Destaques

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fito Paez - Circo Beat (1995)








Depois de lançar aquele que é até hoje o disco mais vendido da história do rock argentino, ``el Amor Después Del Amor`` (1992), Fito Paes resolveu ousar: Voltou para sua Rosário natal e, inspirado nos The Beatles de ``Sgt Peppers Loney Heart Club Band´´ e  ``Magical Mistery Tour´´e sob a produção do Roxy Music Phil Manzanera, gravou um disco autobiográfico, caprichado e bem-sucedido: o clássico “Circo Beat”.
No melhor estilo “commedia dell’arte”, o disco abre com um Fito cicerone, o mesmo que aparece de palhaço na capa, chamando os ouvintes ao seu circo. “El circo más sexy, más alto, más tonto del mundo”. Circo Beat (Beatles?). Aos primeiros acordes da faixa de abertura, os fãs mais antenados já podem perceber que “As de poker”, canção que fazia parte do disco “Novela”, suposta trilha para um curta que Fito tinha intenção de filmar e que nunca chegou a lançar, cuja demo tape é hoje objeto de culto entre colecionadores do rock argentino, está ali apresentada com uma nova roupagem, modificações na letra e novo título: Circo Beat. “Psicodelica star em la mística de los pobres”, anuncia a faixa. O circo chegou. O passado, a cidade natal, a infância, a juventude, os sonhos , a realidade do compositor serão passados a limpo nesse disco filme e isso já pode ser percebido logo nessa primeira faixa que termina com um coral que nos remete a “Simpathy for the Devil”, música responsável por um momento antológico do “Rock n’roll Circus” dos Rolling Stones. Os anos 60 já estão na mesa. O hammond de Fito soa inconfundível para “Mariposa Tecknicolor”, o maior hit do rock argentino nos anos 90, entrar em cena. Um pop rock perfeito, cujo refrão foi entoado por grande parte das torcidas organizadas do país, que traz na sua letra a Rosário da infância de Fito, os apertos dos tempos de ditaduras, citações a acontecimentos trágicos de sua vida, além dos encontros e desencontros da vida de todos nós. Universal de tão pessoal. Nota dez! “Normal 1” vem com citações a Ringo afinando “el tambor de Let it be”, em sua letra nostálgica e cordas inspiradas em “Penny Lane”. “Las tardes del sol, las noches del agua” serve-se do poderoso contrabaixo de Guillermo Vadala (fiel escudeiro de Fito nos seus melhores discos) e a gaita de Toots Thielemans para contar em clima jazzístico em caso real. “Tema de Piluso”, outro hit do disco, é uma bela e emocionada homenagem a Alberto Olmedo, o Capitão Piluso, um dos maiores comediantes argentino, também nascido em Rosário, e morto, poucos anos antes, numa queda do 11° andar, num acontecimento até hoje cercado de lendas e hipóteses. “Nada nos deja más em soledad que la alegria se sí va”, canta o poeta lamentando a partida de um ídolo. “She’s mine” é uma irmã de “Un vestido y un amor” (música de sucesso do bem-sucedido álbum anterior) que traz em destaque a maravilhosa gaita de Toots Thielemans e mais uma bem sacada letra de Paez, que assim como em “Un vestido...”, tem na sua então esposa, a atriz Cecília Roth, sua musa inspiradora, mas usa um refrão em inglês para comprovar que em todo lugar “as chicas” e os apaixonados são iguais. A citação de “Strawberry Fields” traz para o circo do argentino aquele que seria o compacto perfeito de “Sgt Peppers (Strawberry Fields Forever/Penny Lane) , que o produtor George Martin decidiu não incluir no álbum, naquilo que ele considera um dos maiores erros de sua carreira. “El jardin donde vuelan los mares” é um rock mais pesado, que faz lembrar a época de “Ciudad de los pobres coraciones”, com metais e um belo solo do guitarrista uruguaio Gabriel Carámbula, líder da banda “Los Perros Calientes” que acompanhou o músico na sua milionária turnê “La rueda mágica”. “Nadie ditiene al amor em um lugar” é uma balada de clima latino e mais um belo trabalho de Fito e seu contrabaixista. “Si Disney despertasse” , uma bela balada no estilo pop que o músico iria abraçar cada vez mais, usa de poesia e citações (Woody Allen, Kubrick, Walt Disney) para lamentar a substituição dos cinemas de rua de Rosário por shoppings e bingos. “Soy Un Hippie” é um rock bem humorado, que traz´, assim como na maioria das músicas do álbum, a ex-esposa de Fito e cantora de sucesso, Fabiana Cantilo, nos vocais de apoio, e fala, de forma divertida, dos conflitos do músico bicho-grilo com o mundo da fama. “Prefiriria Andar Borracho Em El Subte”. Outro sucesso! Um belo steel de Gringui Herrera e o acordeón de Tweety González, além da bela melodia e o piano elétrico de Fito, fazem de “Dejarlas Partir” outro grande momento de beleza com uma letra cheia de situações a outras músicas da carreira do cantor. “Lo Que El Viento Nuca Se Ilevo” é rock alto astral, que traz Fito assumindo a guitarra, mais uma citação ao Stones sessentista (“I Can’t Get No Satisfaction”) e encerra o disco, o circo, o filme nostálgico do músico na sua cidade natal de maneira positiva e alegre. Ao final da canção, o cicerone da commedia dell’arte reaparece para anunciar que o circo se vai. Mas assim como em “Sgt Peppers” anda não é o fim. “Nadas Del Mundo Real” aparece como uma humilde “A Day In The Life” com orquestra e filosofia para encerrar a viagem com a beleza merecida.
“Circo Beat” foi lançado em edição especial no Brasil, com três de suas músicas, “Mariposa Tecknicolor”, “She’s mine” e “Tema de Piluso” cantadas em português com a participação de Caetano Veloso, Djavan e Herbert Vianna em cada uma delas respectivamente, numa tentativa do cantor de lograr êxito no impenetrável mercado brasileiro (“É difícil você fazer sucesso com um trabalho num país que não ouvir alguém cantando em espanhol que não seja o Julio Iglesias”, disparou o cantor na época). O disco foi lançado com sucesso na Argentina, e embora não tenha obtido o êxito comercial do álbum anterior, continua sendo um dos mais bem sucedidos da sua carreira. Um disco emblemático de um artista genial num de seus melhores momentos.


(Leandro L.Rodrigues)
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Yes - Yes Album








O rock europeu tem suas referências inquestionáveis, e uma delas é o Yes - grupo seminal do rock progressivo inglês, que com o passar do tempo provou ser uma das referências do estilo e cravou em sua trajetória vários álbuns que sempre figuram em listas de melhores de todos os tempos. Um  desses registros é certamente “Yes Álbum”.
Lançado em 1971, é o terceiro registro da banda. E o  álbum é no mínimo irretocável. Não é pra menos, pois contava em sua formação com músicos que viriam a se tornar referências indiscutíveis em seus respectivos instrumentos. Uma fusão de genialidade talvez seria uma definição palpável para descrever o que se ouve em pouco mais de trinta minutos. A voz única de John Anderson aliada a guitarra sobrenatural de Steve Howe e a sincronia entre o baixo de Chris Squire e a bateria de Bill Brufford passando pelo teclado de Tonie kaye, engrossam um caldo já deliciosamente saboroso.
“Yours is No Disgrace” abre os trabalhos em alto nível e “The Clap” mostra o poderio das seis cordas comandadas por Steve Howe. “Starship Trooper” é daquelas viagens musicais que não precisariam acabar...não por acaso se divide em três partes, golpe certeiro!
“I’ve seen All Good People” é daquelas que grudam na alma. E “A Venture” e “Perpetual Change” fecham a bolacha em alto nível.
Esse disco é a “ponta do iceberg” na carreira desta seminal instituição da música britânica. Se você já tem o disco, ponha pra tocar no “repeat” e deixe sua sensibilidade se encarregar do resto. Boa viagem!


(Texto: Robério Lima)







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sábado, 27 de fevereiro de 2016

João Gilberto - João Voz e Violão








João Gilberto ao mesmo tempo que é considerado um dos baluartes da música e pilar definitivo da bossa nova, é também incompreendido por muitos que não reconhecem o alarde feito por entusiastas de  sua obra. Seu jeito sussurrado de cantar e a batida que revolucionou uma geração é visto como sem grassa por muitos que procuram uma resposta para tamanho prestígio. A verdade é que sua música é viciante e a cada audição a vontade é de ouvir mais e mais. E se na discografia do mestre todos os álbuns são referências máximas, vou ficar com “João Voz e Violão”.
Não por ser o melhor, mas por ter releituras inspiradíssima e interpretação impecável do mestre, esse álbum possui uma aura muito particular. Em pouco mais de trinta minutos João discorre sobre um repertório que conta com composições de Caetano Veloso (que é o responsável pela direção musical do disco) e Gilberto Gil – reverência do mestre à seus pupilos. As composições de Tom Jobim são recorrentes em sua carreira e “Chega de Saudade”, canção que imortalizou sua obra máxima, é indispensável quantas vezes seja regravada pelo rei da batida. João Gilberto ainda foi agraciado com o Grammy por esse disco, reconhecimento mais que providencial à lenda. Diante de tamanha beleza, o que nos resta é apreciar sem moderação o que a Bahia nos deu de mais pleno em termos musicais, pois a partir de João as ramificações foram as mais frutíferas. Vale lembrar que a modelo que ilustra a capa do disco é Camila Pitanga, que fazendo o sinal de silêncio, chama a atenção do ouvinte para que se atente somente a beleza da criação do mestre que parece estar tocando para cada espectador individualmente, tamanha sua precisão sonora. Mais uma obra indispensável para os que têm a música como combustível da alma!


(Texto: Robério Lima)

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James Brown - Live At Apollo (1962)








``So now, ladies and gentleman, are you ready for the star time?´´, pergunta o mestre de cerimônia e, diante da resposta afirmativa da platéia, apresenta ``Mr Dynamite`` e imediatamente a banda, formada por oito metais, duas baterias, guitarra, órgão e um baixo pulsante, ataca a instrumental ``The Scratch´´ transportando o ouvinte para a Nova Iorque do inicio dos anos 60.
Naquela noite fria de 24 de outubro de 1962, o presidente dos Estados Unidos, John F.Kennedy, acabara de anunciar o embargo à Cuba e as possibilidades da guerra se tornar quente começavam a aumentar. Naquele ano, James Brown fez 350 shows, o que lhe valeu o apelido de “o homem que mais trabalha no show bizz” , embalado pela seqüência de hits que havia enfileirado nas paradas de rhythm n’blues (um rótulo musical que a revista Billboard inventou para poder catalogar na sua parada os artistas que faziam uma música calcada no jazz e no blues, mas que não eram "vendáveis" ao público branco) e no fervor de suas apresentações. Fervor esse que, ele bem concluiu, seus discos não captavam. Era necessário um disco ao vivo. Um disco que mostrasse a todos os públicos no país inteiro do que James Brown e sua banda eram capazes num palco. As “inteligências” que dirigiam a King Records, gravadora do artista, se negaram a bancar o projeto. Segundo a privilegiada visão dos diretores, um disco ao vivo não seria vendável. Mas JB apostou no seu faro e resolveu bancar do próprio bolso. E o local escolhido para sua realização não poderia ser outro: o Apollo Theatre, o templo da música negra, situado na 125th street, no Harlem, onde o cantor já se apresentara desde 59, algumas vezes como headliner, e cuja platéia era famosa por sua exigência. 
Brown entra no palco, “Eu sabia que ia ser um daqueles dias”, disse ele em sua autobiografia sobre esse momento, sob aplausos dos 1500 privilegiados que estavam presentes na platéia, gritando em vibrato "You know I feel all right" e dá o tom para a guitarra de Les Buie dar inicio a “I’ll go crazy” e a banda, sob o comando do trompetista Lewis Hamilin, que havia ensaiado exaustivamente cada número nos ensaios e apresentações que antecederam a gravação, parte em ritmo frenético (diz a lenda que a multa que o Godfather aplicava aos músicos que erravam as notas, nessa ocasião estava multiplicada) em meio a síncopes e grooves marcantes e os gritos e falsetes do cantor. Sem tempo para respiro, antecedida por uma vinheta instrumental que servirá de ponte para o intervalo entre as primeiras músicas, a balada “Try me”, primeira canção do artista a figurar no topo das paradas, entra em cena com a bonita e marcante voz rouca e açucarada de Brown nos mostrando o quando há dele em cantores que se seguiram (Steven Tyler é um exemplo flagrante), a seguir o ritmo volta a subir e a versão do cantor para “Think” surge com baixo pulsante e um frenético solo de sax de St Clais Pinckney. Delírio total. O funk começava a tomar forma. “I don’t mind”, outra balada arrasadora, que ganharia uma versão no disco de estréia do The Who , surge com a guitarra melancólica de Les Buir e um belo trabalho de vocais do Famous Flames, banda vocal de apoio do cantor que brilha em praticamente todas as faixas e curiosamente não foi creditada na capa desse disco. Os ecos gospels de “Lost someone” e seus mais de dez minutos de viagem performática com Brown fazendo a platéia cantar, gritar e levando o ouvinte a usar a imaginação para tentar visualizar os gestuais e performances do cantor no palco a partir dos efeitos produzidos na platéia, serve como um atestado do talento de JB como showman e o domínio que ele exercia sobre o público. No órgão Bobby Byrd, grande parceiro na primeira fase da sua carreira (reza a lenda que a família de Byrd assumiu a responsabilidade sob Brown para tira-lo do reformatório para menores infratores em que ele se encontrava na adolescência), fundador do Famous Flames e co-autor da canção, "When I sing the little part that might sting in your heart, I wanna hear you scream", ordena o pastor Brown aos seus discípulos, no que é prontamente atendido. Essa é a faixa que divide os dois lados do LP, o lado A termina nos seus 4 minutos e o B começa a partir de então, e era nessa pausa que os Discs Jokeis, que passaram a tocar o LP inteiro nas rádios a pedido dos ouvintes, aproveitavam para inserir os comerciais. Uma versão editada desse número foi lançada como single após o sucesso do disco. “Please, please, please”, o primeiro single de sucesso do cantor, e que serviu de base para os ensaios iniciais da banda MC5, abre e termina o medley de sucessos que se segue e que serve como amostra da habilidade do artista em agrupar canções e manipular apresentações. “Night train”, o single de sucesso da época, surge abravisivo e a banda dá a impressão de sair do chão num clímax final. O trem noturno de Brown, a banda e os Flames parte intenso pelas ruas do Harlem rumo às estrelas. Nota 10. 
Missão cumprida: em pouco mais de meia hora de frenesi, entusiasmo, precisão, carisma e alta qualidade musical, James Brown desfilou a seu modo o amor e o desamor de uma época. E mudou para sempre a cara da música pop. O melhor disco ao vivo da história da música fonográfica já estava gravado! Uma vitória da ousadia e da criação contra a mesmice e o pragmatismo. Um pouco de pressão, alguns cortes de partes que só funcionavam para quem estava vendo-o dançar no palco e a King resolveu lançar cinco mil cópias. Não deu conta. O disco foi para o segundo lugar da parada geral da Billboard. James Brown invadiu o maisntream. E nas paradas ficou por 66 semanas. Depois disso, ainda inventou o funk, fundou (ao lado do sempre presente Bobby Byrd) sua própria companhia de produção, gravou outros discos históricos (voltou a gravar mais dois no Apollo), passou por altos e baixos na carreira, se envolveu com questões sociais, prisões, deu à luz a uma série de "Browns" espalhados pelo mundo e se tornou uma lenda máxima da música. 
Hoje, mais de meio século depois daquela noite tensa, a Guerra Fria já derreteu, Estados Unidos e Cuba já reataram relações, os brancos já formam 10% da população do Harlem, James já desencarnou e o Apollo Theatre pertence ao Estado. Mas o explosivo “Live at Apollo” ainda permanece firme no panteão dos discos históricos. Uma prova inconteste da genialidade de um artista único! 
Right on! Are you ready?


(Texto: Leandro L. Rodrigues)



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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Cassia Eller - Com Você Meu Mundo Ficaria Completo (1999)








Em 1999, Cássia Eller acabava de vir de um projeto vitorioso. A parceria com Wally Salomão no disco e no show em homenagem a Cazuza, “Veneno Antimonotonia “ , dera certo, o que lhe rendera, além do respeito da crítica, que já enxergava nela uma das maiores cantoras daquela geração, uma maior abrangência de público. Mas seu mundo ainda não estava completo. Faltava-lhe um parceiro musical que lhe abastecesse o repertório, lhe ajudasse a direcionar melhor sua carreira a partir de então. Um parceiro que pudesse chamar de seu. Na mesma época, Nando Reis começava a perseguir horizontes maiores do que a carreira com o Titãs. Com um bem sucedido disco solo, "12 de janeiro" (lançado em 1995) e composições vitoriosas nos discos do Skank, Cidade Negra e Marisa Monte, sua habilidade como hitmaker já começava a tomar vulto, mas ele ainda não tinha uma intérprete na mão. Aquela para a qual o tom das suas músicas soasse exato. Nessas condições e com a afinidade musical e de personalidade entre os dois, o encontro deles só poderia resultar numa das parcerias mais bem sucedidas do pop brasileiro.De aplique nos cabelos, encarando a lente da câmera de Gringo Cardia (que também foi responsável pelo belo ensaio fotográfico que consta no encarte) e vestindo apenas uma camiseta de um clube de natação de Nova Jérsei - que virou objeto de culto entre seus fãs – e uma calcinha, a foto na capa de “Com você... meu mundo ficaria completo” já mostra uma Cássia diferente das de seus outros discos até então. Se bem que a mudança já foi sentida pelo público antes, pois antecedendo o lançamento do álbum, “O segundo Sol” invadiu as rádios e a MTV. Com um belo arranjo de cordas de Luiz Brasil – responsável pelos arranjos do disco – e uma interpretação acima da média de Cássia, o pop perfeito de Nando Reis, com sua letra enigmática, cuja indução profética combinava com as conversas sobre apocalipse que rondavam o ano 2000, tornou-se sucesso absoluto. No clip, que rodou à exaustão, a cantora aparece com a mesma caracterização da capa do disco. Finalmente, a vez dela chegara de verdade. A canção, que abre o álbum, superou o sucesso de "Malandragem" e firmou definitivamente seu nome no mainstream, e se em seus discos anteriores já constavam duas canções de Nando, esse era o primeiro golaço com a parceria realmente efetivada. “Não tem explicação”, conclui a letra de um dos grandes sucessos do ano, cujo sentido seus ouvintes não se cansam de tentar precisar. Se a possibilidade de um mundo completo começa com a sugestão de dois sóis, “Mapa do meu nada” vem a seguir cheio de dedos em becos cheios de bêbados, estradas cariadas e placas de contra-mão. “Não sou desses homens”, canta ela cheia de ironia a letra de Carlinhos Brown, sob o baixo pulsante de Fernando Nunes num rock funkeado que conta com a participação de Jussara Silveira nos vocais. O violão preciso de Luiz Brasil dá o tom e o Rio de Janeiro de batidão e pegação surge como cenário para “Gatas extraordinárias” ( mais uma que se tornou sucesso!), presente saído da privilegiada cabeça de Caetano Veloso para criar pérolas pop, canção que evidencia, com seus violões , a ótima percussão de Lanlan, a flauta de Zé Canuto e o cantar suavizado de Cássia, a influência que o álbum “Cor de Rosa e Carvão”, de Marisa Monte, teve na concepção desse trabalho. “Você não canta, mãe, você berra. Quem canta é a Marisa Monte”, disse-lhe o filho Chicão, na única vez em que a opinião de alguém teve peso no seu trabalho. “Um branco, um xis, um zero”, parceria de Pepeu Gomes com Arnaldo Antunes e Marisa Monte que resultou na melhor letra do disco, traz o ex-Barão Vermelho Maurício Barros no Hammond (que também toca em “O segundo Sol) e João Viana, filho de Djavan, na bateria e uma pegada que lembra mais os tempos da Cássia roqueira. “Só o cheiro do seu cheiro não consigo deixar para trás, impregnado o dia inteiro nessa roupa que eu não tiro mais”, conclui a cantora com o sacarsmo que sempre lhe foi peculiar antes da guitarra de Walter Villaça fazer um encerramento à la Nirvana. A faixa título, uma canção típica de Nando Reis, que parece até ter saído do seu "12 de janeiro", vem em seguida mostrando que os problemas cotidianos não são nada perto do amor. E quem não tinha percebido até então, com essa canção vai perceber que esse é um disco sobre o amor. “Palavras ao vento” começa com um belo Hammond de Paulo Calasans e é mais uma balada pop, parceria de Marisa Monte, dessa vez com outro novo baiano, Moraes Moreira, que virou clássico no repertório da cantora. Curiosamente o sucesso dessa música, que tem todos os elementos para ser um sucesso radiofônico e uma bem-sucedida trilha de novela (já foi de mais de uma) só aconteceu depois da morte da intérprete. Acordeón, xequerê, zabumba e triângulo e “Aprendiz de feiticeiro”, inédita de Itamar Assumpção, mostra que a Cássia fã da Vanguarda Paulistana, embora esteja mais pop, ainda está firme e presente. O belo acordeom de Chico Chagas marca presença embelezando também “Pedra Gigante”, inspirada na Pedra da Gávea, presente de outro tropicalista, Gilberto Gil, numa de suas belas canções de contemplação e amor à natureza, em que Cássia divide os vocais com sua mãe Nancy Ribeiro. O rock ressurge com “Infernal”, música com a qual o autor Nando Reis veio a batizar sua futura banda, e uma declaração de como a parceira tornou seu mundo completo. “Porque a era do futuro você trouxe pra mim, infernal!”, diz a letra esperta antes da levada rock, com baixo, guitarra e bateria fazendo um balanço arrasa quarteirão, desembocar um poderoso trabalho de metais. “Maluca”, composição do desconhecido compositor de Niterói, Luiz Capucho, fala da beleza das rosas e conta com um belo arranjo de cordas (Luiz Brasil acertou em todas nesse trabalho),a participação da família Morelenbaun e Cassia no cajón . O violão de Cassia dá a introdução e “As coisas tão mais lindas” dá ao disco outro momento de beleza pop. Mais uma de Nando Reis, reza a lenda que o projeto inicial da cantora era gravar um disco inteiro com músicas do novo parceiro, que também atua como produtor do disco, a bela balada é um dos pontos altos de um disco que não tem baixos e daria uma bela canção de encerramento. Mas “Esse filme eu já vi” fica responsável pelo desfecho do álbum. Com um clima jazz de fim de noite, a canção de Luiz Melodia, mais um compositor da época “Marginal” que marca presença, completa o trabalho com uma Cássia descontraída se mostrando mais experiente, mais completa e avisando: “Tô na rua!”. A fera estava domada, mas não completamente.Sem arranjos equivocados, sem regravações de hits, com um repertório inédito e de alto nível, que passeia através de seus compositores por alguns dos principais momentos do pop brasileiro, e uma produção impecável, “Com você... meu mundo ficaria completo” é de longe o disco mais bem resolvido artisticamente da cantora. Com ele, sua carreira ficou completa. Depois disso, ela ainda viria a se consagrar se apresentando no Rock in Rio, gravaria um acústico para MTV, que se artisticamente não acrescentou nada na sua carreira, serviu para eleva-la ao status de estrela, entraria numa maratona de shows e apresentações e morreria prematuramente aos 39 anos. A cantora que estreou em discos junto com a década e se tornou uma das suas vozes mais emblemáticas, terminava o período presenteando-a com um dos melhores discos gravado nesse tempo. Os anos 90 enfim estavam completos!



( Texto: Leandro L.Rodrigues)
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Djavan - Alumbramento (1980)







Djavan terminou a década de 70 como um compositor em ascensão. Depois de um destacado segundo lugar no Festival da Abertura em 1975, com "Fato Consumado", dois belos álbuns gravados e músicas interpretadas por cantoras do primeiro time como Nana Caymmi, Elis Regina e Maria Bethânia (a faixa título do vitorioso disco "Álibi" - o primeiro disco gravado por uma mulher a ultrapassar um milhão de cópias vendidas - é dele), o compositor tinha o respeito de seus pares, mas seu nome e sua voz eram ainda desconhecidos do grande público. Por isso, quando entrou em estúdio para gravar seu terceiro álbum, o ex-meio-campo do CSA, que não se profissionalizou no futebol porque queria viver de música, estava disposto a entrar para a seleção brasileira da música.
Diferente dos trabalhos anteriores, "Alumbramento" vem recheado de parcerias. O alagoano estava disposto a misturar, ampliar o alcance de suas composições e se integrar ao time dos grandes. O disco abre com chave de ouro: "Tem boi na linha", um samba sincopado, típico do Djavan do início da carreira, com letra do habilidoso Aldir Blanc falando das viagens cotidianas dos moradores dos grandes centros e citando em sua letra algumas estações de trem da Grande Rio. "Meu vai-e-vem parece o vai-e-vem do trem", canta Djavan, sob um poderoso arranjo e um naipe de metais que conta com Mauro Senise, Leo Gandelmann, Serginho Trombone, Bidinho e Victor Assis Brasil que iguala os balanços e sons da canção ao balanço e som do trem. "Sim ou não" é um blues bem típico do estilo que o músico seguiria nos próximos anos, com o baixo de Sizão Machado e um belo solo de piano do produtor Eduardo Souto Netto se destacando ao lado de beleza da voz do cantor. Logo a seguir, o dedilhado do violão de Djavan dá início à primeira obra-prima do disco: "Lambada de serpente" chega trazendo o seu lado nordestino/cantador com uma bela viola de 12 cordas tocada por Ari Piassarollo, o acordeon de Gilson Peranzetta, um magistral coro popular e uma primorosa letra do poeta Cacaso falando de traição e desilusão. "Lambada de serpente, a traição me enfeitiçou". Golaço! Na sequência, samba e Chico Buarque, de voz presente, dividindo os vocais da deliciosa e bem-humorada "Rosa", uma de suas grandes letras da década de 80, cheia de jogos de palavra e enganos."Artista, é doida pela Portela
Ói ela,Ói ela, vestida de verde e rosa, a Rosa." Nota dez. Grande tabelinha de dois talentos ímpares da MPB em mais um clássico! "Dor e prata" encerra o lado A com arranjos de Oscar Castro-Neves e uma letra característica do compositor que rodopia em torno da bela melodia. O Lado B se inicia com um dos grandes momentos da carreira do músico e do pop brasileiro pós-anos70: "Meu bem querer" surge com os arrebatadores arranjos de Wagner Tiso (responsável também pela regência da orquestra e o belo piano), sua melodia marcante e letra sofrida, direta e sem metáforas, algo raro em seu estilo, cantada de maneira emocionada pelo seu compositor, que também ataca no ovation e acariciada pela guitarra blues de Ari Piassarollo,. Clássico instantaneo, a música entrou para a trilha da novela "Coração Alado" (numa época em que as trilhas de novela eram capazes de determinar o destino de muitas músicas) e se tornou rapidamente um sucesso popular.O iluminado compositor agora se tornava também uma figura conhecida das massas. Citada como música do ano, a canção tornou-se um marco na carreira do cantor, que chegou a grava-la algumas outras vezes, mas sem repetir o exito da gravação original. Na sequência, "Aquele um", mais uma parceria com Aldir, tem uma letra típica dos sambas da dupla Bosco/Blanc, mas conta com um equivocado clavinete tocado por Luiz Avellar. Os anos 80 estavam começando. "Alumbramento", faixa-título, é mais uma parceria com Chico Buarque, uma balada bem no clima Djavan que termina com a sua marcante vocalização em falsete. "Triste baía da Guanabara", parceria de Cacaso com Novelli (presente também tocando um excepcional contrabaixo) fala também de desilusão, numa brincadeira com "triste Bahia" de Gregório de Mattos (e que Catano Veloso havia musicado magistralmente no clássico "Transa") e um belo trabalho de intérprete do cantor. "Sururu de capote", música que daria nome à banda de apoio do artista, fecha o disco em grande estilo. Num clima parecido com o da faixa de abertura, o contagiante samba traz o violão de Djavan e sua peculiar divisão integrados ao belo trabalho da banda (com Eduardo Souto Netto no piano elétrico e Chico Batera na percussão e dessa vez com o clavinete de Avellar bem colocado) e letra com falas e costumes típicos do Nordeste que encerra concluindo: "Em São Paulo é bom, mas como lá eu não vivo. Vou pegar um ônibus, vou rever meu umbigo". 
"Alumbramento" é um disco inspirado e com uma certa dose de tristeza. Numa carreira feita com cores, pode-se dizer que é o disco prata (dor e prata) de Djavan. Do trem de abertuta ao ônibus do encerramento, o compositor, de semblante triste e caminhar pensativo na capa, relatou, entre sambas peculiares e baladas cheias de estilo, suas tristezas e desilusões amorosas, no interior e nos grandes centros. Decidiu-se por voltar e rever seu umbigo, não voltou. Nem havia como. O alagoano agora já havia gravado sua obra-prima, se consagrado como compositor popular e reconhecido como intérprete. Ainda no mesmo 1980 gravaria outro disco clássico pela Odeon (o obrigatório "Seduzir") e no ano seguinte assinaria contrato com a CBS (Sony) partindo para uma carreira de luz internacional, se encantando com o pôr-do-sol em Los Angeles e conquistando fãs do naipe de Stevie Wonder, Quincy Jones, Al Jarreau, entre outros, tornando-se mundialmente reconhecido como um dos grandes craques da vitoriosa música brasileira.
Mas é no alumbramento se sua fase inicial que se encontra a força de seu poder criativo.



(Texto: Leandro L. Rodrigues)
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David Gilmour- Rattle that lock tour 11 e 12 de Dezembro de 2015 Allianz Parque








Há muito tempo estou em dívida com os leitores deste blog, principalmente com o seu idealizador e mantenedor; que há tempos vem me cobrando um novo texto. Confesso que escrever para este espaço não é tarefa fácil, primeiro pela escolha do tema , haja vista a grande variedade de assuntos aqui abordados; mesmo que a maioria se refira ao mundo da música, segundo pela qualidade dos textos aqui publicados  o que exige certos cuidados para não poluir um espaço que a cada dia se expande em quantidade e qualidade.
       Apesar da minha insegurança resolvi escrever sobre um evento que marcou para mim, e creio que para muitos, o ano de 2015. Apesar de termos tido nesse ano que se encerrou uma variedade de espetáculos importantes, a lista de shows que passaram por São Paulo foi fechada com chave de ouro.
       No dia 11 de Dezembro de 2015 a cidade recebeu , para o delírio de milhares de fãs, um dos shows mais aguardados do ano: David Gilmour, o lendário guitarrista do Pink Floyd, desembarcou em São Paulo com a tour do seu último álbum Rattle that lock . Para os que presenciaram esse grandioso espetáculo creio que dificilmente o esquecerão.
        Aqueles que, assim como eu, são aficionados pela música do Pink Floyd tiveram a oportunidade de presenciar um momento mágico e inesquecível propiciado por um artista legendário e o timbre inconfundível de sua guitarra acompanhado por uma voz única e inalterada, apesar do peso dos anos que, assim como faz com os bons vinhos, a tornam cada vez melhor.
     Não cabe aqui fazermos comparações com o seu ex-companheiro de banda que por aqui já passou, ambos representam a essência do Pink Floyd, embora seja nítida a diferença entre os espetáculos dos dois, igualmente gênios: a teatralidade de um e a sobriedade do outro são características impossíveis de não se notar, porém tanto um quanto o outro sabem como poucos artistas elevar o nosso espírito com uma música que ultrapassa os movimentos e os modismos e encanta gerações.
       Quem esteve nos dias 11 e 12 de Dezembro no Allianz Park em São Paulo e também em outras cidades por onde a turnê passou teve a oportunidade de se emocionar com clássicos do Pink Floyd  como “Us and them”, “Money”, a avassaladora “Shine on you crazy diamond” entre outras obras primas, assim como também  comprovou que a criatividade musical desse grande artista não diminuiu com o passar dos anos o que ficou claro com as músicas de sua carreira solo que fizeram parte do set list, principalmente as do seu último trabalho “Rattle that lock” cuja canção homônima abriu o show levando a multidão ao delírio.

      Enfim, não quero me alongar divagando sobre o óbvio, simplesmente gostaria de marcar o meu retorno a este espaço dividindo com os amigos leitores a empolgação e emoção que senti por ter presenciado um dos maiores espetáculos dos últimos anos e ressaltar para as novas gerações a relevância deste e outros artistas que, apesar de não permanecerem constantemente sob os holofotes da grande mídia, fizeram a história da música revolucionando as concepções artísticas do século XX, tanto aqueles que ainda estão entre nós como aqueles que partiram quando ainda tinham tanto a oferecer.


(Texto: Nilton Aquino)
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Resenha: Ritual I - A vida segundo os elementos do Hip Hop


Banda/Grupo: Zafrica Brasil
Álbum: A Vida Segundo os Elementos do Hip Hop
Nacionalidade: Brasil
Gênero: Rap/Ragga/Reggae
Gravadora:Independente
Ano: 2015
Nota:9.5

Track List:

1. Ritualístico
2. A Vida Segundo os Elementos do Hip Hop
3. O Rap é grande
4. O Professor Esta de Volta
5. Fiksão
6. Terrorista/Parte 1
7. Família 
8. Temos que Lutar
9. Pra quem qué ...
10. Sem Dizimo do Frei
11. Pra onde Vamos
12. Força 
13. Rústico

O Rap rouba a cena!!!
Já ouviu esta expressão em algum lugar ? pois é não é apenas uma expressão vazia pois se falarmos em cenário musical um dos  estilos que cada dia ganha mais adeptos e admiradores é o Rap, desde a influencia de Mano Brown  quando disse em uma de suas músicas “Seu filho quer ser preto há que ironia, cola o poster do 2 Pac ai então o que me diz, este não é mais seu o subiu tomei pelo seu rádio sem nem viu”  fez a profecia o Rap ascendeu saiu dos guetos, favelas e comunidades pobres para o Business, e para o grande Hall da música nacional e internacional, se analisarmos os artistas que mais vendem atualmente veremos que  alguns deles são  oriundos do Rap, ou até mesmo é um  Rapper até hoje, há quem goste há quem não goste, e prefira viver a margem da grande mídia musical e seguir sua caminhada como grupo de Rap independente.

É exatamente deste segundo tipo de músicos que estamos falando, com 20 anos de estrada, muito respeito na cena underground de musica e no cenário Hip Hop em geral, o Zafrica Brasil nos presenteia com um álbum simplesmente impecável que agradara o publico em geral. Trata-se do °5 álbum de estúdio  intitulado “Ritual I - A vida segundo os elementos do Hip Hop”; tudo nesta obra foi pensado e trabalhado para agradar o apreciador de música de qualidade desde o formato em digipack,até a capa que mescla elementos do Hip Hop com elementos tribais dando um ar de ritual mesmo ao disco,que nos traz uma musicalidade que mescla alguns estilos musicais como  Reggae ,Ragga, e Rap que é o que predomina, além de misturar diversos aspectos de outras musicalidades em suas batidas, assim o grupo consegue atingir um grau de originalidade muito grande e muito peculiar, o álbum começa  com uma bela poesia recitada por Gaspar, chamada Ritualístico que de certa forma fala sobre todas as músicas que compõem o trabalho do grupo além de servir como uma previa do que esta por vir, ao todo são 13 musicas dentre estas destaco as seguintes,  A vida segundo os elementos do Hip Hop , que possui uma batida envolvente e contagiante com uma letra que simplesmente da uma aula do que é o movimento Hip Hop e o que sua cultura; Fiksão música que faz alguns trocadilhos com a realidade , possui uma batida mais lenta, mais simples porém aborda o tema do vicio em crack e fala de diversas coisas que ocorrem com o usuário, com um refrão que fixa na mente acompanhada dos squats , passando uma ótima mensagem para o ouvinte.
Em todos os aspectos o álbum agradara tanto quem gosta de Rap quanto quem não esta muito familiarizado ao estilo, como o próprio grupo prega o Rap liberta, então liberte sua mente das amarras de estilos e procure ouvir  trabalho dos caras pois esta simplesmente imperdível. 









Formação atual 
Funk Buia  
Gaspar  
Pitchô 
Dj Tano



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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Heavy Lero - O Bom Gosto Prevalece







Para os saudosistas do “Fúria Metal” e “Musikaos” um alento; o apresentador dos lendários programas, Gastão Moreira, volta a comandar uma atração direcionada para a música, evidentemente uma de suas maiores paixões. Talvez por isso, sem apoio e feito na raça já esteja na terceira temporada. No primeiro ano,  dividiu o comando da atração com Bento Araujo (Editor da Revista Poeira Zine) e, a partir da segunda temporada conta com Clemente, lendário personagem da cena Punk Rock Paulista e vocalista dos Inocentes.
Felizmente hoje, podemos dizer que a internet corrobora a favor dos que não possuem espaço  nos canais convencionais de TV, seja aberta ou a cabo. Pelo talento e carisma de Gastão, não haveria dúvidas de que poderia produzir ainda algo relevante em qualquer emissora, mas optou pela total independência e “Heavy Lero” é a prova disso. Ainda muito aquém da merecida audiência, mas com conteúdo de primeiríssima qualidade os episódios possuem em média quinze minutos. Muito bem editado, e se utilizando de irreverência e muito bom gosto, consegue passar a limpo a carreira de muitas bandas e artistas que fizeram a diferença na música mundial.
É inquestionável a influência de Gastão Moreira para muitos que viveram os tempos áureos do “Fúria”, mas Gastão foi além e mostrou que a música de qualidade independe do estilo. Não por acaso provou isso no “Musikaos” onde democraticamente se apresentavam Duofel e Krisun, Olho Seco e Cássia Eller sem perder um pingo de sua credibilidade. Por essa é por outras que “Heavy Lero” deve ser prestigiado por todos que gostam de música, independente do estilo. A república Kazagastão vem se mostrando uma das mais democráticas e abertas nesse sentido.


(Texto: Robério Lima)


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Grand Funk Railroad - On Time





O Grand Funk Railroad esta inquestionavelmente entre as bandas mais importantes do rock n’ roll  Americano  e produziu obras do quilate de” E Pluribus Funk”– o clássico disco da moeda e “We Are An American Band”, pra ficar apenas em dois exemplos, pois a obra desse power trio americano vai muito além desses dois álbum. Talvez subestimado e muitas vezes esquecido na lista dos melhores álbuns da banda está “On Time” o debut que já trazia toda energia e pegada característica de suas performances esmagadoras tanto em estúdio como no palco.
Ouvindo a bolacha, dá para se perguntar se são apenas três integrantes tamanha a massa sonora produzida por  Mark Farner, Don Brewer e Mel Schacher.
O álbum já abre com “Are You Ready”, rock enérgico e sem firulas, já na sequência a “arrasa quarteirão” “Anybody’s Answer” e seu refrão impossível de não cantar junto. O disco segue seu curso inspirado com “Time Machine” e passa pelas cadenciadas “High On A Horse”,”TNUC” (que conta com um solo endiabrado de Don Brewer),e  “Into The Sun” até chegar a uma das músicas mais clássicas da carreira da banda “Heartbreaker”. Se o álbum terminasse aqui, seria apoteótico, mas lenha não faltava  e mais três faixas sacramentam o futuro mais que promissor da banda: “Call Yourself A Man”, “Can’t Be Too Long” e “Ups And Downs”.
 Bom, analisando toda a carreira da banda sabemos que foram mais de altos do que de baixos. Talvez por isso, mesmo sendo tão bom, “On Time” não figure entre os mais lembrados. Se ainda não ouviu esse disco, estará perdendo ótima oportunidade de conhecer o que de melhor o rock americano nos ofereceu.


(Texto:Robério Lima)

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sábado, 6 de fevereiro de 2016

A Regra Do Jogo - Crise No Horário Nobre







Quando as primeiras chamadas de “A Regra do Jogo” foram veiculadas entre os intervalos da já sem salvação “Babilônia”, algumas expectativas começaram a crescer diante da perspectiva de que teríamos um produto mais consistente. Tendo como referencia “Avenida Brasil”e considerando o elenco que tem em suas primeiras fileiras atores que vem de trabalhos bastante elogiados,(vide Cauan Raymond e Alexandre Nero, ou os já tarimbados Tony Ramos e Suzana Vieira). A novela tinha tudo para ser um sucesso. Tinha...
Sendo considerado um dos principais novelistas da Globo, João Emanuel Carneiro foi catapultado para o seleto time de autores responsáveis pela faixa das nove após sucessos com “A Cor Do Pecado” e ``Cobras & Lagartos``. Estreou na principal faixa de novelas com ``A Favorita´´, que já trazia algo de inovador para o horário. Sua parceria com Amora Mautner foi muito festejada em ``Avenida´´, mas o sucesso estranhamente não se repetiu. Alguns fatores mostram o porque de ``A Regra Do Jogo`` não ser um sucesso. Vamos a eles:  
De cara ficou evidente que o autor requentou personagens e núcleos já vividos em outros trabalhos de sua autoria. O enredo do folhetim é bastante confuso e possui muitos pontos que não se encaixam. A história em si já é um “balaio de gato” sem precedente, pois por mais que tentem passar despercebidas, muitas perguntas ficam no ar. O núcleo da favela se entrelaça com o da cobertura decadente de forma inusitada mas não influenciam quase nada na trama principal, que por si só, já é algo bem difícil de entender.
E os atores? Estão sendo subaproveitados? Não sei dizer ao certo mas, a interpretação de muitos ali está aquém do que já apresentaram em outras oportunidades, talvez por não encontrarem força em suas personagens. Algumas exceções devem ser destacadas, como é o caso de Tônico Pereira e o seu Ascânio, que já é uma versão do Nilo, vivido por José de Abreu em “Avenida Brasil”. Aliás, “O Pai”, também vivido por José de Abreu, é um caso à parte, pois controla uma facção que foi criada a partir de um trauma vivido por sua família em uma ocasião de  violência sofrida  por parte de bandidos que invadiram sua casa.
O que fica claro no final das contas é que um certo desespero em produzir algo realmente atrativo vem fazendo com que se dê muitos “tiros na água”. Hoje o telespectador já não fica mais refém de fórmulas (não é uma regra, mas as alternativas em detrimento da tv pululam diante dos olhos. YouTube, Netflix e outras opções aparecem a cada instante). Por isso, a hora é de repensar a estratégia, pois não estamos mais nos tempos em que uma novela das nove ultrapassava facilmente cinquenta pontos no Ibope.
O que resta, é torcer para que os autores e o núcleo criativo da “plim plim” revejam a forma de fazer novela e mantenham o status de referencia em teledramaturgia, pois não podemos negar que em matéria de novelas a emissora carioca possui grande expertise. Não por acaso exporta para vários países do mundo. 


(Texto: Robério Lima)
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Mad Max - Fúria Sobre Rodas






Com baixíssimo orçamento e com um ator praticamente desconhecido, Mad Max estreou na Austrália, seu país de origem, sem muitas pretenções. Afinal, poucas produções desse país alçaram até então,  vôos maiores fora de suas fronteiras. Com poucos recursos, mas com o talento do jovem Mel Gibson e condução do também estreante e inquieto George Miller, esse filme ganhou fama e se tornou cult entre os amantes da sétima arte, e de quebra, deu origem a mais duas sequências não menos impactantes.
A historia é ambientado em um futuro não muito distante e o mote principal da fita gira em torno da escassez de combustível, o que cria vários delinquentes possuídos por uma violência em muitos momentos até caricata e descabida. Aliás a violência da as cartas, e por isso,muitas partes foram censuradas em alguns países onde o filme foi exibido tamanha a quantidade de cenas se utilizando desse recurso.
Quando Mad Max estreou nos cinemas, o gênero faroeste já não fazia sucesso como o fez em tempos passados, mas não dá para dissociar as inúmeras características que fazem referencia a esse gênero tão cultuado em outras épocas. Até o perfil do protagonista possui ares de “cavaleiro solitário” em busca de justiça a qualquer preço e com sede de vingança. No final de tudo isso chegamos à conclusão de que não dá para ficarmos passivos diante de tamanha ousadia e criatividade do jovem diretor e da interpretação marcante de Mel Gibson, que viria a se tornar um dos maiores e mais importantes atores de sua geração. Mad Max pode ser consumido sem moderação e é recomendado para os que procuram cinema de qualidade, reflexão e entretenimento puro e simples...


(Texto: Robério Lima)



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