poesia marginal provavelmente já conhece e pode certamente ter produzido ou produzir algum fanzine.
Fanzines são publicações independentes feitas de forma artesanal de  diversos formatos,alguns abordam historias , poemas, versos e tudo mais que o autor quiser transmitir artisticamente, bastante popularizado durante os anos 80,90 e até hoje dentro do movimento punk, os fanzines funcionavam como uma espécie de correio,informativo e material de expressão máxima da arte produzida por toda uma geração, para falar um pouco sobre a contra cultura do fanzine convidamos uma das  mais importantes militantes  dos fanzines, Thina Curtis  Arte educadora,Mãe,poetisa,escritora que nos conta um pouco de sua trajetória de dedicação aos fanzines a arte e a cultura, além de falar sobre seu coletivo fanzinada que promove o evento fanzinada uma feira totalmente dedicada aos fanzines e publicações independentes, confiram.







1-(Salada Itinerante) Praticamente sua historia se confunde com a historia do punk rock no ABC paulista uma vez que você viveu o inicio da cena punk por lá tanto acompanhando shows gigs quanto publicando editando e lançando fanzines gostaria que fizesse um paralelo de sua história com a historia do punk rock no ABC ?

1-(Thina Curtis) Verdade, sempre tive grande influência não só do estilo musical, mas da atitude punk, a ideia do faça você mesmo, o de correr atrás e fazer.
Vivenciei de perto a época das greves, as lutas sociais tudo era muito próximo devido a relação do meu pai com movimentos de esquerda então cresci com isso já enraizado.
E fanzines e movimento punk tem uma conexão muito forte.
Tenho grandes amigos de bandas, professores, ativistas sociais e culturais, faz parte de mim.



2-(Salada Itinerante ) Como você consegue conciliar sua vida pessoal uma vez que você é mãe e dona de casa com os trabalhos de Arte educadora , poetisa e editora de fanzines e jornais ?

2-(Thina Curtis)Creio que tudo que fazemos com alma, amor, tudo que é verdadeiro flui.
Da pra conciliar, ser presente, da pra ser mulher, mãe, poetisa fanzineira rs, da trabalho, mais vale a pena, creio que não me sentiria feliz se tivesse que abrir mão de algo que gosto e acredito. Tenho 2 famílias rs, a minha que construí e a das artes.






3-(salada Itinerante) Atualmente você vem trabalhando como arte educadora em uma escola no extremo leste da cidade de São Paulo no Bairro do Jd São Rafael , explique-nos um pouco sobre este trabalho ?


3-(Thina Curtis) É gratificante poder fazer algo dentro de uma escola, embora a maré sempre tende a ser contra.

As periferias precisam muito de projetos assim, e de pessoas que acreditem nisso também. Não adianta ter projetos culturais se não houver parceria, apoio.

Eu adoro trabalhar com a molecada, é um trabalho de formiguinha, mas tem suas compensações!

A inclusão de atividades na área de comunicação popular(fanzines, jornais,publicações independentes) é mais um passo significativo no sentido de possibilitar aos jovens novas oportunidades de formação cultural e social.

Estou também em outro projeto de Arte Educação em uma escola na zona norte de SP, junto com a Fabi Menassi(que também é minha parceira nas hqs) e Carlos Rogério Amorim( Central Zine/AfroEscola) tocamos o Projeto Arte Moderna E Contemporânea.






4-(Salada Itinerante ) Você faz parte do Coletivo Fanzinada , coletivo que realiza diversos eventos dedicado aos fanzines tanto na cidade de São Paulo quanto fora da cidade , conte-nos um pouco sobre a historia do Fanzinada e suas edições . Como funcionam e qual a periodicidade dos eventos que vocês realizam ?

4-(Thina Curtis)Sim, sou responsável e faz tudo também rs.
Surgiu mesmo de várias necessidades ligadas aos fanzines.
Surgiu a princípio para fanzineiros lançarem/divulgarem seus trabalhos, trocarem ideias, comemorar o dia internacional do fanzine.
E depois o Dia Nacional do Fanzine que acabamos de certa forma sendo responsáveis.
A  Fanzinada é uma mistura de várias linguagens artísticas e culturais. Acabou se tornando um evento de referência no circuito dos fanzines, por ser um evento envolvente, itinerante e criativo. É uma ação simbólica pela preservação da memória dos fanzines no Brasil.



Sempre estamos fazendo exposições com zines antigos, clássicos, raros e ao mesmo tempo tendo lançamentos de zines novos. Independente se a pessoa que esta lançando já é uma veterana ou é o primeiro zine.
Pessoas de todas idades já lançaram zines conosco!
E assim sigo dando continuidade na história zineira DIY.
E aí também não temos uma periodicidade.
Fanzine para mim é mais que uma paixão é missão mesmo!






5-Salada Itinerante) Recentemente tivemos a extinção do ministério da cultura , apesar disso os eventos artísticos e culturais continuam resistindo , tanto na periferia quanto em todas as imediações da cidade .Qual sua opinião frente a o fim deste ministério e como você vê os eventos artísticos e culturais atualmente?


5-(Thina Curtis) Tempos difíceis esses.
Tempos que me fazem pensar na ditadura.
A arte ela vai resistir sempre isso é fato, somos guerreiros, espírito livre! Vivemos a Utopia!
Saímos perdendo em relação a tantas coisas que eram realizadas devido ao Ministério.
Projetos, editais, verbas, intercâmbios...
Um país que não valoriza sua cultura é um país que só pode ter o resultado que estamos tendo agora nesse momento.
Violência,caos, um povo que não lê, não é politizado, logo não conhecem seus direitos, isso porque estamos numa suposta democracia.
A cultura ela tem que ser ensinada desde o ventre.




6-(Salada Itinerante) Recentemente você participou do 22 º Fest Comix um festival de Hqs já tradicional , como foi a experiência de realizar uma oficina de fanzines em um dos mais tradicionais eventos de HQs do Brasil ?
6-(Thina Curtis) Gratificante!
Primeiro tenho que agradecer a “Gabriela Franco” do Minas Nerds que tem aí um trabalho muito bacana de empoderamento feminino nas Hqs e Cultura GEEK E Pop, e levar o fanzine a locais assim sempre é muito bacana, muita gente ainda hoje em dia e ainda nesses eventos não conhecem fanzine e não sabem as possibilidades incríveis através dele.
Curti bastante o evento!











7-(Salada Itinerante) O universo dos quadrinhos e dos fanzines sempre foi composto em sua maioria por homens , como você analisa a participação feminina no mundo das artes sequencias e no mundo dos fanzines ?


7-(Thina Curtis) Realmente o universo dos quadrinhos é bem complicado quando pensamos na participação feminina.
É muito conservador, machista, embora isso esteja mudando, e para isso muita discussão e muita luta.
Mais também existe muita mulher que produz e as pessoas não conhecem, as meninas se sentem inseguras de participar de eventos que praticamente sempre foi frequentado por homens.
Isso é incomodo pra mim, porque pra mim a arte não tem sexo! Ela é única, igualitária.
Homens e mulheres podem ser bons quadrinistas, roteiristas, ilustradores etc...
Em relação aos fanzines creio que ele por si só já traz algo mais libertário e não seja tão restrito quanto os quadrinhos.
Sempre vi bem mais mulheres produzindo fanzines do que hqs.
Até porque os zines podem ser de qualquer assunto.


8-(Salada Itinerante) Atualmente estamos passando por um conturbado momento na historia política nacional , como você enxerga isso . qual o posicionamento que você busca ter referente a isso e de que forma você aborda isso tanto nos fanzines quanto com as crianças que você trabalha ?

8-(Thina Curtis) Que elas leiam, pensem, questionem.

Produzam, criem, não fiquem na inércia ,sendo marionetes sendo manipulados.

Vivemos um fogo cruzado atualmente.

Porem com tanta coisa ruim é hora também de repensar a escola,a política, os conceitos.

A necessidade de revisão do sistema educacional brasileiro é evidente. 











9-(Salada Itinerante) Durante um tempo você trabalhou como arte educadora na fundação casa , como isso marcou sua carreira e quais as experiências marcantes você viveu por lá que possam ser citadas ?

9-(Thina Curtis) Deixou marcas, o quanto precisamos urgente de cuidar de nossos jovens.
O quanto a família faz a diferença.
O quanto o descaso de toda uma sociedade para nossas periferias estão cada vez mais levando adolescentes talentosos, sonhadores, crianças ainda para o crime, para as drogas.
Com certeza o que mais me marcou foi ter trabalhado na Casa das Mães, lá me vi sem chão,ao mesmo tempo foi um desafio, ministrava oficinas para mães e bebês.
Foi uma experiencia única que vou carregar pra sempre em minhas lembranças, sempre me emociono quando lembro do tempo que passei lá, ali você ve o quanto é importante a arte, a educação, o quanto coisas simples como um sorriso e um abraço podem fazer a diferença na vida dessas meninas e bebês.
Através dos fanzines tivemos um vínculo materno, fraterno, enquanto produzíamos.
creio que a arte tem essa característica. O olhar para o outro, se colocar no lugar do outro romper pré-conceitos.


10- (Salada Itinerante ) Quais as principais dificuldades que impedem os artistas independes de publicarem hqs e fanzines no Brasil . O que você acha que mais impede a produção artística independente neste pais?

10-(Thina Curtis) Creio que desde sempre é a grana para bancar o trabalho autoral.

Pq hoje em dia temos muita coisa a favor em questão de divulgação, espaços, mídias.

A falta de verba para fazer os projetos acontecerem acaba sendo o fim dos projetos.

Nas hq's sinto falta da identidade cultural. Parece que as pessoas tem medo de falar sobre o que vive, sobre nossos problemas, sobre nossas riquezas.

Valorizar o que temos a nosso favor e de melhor.

Ainda vivemos em tempos de cultura de massa, só vende hq se for super-herói e gringo.

Nada contra heróis gringos, curto, coleciono e tal, porém sinto falta de representatividade.

Estamos avançando mais ainda em câmera lenta.






11-(Salada Itinerante) Para finalizarmos deixe um recado a todos que admiram seu trabalho , deixe uma previa sobre os seus próximos projetos o que esta por vir da mente desta ruiva militante dos fanzines ?
11(Thina Curtis) Eu agradeço a todos que me seguem, comentam, me escrevem, me enviam fanzines!
Me incentivam de alguma forma!
Agradeço você Danylo por me ceder esse espaço para falar um pouco dos fanzines.
Bom estou envolvida com várias coisas ligadas aos zines, quadrinhos, poesias.
Semana que vem dia 07/08 a Fanzinada estará participando mais uma vez do Festival de Inverno de Paranapiacaba e teremos uma programação muito bacana!
Temos alguns eventos marcados para esse ano também.
E eu estou sempre por aí em algum evento, seja prestigiando, seja ministrado oficinas, palestras, participando de debates.
Em agosto também farei umas intervenções com Fanzines em parceria da Secretaria da Juventude de Santo André.
O importante é não parar, é estar em movimento em ação!

Neozine
Eu hoje amanheci
Uma colagem de mim mesma
Um mosaico de sentimentos
Uma xerox multiplicada
Do meu interior
Colada, reescrita
Um carimbo na memória
Um impresso de emoção
Composta em diversas texturas, cravadas na alma
Em vários procedimentos e possibilidades
Um experimento ilustrado
Uma releitura em vários contextos
Meu nome é pluralidade
De uma leitura original
Atemporal
Espalhada por aí...
Thina Curtis


Próximo evento do coletivo fanzinada


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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Vanusa - 1973








Com sua voz doce, mas nem por isso, menos letal, Vanusa nos brinda com sua obra prima auto intitulada de 1973. Um disco admirável e  que sintetiza o auge da cantora - que une o que há de mais conciso em seu repertório, pois assim como o fez no disco de 1969, mescla diversas influências que dão o toque de mestre ao conjunto da obra.
O disco abre com “Manhãs de Setembro”(Vanusa – Mario Campanha), que é uma das músicas mais bonitas da cantora, e  uma das mais belas da MPB. Em seguida “Você Não Morreu”(Antônio Marcos – Portinho),que não deixa por menos e escancara uma interpretação inspiradíssima.
Um  dos fatos mais intrigantes e que dá o tempero especial à bolacha, está contido na música “What To Do” (Papi – Alf Soares) que possui semelhança com “Sabbath Bloody Sabbath” dos ingleses do Black Sabbath. O mais curioso é que o disco do Sabbath foi lançado meses depois do disco da cantora. Polêmicas a parte – a verdade incontestável é que as duas canções são excelentes e o fato da versão dos ingleses ser infinitamente mais conhecida não é demérito para a interpretação inspirada da cantora. Absolutamente desnecessário dizer que as demais canções do disco são igualmente empolgantes e tornam o conjunto da obra indispensável.
Se você não conhece esse disco, não perca tempo, pois o tempo é implacável com os que se privam de conhecer admirável expressão artística, e Vanusa não se faz de rogada quando se fala em trabalhos de qualidade.



(Texto: Robério Lima)

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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sebah de Assis - O Som do Bando Rock Rural e Resgate Cultural.




Sebah de Assis musico e gestor de projetos culturais do Ceu (Centro Educacional Unificado ) São Mateus , concedeu esta entrevista para o nosso blog falando sobre sua carreira musical além do seu projeto cultural O Som do Bando que se trata de uma confraria de músicos que se reúnem  mensalmente para  celebrarem um resgate as musica autoral mesclando influencias de musica  mineira de raiz , rock and rol e mpb  o projeto vem ganhando espaço no circuito musical independente de São Paulo , confiram isto e muito mais na entrevista a seguir ,












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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Songbook Noel Rosa - Vários (1991)








Noel Rosa foi o grande modernizador da música popular brasileira. Vivendo na época em que a indústria fonográfica começa a expandir a música para grandes públicos, o compositor oriundo da classe média e ex-estudantes de medicina foi um dos responsáveis pelo samba deixar ser um batuque relegado ao fundo do quintal da Tia Ciata e outras famílias (na sala principal tocava-se chorinho)ou aos morros e assumir o padrão de música símbolo dos sentimentos das diferentes classes de um país que precisava repensar-se enquanto nação. A música popular brasileira (não confundir com música de massas, que é outro papo) tal qual a conhecemos hoje é fruto, sobretudo, da obra do poeta da Vila. Sua linguagem coloquial, sua abordagem dos diferentes sentimentos das diferentes classes, seu humor requintado (como definiu Bernard Shaw: aquele que arrasta uma lágrima com a risada), suas melodias em consonância com as letras, suas crônicas da vida carioca dos anos 30, seu talento para
criar em vários estilos e mesmo assim se manter ligado ao samba, sua aversão -sem xenofobia - a estrangeiros, tudo em Noel era moderno. Moderno e original. Sem se prestar ao papel de compositor oficial - papel que muitos sambistas adotaram ao passar a compor, em troca de um bom apoio, letras que estivessem em sintonia com a ideologia do Estado getulista - o filósofo de Vila Isabel se manteve independente e original até o fim de sua curta vida. Foram necessários apenas 26 anos para que virasse a música brasileira de pernas pro ar, fazendo-a evoluir como nunca, e deixasse um legado de quase trezentas canções.
Almir Chediak também teve vida curta. Viveu pouco mais de quarenta anos. Assim como Noel foi vítima da doença de seu tempo. Noel morreu da incurável tuberculose. Chediak foi vítima da violência urbana. E se o filósofo do samba deixou uma vasta obra de canções populares, o professor de violão, arranjador e compositor de trilhas deixou seus preciosos songbooks, livros musicais, lançado pela sua editora "Lumiar" que decodificavam as obras dos grandes nomes da nossa música, revelando em detalhes suas partituras e conceitos a partir do ponto de vista do próprio compositor. A idéia surgiu na casa de Caetano Veloso, enquanto Almir dava aulas de violão a Moreno, filho do cantor. Quando foi a vez de criar o de Noel, o organizador pediu a vários compositores da música brasileira de então que dessem concepções mais atuais ao trabalho do compositor, falecido há mais de cinquenta anos. Foi quando Moraes Moreira sugeriu que gravassem um disco com cada um dando sua versão de cada música. Nascia assim o primeiro do extenso catálogo de songbooks gravados e lançados pela "Lumiar discos".
Lançado em 1991, "Songbook Noel Rosa", o disco, reúne uma verdadeira constelação da música brasileira. A linha evolutiva traçada pelo talento do jovem de Vila Isabel encontra ali seus resultados. O disco abre com Tom Jobim dando sua visão de "Três apitos". O compositor carioca, que tem na sua bossa-nova a continuação natural da modernização de Noel, recria, com seu natural requinte e sofisticação, o samba-crônica que trata de um Brasil que deixa de ser rural para se modernizar com fábricas de tecido, buzinas de carro, operárias e tudo mais. Tom aparecerá de novo cantando "João Ninguém", canção em que o poeta retrata os tipos que não eram nem operários nem burgueses, os marginalizados pelo sistema. "Gravei essa música porque no Brasil hoje todo mundo é João Ninguém", fuzilou o maestro na época das gravações. Os tropicalistas Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa também marcam presença. Gil com o clássico "Com que roupa?", primeiro sucesso do compositor datado de 1930, que tinha em seus compassos iniciais uma referência ao hino nacional (levemente substituídos para evitar problemas com a ditadura Vargas) e cuja letra mostra de maneira irônica como ficou a situação do país após a crise de 29; Caetano faz uma versão joãogilbertiana de "Meu barracão" desnudando o fio condutor que une Noel, Bossa-Nova e Tropicália; Gal Costa coloca sua bela voz, acompanhada pelo preciso violão de Marco Pereira, a serviço de "Último desejo", primorosa canção, exemplo inconteste da habilidade do jovem músico de combinar perfeitamente letra e melodia, cuja partitura foi ditada pelo artista em seu leito de morte como um recado para sua amada Ceci. Chico Buarque, que no início de sua carreira chegou a ser comparado ao filósofo do samba tanto pelo conteúdo quanto pela forma de suas letras, aparece com sua irmã Cristina cantando "Cem mil réis", samba feito com seu frequente parceiro, o pianista paulista, Vadico, o preferido de Sergio Buarque de Holanda. João Nogueira, sambista que cultivava a malandragem do sambista dos tempos de Noel, aparece em três momentos: sozinho em "Conversa de botequim", uma das mais bem feitas crônicas da música brasileira que estampa em seus versos hábitos, linguagens e personagens da vida carioca de então, e "Não tem tradução", obra-prima que aponta a participação do cinema falado - arma usada pelos Estados Unidos para espalhar o seu way of life pelo mundo - na descaracterização de costumes e falas nacionais (Mario de Andrade deve ter vibrado com essa!) terminando com o imortal verso, "Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro já passou de português", nada mais brasileiro, e o que é melhor, sem precisar ser xenófobo ou ufanista; Nogueira aparece também acompanhado de Luiz Melodia, compositor nascido e criado no bairro Estácio de Sá e que possui com o bairro a mesma identificação que Noel tinha com a sua Vila isabel, cantando "Feitio de Oração", clássico da nossa música popular que afirma o samba como uma expressão da sociedade brasileira como um todo e não exclusiva de uma ou outra classe ("O samba na realidade não vem do morro nem lá da cidade..."). Melodia volta a aparecer, dessa vez acompanhado pelo bossanovista Carlos Lyra, em "O X do problema", samba aonde o poeta enaltece o Estácio como reduto de sambistas (e, portanto, de identidade nacional) e repele a moda de estrangeirismos que invadia o país ("e não acredito que haja muamba que possa fazer eu gostar de você"). Lyra também aparece acompanhando Veronica Sabino em "O orvalho vem caindo"; Maria Bethânia, enaltecedora costumas da obra de NR e que teve em Aracy de Almeida, a grande intérprete de Noel Rosa e que ajudou a resgatar sua memória na década de 50 gravando o histórico "Aracy canta Noel", uma grande amiga na época em que chegou ao Rio, faz uma interpretação estonteante da bela "Pela décima vez". O, então, pescador de pérolas, Ney Matogrosso, acompanhado do primoroso violão de Raphael Rabello e do piano de Francis Hyme, lança seu olhar sobre "Feitiço da Vila", declaração de amor do poeta ao bairro em que sempre viveu, feita durante a famosa polêmica com Wilson Batista - o entrevero só ficou conhecido do grande público depois de ter sido lançado em 1956 pela Odeon, o 10 polegadas "Polêmica entre Wilson Batista e Noel Rosa". O disco contém outro fruto da pendenga - episódio que de certa forma contribuiu para universalização do samba, entre o branco de classe média ,malandro medroso, compositor de relativo sucesso cuja a malandragem era mais uma postura anti-sistema (preferia ser chamado de rapaz folgado) e o negro de navalha no bolso e lenço no pescoço, o tipo de malandro que o outro gostaria de ter sido: "Palpite infeliz" cantada pela sexta geração do conjunto vocal "Os Cariocas". João Bosco, que teve como parceiro constante um outro grande poeta da Vila, mostra que sua familiaridade com onomatopeias faz dele o intérprete ideal para a genial "Gago apaixonado", Moraes Moreira leva as marchinhas de Noel para o carnaval da Bahia com sua interpretação de "As pastorinhas", composta em parceria com João de Barro, companheiro dele no Grupo dos Tangarás, responsáveis pela primeira gravação de um samba com a inclusão de instrumentos de percussão - até então não usados em sambas gravados (É...ele fez mais essa!); Cassiano coloca "Pra que mentir" no universo do "Soul Brasil", Djavan só precisa da sua voz e seu violão para recriar de forma magistral "Tarzan, o filho do alfaiate", Roberto Menescal empresta seu violão bossa-nova para "Quando o samba acabou" desfilar na voz de Leila Pinheiro, Jards Macalé aparece com suas harmonias inusitadas no belo poema "Cor de cinza", o violão de Rafael Rabello reaparece acompanhando a voz barítono de Nelson Golçalves em "Pra esquecer" e o rockeiro Eduardo Dusek encerra em grande estilo dando novos tons à obra-prima "Quem dá mais?",uma irretocável crítica ao leilão de coisas tipicamente nacionais, promovido pelo "modernizador" Estado varguista para escapar da crise ao mesmo tempo em que procurava firmar a identidade do país ("Quem dá mais/ por um violão que toca em falsete/ que só não tem braço, fundo e cavalete pertenceu a Dom Pedro/morou no palácio/foi posto no prego por José Bonifácio?"). 
Faltaram músicas (Filosofia, Coisas Nossas), faltaram artistas (Martinho da Vila, Paulinho da Viola), mas não se pode ter tudo.E como concluiu o soberano maestro Jobim: "Noel deve estar contente em ver tanta gente boa tocando sua obra". Depois desse, vieram outros mais abrangentes e completos ( o de Chico Buarque tem seis volumes). Não podemos saber aonde a obra de Noel e, consequentemente, a música brasileira poderiam chegar, caso ele tivesse vivido mais. No entanto, Chediak ao produzir esse álbum duplo, inaugurador do grande resgate de importantes obras e compositores, nos dá preciosas pistas. Mais que um disco, um documento. Uma justa reverência de alguns de nossos mais importantes artistas musicais ao maior gênio da Música Popular Brasileira.



(Leandro L.Rodrigues)
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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Roberta Sá - Brasileiro (2005)









A capa de Braseiro traz Roberta Sá de blusa verde e brincos dourados à beira de um rio com extensa vegetação na margem e um céu azul ao fundo. Em volta de seu nome e do título do álbum, um losango. Como se não bastasse, a música título de Pedro Luís (que posteriormente tornou-se marido da cantora) traz versos como ``Tão vendendo ingresso pra ver nego morrer no osso/ Vou fechar a janela pra ver se não ouço a mazela dos outros´´, além de citar Martinho, Melodia, Wando, Ataulfo e Caetano. Estava mais do que claro: o brasileiro em questão era o Brasil. E o disco tinha a proposta de canta-lo.
Produzido pelo tarimbado Rodrigo Campello, que já havia tocado com nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, entre outros, o disco era dividido com metade regravações de artistas já consagrados e outra de nomes que brilhavam na, então, nova geração. A cantora potiguar que havia tentado firmar-se através do “Fama”, da Tv Globo, mas não conseguiu se encontrar no estilo “enlatado” que a produção do programa dava às músicas, saindo logo nas primeiras semanas, agora tinha a chance de mostrar ao público seu real estilo. O disco abre com “Eu sambo mesmo”, samba gravado pelo grupo vocal Anjos do Inferno na década de 40 e recriada magistralmente por João Gilberto anos depois, cuja letra fala da dificuldade de aceitação do samba por alguns setores da sociedade, e “Pelas tabelas”, samba feito por Chico Buarque - a grande referência da artista - na época das “Diretas Já”, essa com destaque para o violão de 7 cordas de Campello e a interpretação precisa da cantora. A conversa direta com o repertório de dois ícones de períodos emblemáticos da música brasileira, deixa claro que a intenção não é simplesmente fazer regravações mas, conversar com alguns momentos pontuais da nossa música, sobretudo do samba. Outros clássicos presentes são: “A vizinha do lado”, clássico de Caymmi -grande compositor da fase pré-bossa nova da nossa música e responsável por João Gilberto ter a chance de gravar seu primeiro disco - que Roberta gravou num cd demo que foi parar na mão de Gilberto Braga que decidiu incluir na trilha de uma novela que ele escrevia, o que abriu (e muito!) os caminhos da artista, com o multi-instrumentista Dirceu Leite brilhando na clarineta; “Valsa da solidão”, canção do início da carreira de Paulinho da Viola (responsável pela reformulação do samba na década de 60) e “Cicatrizes”, canção título do antológico Lp de 1972 -marco da música brasileira contra a censura ditatorial - do MPB-4, que participa inclusive dessa regravação. Da nova geração, temos a já citada canção-título “No braseiro” que conta com a participação de Pedro Luís nos vocais e que ao final continha uma citação à “Cantos das três raças” de Clara Nunes, que teve que ser retirada devido a uma reclamação de Paulo César Pinheiro , autor da música e marido de Clara, que alegou que a música fora incluída sem nenhuma autorização. Curioso é que o mesmo Paulo César é o letrista de “Cicatrizes”, que faz parte do disco; também da nova safra vem “Casa pré-fabricada”, aqui numa versão elegante conduzida por um trabalho vocal impecável, a bateria de Wilson das Neves, o baixo de Zeca Assumpção, além do cello clássico de Hugo Pilger , o piano do também-produtor Paulo Malagutti e o violão preciso de Rodrigo Campello que transforma o rock dos Los Hermanos – a grande banda brasileira de então – em cool jazz. Nota 10. A canção seria gravada por Maria Rita no seu “Segundo” disco num estilo parecido com o apresentado em “Braseiro”. “Lavoura”, de Teresa Cristina, sambista de destaque nos anos 90, mas que só ganharia a oportunidade de lançar discos nos anos 2000, conta com o auxílio luxuoso de Ney Matogrosso nos vocais, o dueto entre os dois dá ao triste samba um tom ainda mais dramático; “Ah, se eu vou”, do pernambucano Lula Queiroga, é o ponto alto do lp. Com o violão preciso de Campello, a batida inconfundível da Parede de Pedro Luís e os vocais irrepreensíveis de Roberta, a música, que fala sobre coco, a ciranda de Lia do Itamaracá e rodas de samba, levanta a poeira e prova o talento da artista em imprimir sua marca a composições alheias. “Olho de boi”, do também novato Rodrigo Maranhão, encerra o disco com beleza e delicadeza.
Com suavidade, personalidade e simpatia, Roberta Sá apresentou assim sua carta de intenções. Passeou pela história do samba, pelas realidades do braseiro Brasil e deixou sua marca tanto em sambas consagrados quanto em canções recentes. Depois disso ainda levou (junto com Pedro Luís e a Parede) o terceiro lugar no Festival de Música Brasileira da Tv Cultura, aproximou sua música de um som mais pop no premiado “Que estranho dia pra se ter alegria”, mostrou seu talento como compositora, fez do samba, reza e se firmou como uma das grandes cantoras do país. Mas foi com “Braseiro”, e sua junção de passado, presente e futuro, que o público mais atento pode perceber que o século XXI já tinha dado à música brasileira uma grande cantora.



(Texto: Leandro L. Rodrigues)




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quinta-feira, 7 de julho de 2016

New Order – Substance








Em 1986, se você quisesse ficar antenado em tudo que estava rolando de melhor na cena pop rock da época, o melhor a fazer era se mandar e passar uma temporada em algum lugar da Inglaterra. Para quem isso não era possível, o ideal então era devorar a cada mês um exemplar inédito da revista Bizz. Ou passar as madrugadas de sábado assistindo videoclipes na TV Gazeta.
No final daquele ano, li naquela revista um artigo sobre um grupo chamado New Order. Não demorou muito tempo, assisti ao vídeo da banda. Era bem simples, não por isso menos belo com os quatro integrantes focados bem de perto tocando seus instrumentos com perfeição, apesar da timidez e mau humor característicos de todas as bandas inglesas daquela década.
Logo depois, era lançada uma coletânea do grupo. Substance, aqui lançado como LP duplo. Lembro-me de uma festa que eu fui em que vi um carinha com o disco no braço. Eu, que na época não tinha nem dez anos falei: “New Order...coloca ‘Perfet Kiss’ pra tocar...”. A expressão do jovem era meia de susto e de decepção: “Mostro a capa desse disco pra todos meus amigos e eles sempre me perguntam que grupo é esse...”. Logo, um amigo da nossa turma comprou o álbum e pude ouvir na íntegra. Quando comprei o CD importado nos anos 90, vi que era duplo também, porem, um disco continha todas as faixas do vinil duplo e o outro CD era de faixas bônus com lados B de singles e algumas versões alternativas.
O New Order surgiu das cinzas do Joy Division (que também teve uma coletânea chamada Substance) após a morte do vocalista Ian Curtis em 1980. O guitarrista Bernard Summer assumiu os vocais e, como se percebe nas primeiras faixas de Substance, no começo ele ainda imitava o vocal sombrio de Curtis. A primeira faixa, “Ceremony” se inicia com uma guitarra bem sombria, mas quando entra o riff se torna mais dançante e pulsante (há alguns anos vi um vídeo da canção com cenas do filme Maria Antonieta de Sofia Copolla).  “Everything’s Gone Green” é  bem soturna , marcada pelos vocais fantasmagóricos , forte batida e programações eletrônicas.
Mas foi com “Blue Monday” que o grupo se apresentou de vez ao mundo. Uma música criada através de puro talento e inspiração Divina. Uma batida capaz de marcar a vida de qualquer um, diversas camadas de teclados e sintetizadores, efeitos, riff de guitarra. É o New Order deixando seu nome na História da música: surgiram de um dos maiores nomes do Pós Punk para se tornarem uma das mais importantes bandas de música Eletrônica de todos os tempos.
“Thieves Like Us” mostra como os arranjos da banda eram tão sofisticados que não precisavam se preocupar em entrar logo com os vocais, ou com o tempo de duração das faixas. Algo que lembra muitas vezes o conceito de Rock Progressivo. “Perfect Kiss”, a tal música do vídeo clipe, é exatamente assim, como um Prog Rock, uma viagem que apresenta todas as faces da banda, ora destacando cada instrumento, ora com todos de uma vez numa potente explosão sonora.

Ainda contém outro enorme clássico da banda, e um dos maiores dos anos 80, “Bizarre Love Triangle”, Synth-pop que mostra a sofisticação do som da banda e que mostra que apesar da seriedade dos integrantes da banda, não havia problema nenhum que eles fizessem as pessoas dançar com sua música.


(Texto: Francisco Oliveira)
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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Rita Lee/ Os Mutantes - Hoje É O Primeiro Dia Do Resto De Nossas Vidas (1972)









``Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida´´ é, na verdade, o último disco da formação clássica dos Mutantes, ainda com Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sergio Dias e Liminha. Como em 1972 a banda já havia lançado o ``Mutantes e seus cometas no pais dos baurets´´ e o contrato com a gravadora dava direito a apenas um Lp por ano, a banda decidiu lançar o novo álbum apenas com o nome da Rita Lee.
Sem clássicos, mas cheio de pontos altos, "Hoje é o primeiro dia..." é uma despedida à altura de uma das (se não a mais!) importantes bandas do rock brasileiro. A guitarra de Sergio Dias brilha intensamente e dá um show à parte na faixa de abertura (Vamos tratar da saúde), com talk box no tango "Beija-me amor" (com letra inspirada de Élcio Decário) e em "Amor branco e preto" (em homenagem ao Corinthians), enquanto a cozinha formada pelo poderoso baixo de Liminha e a bateria de Dinho Leme fazem uma marcação certeira de ponta a ponta. Arnaldo Baptista - marido de Rita na época e também produtor do disco - deixa sua marca individual em "Superfície do planeta", além de dividir os vocais em três outras faixas, participar da composição de todas as músicas e botar sua piano pra ferver. Rita Lee (que também desenhou a capa) destaca-se no álbum inteiro com seu deboche, sua voz e as sacadas de suas letras ("Que tal um chá chá chá pra gente se achar?"). A velha pegada tropicalista dos Mutantes se evidencia na faixa-título (inspirada num provérbio hippie), "Tiroleite", "Frique comigo", "Teimosia" e "De novo aqui meu bom José" - com os vocais multiplicados de Rita formando um coral. Como todos os discos da banda, "Hoje é o primeiro dia..." é rock sem deixar de ser brasileiro e brasileiro sem deixar de ser rock.
"Entendeu?", a pergunta de Arnaldo Baptista encerra o álbum e a fase clássica da banda que quatro anos antes, ao lado de Gilberto Gil, do maestro Rogerio Duprat,de Caetano Veloso e de Tom Zé, virara a música popular do Brasil de pernas pro ar com o tropicalismo. O rock dos Mutantes aproximou a música brasileira da psicodelia e do rock inglês. Décadas depois, artistas estrangeiros renderiam reverências à banda e iniciariam um culto internacional ao grupo. Arnaldo encerrava esse ciclo sentindo que boa parte do público ainda não tinha captado seu som e mensagens.
O resto da vida foi assim: Rita partiu para uma vitoriosa carreira ao lado do Tutti-Frutti - com quem gravou os antológicos "Fruto Proibido" e "Entradas e Bandeiras" - e depois mergulhou no pop ao lado do futuro marido Roberto de Carvalho; Arnaldo gravou o seminal "Lóki?"e depois formou o "Patrulha do Espaço", até sua carreira ser interrompida por crises e internações o que o levou a produzir erraticamente; Liminha se transformou num dos grandes produtores dos anos 80/90 e Sergio Dias tentou levar a banda adiante com um som mais voltado ao progressivo...
As confusões para o lançamento, além do tumulto interno pelo qual poassava a banda fizeram de"Hoje é o primeiro dia..." um disco negligenciado na carreira da banda. Uma joia esquecida na história da nossa música.
Pode ouvir sem medo...Você só terá a ganhar... 



(Texto:Leandro L.Rodrigues) 




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sexta-feira, 1 de julho de 2016

O Nó - Rock Progressivo e Muito Mais.









Aos que procuram um ponto de segurança, onde a sustentação é determinada pelas tendências de mercado e suas armadilhas previsíveis - uma triste constatação vem à tona; bandas com ideias superficiais e sem personalidade terão sua existência abreviada, graças a um esquema frequentemente utilizado pelos que pretendem atingir o sucesso e obter reconhecimento a qualquer custo. Pois o que há de mais legítimo em qualquer expressão artística é, sem dúvida nenhuma a personalidade. Para os que fogem desse esquema e procuram trilhar caminhos mais arenosos, a recompensa pode vir á longo prazo e, talvez esteja aí o sentido em trilhar o caminho mais difícil. Como exemplo, podemos citar os paulistanos do O Nó, que já no nome procura incorporar uma estética pouco usual e até vintage para evidenciar sensações artísticas em toda sua plenitude. 
Para conhecermos melhor esse, que em minha opinião é uma ótima opção para os que fogem do óbvio, falaremos com Mateus Bentivegna responsável pela bateria do grupo.




SI – Nos fale um pouco mais sobre O Nó, dê mais detalhes ao leitor sobre a trajetória da banda até os dias de hoje.

A gente começou em 2014, mas como um trio, na verdade. Eu conhecia o Ale, que toca guitarra, e ele conhecia o Rodolfo, baixista, e a gente meio que só decidiu tocar juntos. O som era bem diferente antes, tinha até uma pegada que lembra o pós-rock, era bem menos “colorido” e “brilhante”, eu acho. A gente acabou gravando algumas músicas no celular mesmo, fizemos alguns shows, mas quando o Matheus entrou pra tocar sintetizador a gente meio que recomeçou os trabalhos, fizemos músicas novas, mudou bastante o som. Tanto que a gente nem toca mais essas músicas mais antigas.

SI – O direcionamento musical de vocês é um ponto bastante interessante a ser observado, pois transpira uma série de referencias. Quais foram os cuidados para não se tornarem apenas um pastiche dentre suas influências?

Acho que a partir do momento que você une referências distintas, e cria algo seu a partir delas, um resultado diferente vai acabar saindo disso de qualquer forma. Eu acredito que não corremos perigo de virarmos um pastiche justamente pela grande disparidade de influências e gostos de cada membro.





SI – O público da banda não é um público convencional e isso fica muito explícito - pois a música é só mais um ingrediente em um contexto onde a parte visual e sensorial também predominam. Isso foi algo que vocês previam quando criaram O NÓ?

Eu pelo menos fico feliz que temos uma quantidade razoável de seguidores que gostam da gente pelas bizarrices que a gente faz. É sempre bom saber que as pessoas tão curtindo, e até agora, só recebemos amorzinho <3 dos internautas hahahah
Acho que desde o começo a gente pensou em fazer um projeto que não fosse só música, só ter uma banda e gravar umas musiquinhas e pronto. Minhas bandas favoritas, e muitas grandes bandas e artistas, conciliam o visual e o sensorial com a música. Os Flaming Lips fazem muito isso, o gigante ancião Pink Floyd, a própria Beyoncé, até. O grande negócio da música popular atualmente é o casamento dessas coisas. Casar a capa do seu disco com o som dentro dele, com o tipo espetáculo que vai ser o seu show, com seus clipes. Até a roupa que você veste, as postagens nas redes sociais, tudo isso faz parte do projeto. Isso interessa bastante a nós quatro. Gostamos de pensar n’O Nó como um projeto maior, que une audiovisual, design, moda, fotografia... Tudo.

SI – A arte do EP também é um ponto a ser destacado, pois transparece muito bom gosto, Quem foi o responsável pela concepção da capa qual foi conceito para que se chegasse no resultado final?

A banda toda se reuniu e foi jogando referências visuais, tanto de outras capas como outros trabalhos gráficos diferentes, e fomos meio que tirando uma coisa daqui, outra dali. Fomos fazendo vários testes, cada um apresentou uma coisa, e no fim, o Rodolfo acabou chegando no resultado final, que é essa brisa espacial e colorida linda.

SI - Recentemente vocês participaram de um evento para a LEVI´s, inclusive gravando uma musica para a ocasião. O quão importante são esses eventos para a banda? Quais são os próximos passos nesse sentido?

Foi na real um concurso da Levi’s, em que escolhiam oito bandas pra gravar uma música cada uma, num estúdio bancado por eles, e dessas 8, três iam passar por uma outra fase por meio de votação pra tocar na Casa Levi’s, que é um pico novo deles. Até ganhamos umas calças hahaha. A gente foi escolhido pra primeira fase, e gravamos uma música que chama “Vão”, que a gente já tocava nos shows há um tempo e ainda não tinha gravado. Foi bem legal, até chamamos um amigo pra adicionar um solo de sax nela, o que acabou mudando muito a música (pra melhor, claro).
Acabamos nem chegando na outra fase. É preciso se empenhar bastante nas mídias sociais e meio que ficar martelando sempre pra pedir votos, e acho que no fim das contas ficamos bem felizes de ganhar uma gravação maneira de graça e da divulgação no geral.
Acho que qualquer ação ou evento desse tipo ajuda bastante apresentando bandas independentes pra uma galera que não as conheceria de outra forma; qualquer incentivo desses já é bacana.

SI - Existem estilos musicas onde se constituem ``uma cena´´ onde as bandas organizam festivais, trocam materiais e fazem as coisas acontecer com a filosofia do faça você mesmo. Como isso funciona para vocês?

O pessoal da música no geral acaba todo mundo se conhecendo no fim das contas, de tocar junto, de ir nas mesmas festas, curtir bandas em comum, essas coisas.
Acho que está tudo entrelaçado mesmo, todo mundo se ajuda e se amplia. A gente já conversou sobre colaborações, tocar junto, com os caras do Raça, que já lançaram o primeiro LP, com os meninos do Retina e dos Amanticidas – inclusive gravamos nosso EP com membros de ambas – , Marulho, Goldenloki... Em suma, é bem isso mesmo. Mesmo que o som de cada um seja distinto no geral, a gente acaba formando uma cena, por assim dizer, meio que por ser todo mundo do mesmo lugar e fazer música ao mesmo tempo. Todo mundo no mesmo barco hahah.





SI - Conheço seu pai há muitos anos e lembro que ele tinha uma grande coleção de discos. Tanto para você como para os demais integrantes - houve uma formação ``caseira´´ por intermédio do gosto pessoal do pai de cada integrante e o quanto disso aparece no processo de composição?

Olha, pra ser bem sincero, uma boa parcela da coleção do meu pai acabou virando a minha própria coleção. hahahah.
Não posso falar muito pelos outros da banda, mas acho que muito do que eu ouço hoje, e ter essa coisa de gostar de estilos completamente bizarros e diferentes entre si tem a ver com o gosto pessoal de todo mundo da minha família.
A gente da banda gosta bastante do chamado “dad rock”, AOR (adult oriented rock), esse rock e pop bregas de AlphaFM que é teoricamente associado com o gosto mais “maduro” dos nossos pais e mães, mas é muito relativo. Minha mãe ouvia É o Tchan comigo, enquanto eu ouvia Ratt e Iron Maiden com meu pai, new age com meus avós... E tudo isso tem influência no som que acabamos fazendo, de um jeito ou de outro. Acredito que todos nós fomos influenciados de uma forma ou outra pelo gosto musical dos pais, tanto pra um lado quanto pro outro.

SI - Para finalizar, gostaria que você falasse sobre os próximos passos da  banda - shows, disco e qualquer informação que julgar pertinente

Atualmente estamos compondo músicas novas, gravando algumas também, e pensando em lançar uns singles soltos, e eventualmente juntar material pra um LP inteiro. Estamos fazendo menos shows por causa disso, justamente pra focar, maasssssss... Temos um show marcado no CULT Club, lá na Barra Funda, no dia 8 de Julho. Vamos abrir pro Sala Espacial, e começa às 19h00. Quem quiser ver a gente e curtir, só aparecer lá. Tomamos umas brejas, conversamos sobre música, sobre a vida hahaha. Acho que é isso! Muito obrigado ;)







(Entrevista: Robério Lima)

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